Can – Ege Bamyasi (1972)

Eu descobri o Can pelo caminho errado.

Em 1994, o primeiro disco que ouvi dos caras foi o fraco Landed (1975), álbum de entressafra do grupo, muito mais puxado para os arroubos guitarristicos dentro de uma concepção de rock progressivo que abomino com todas as forças.

Depois de quase uma década, redescobri o Can do jeito certo. Ouvindo a sequencia monstruosa que eles construíram entre 1971 e 1973, mais precisamente os álbuns: Tago Mago, Ege Bamyasi e Future Days.

E como se diz a boca pequena: ai sim!!!

Tudo fez sentido.

O rock alemão, ou “krautrock” começou a fazer algum sentido.

O Can era uma banda estudada, de gente sabida que ouvia coisas difíceis e queria fazer um rock “first class” e que por um breve período de tempo, certamente foi responsável pelos mais sofisticados, modernos e avançados sons dos anos 70.

E olha que a década foi bem foda.

Tudo acontecia ao mesmo tempo, mas o Can permaneceu sob uma áurea intocável e inquebrantável dentro da avant-guarde.

Pra falar a verdade, quase todos grupos dessa época do rock alemão mantiveram a moral alta e gigantesca reputação perante as gerações que os sucederam e procuraram se espelhar em seus experimentos para criar novas possibilidades dentro da música pop.

Se a trinca: Led Zeppelin, Deep Purple e Black Sabbath é a mais lembrada da década de 70, desculpe jogar água no chope de vocês, mas pra mim: Can, Neu e Faust são infinitamente mais importantes e mais influentes para os bons sons futuros do que a trinca mofada do hard rock e metal ingleses.

Não troco o lado A do Faust IV por nada que o Deep Purple tenha feito (pra falar a verdade o único álbum que me interessa do Purple é o incompreendido Come Taste The Band).

Ege Bamyasi é pesado, direto, experimental e carrega no seu gene a inquietação necessária da urgência sonora, somada ao altíssimo grau de erudição de seus integrantes em incorporar ruídos, dodecafonia e bizarrices sonoras promovidas por músicos eruditos contemporâneos como Stockhausen e Steve Reich.

Menos viajante que Tago Mago, o Can fez canções mais curtas para esse trabalho, alternando com duas longas viagens ao reino da insanidade sonora em Pinch que abre o disco e principalmente em Soup e seus mais de 10 minutos de bagunça devidamente orquestrada.

Mas o fino do álbum e que faz dele inesquecível estão em 3 gloriosas canções: a deliciosa e funkeada Im So Green e principalmente nos dois “hits” do álbum: Vitamin C, atualíssima, parece ter sido gravada anteontem com sua bateria frenética, vocal gritado e que poderia frequentar qualquer lista de canções avançadas mais importantes da historia do rock e Spoon, canção construída sob uma única nota, com progressões de instrumentos que vão se alternando e transformando-a num dos clássicos dos anos 70.

Ege instigou como poucos, uma nova geração de artistas que o escutaram com atenção e que promoveram sua perpetuação sob diferentes formas e variações: pra citar alguns influenciados: Wire, Pil, Pere Ubu, The Fall, Tortoise, Trans Am, Flaming Lips até chegar em Animal Collective e Tv On The Radio devem muito ao Can.

Influente e poderoso, viva o trabalhador da musica alemã.

 

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