Belchior – Alucinação (1976)

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Demorei muito pra encontrar esse amalucado senhor.

Quando mais jovem, eu achava Belchior um saco.

Sabia que ele era bom compositor, mas devido a minha hojeriza pela “MPB” que me acompanha há algumas decadas, nunca dei bola pra ele.

Mas um dia a ficha caiu, faz pouco tempo é verdade, mas caiu.

Tentei escutar outros discos dele, mas realmente nenhum me comoveu tanto até chegar nessa obra-prima Alucinação.

Compositor singular, capaz de enfiar mais palavras do que caberiam numa respiração e mesmo assim nenhuma vogalzinha delas deveria ficar de fora é dificil de ser entendido e querido assim de cara, e acho que quase todo mundo conheceu o homem através da voz de Elis Regina e sua versão arrasadora de Como Nossos Pais, que deve ter sido uma das primeiras letras de música que consegui decorar quando criança.

Esse tipo de volúpia pela palavra, a não edição ou a simples opção em não abdicar do sentido em prol da melodia deve ter dado um trabalho pra produtores, arranjadores e músicos que acompanharam o nosso bardo ao longo dessas décadas, e olha que esse disco ela ta muito bem acompanhado.

É difícil rotular esse álbum como MPB, acho que Alucinação tá mais para um “folk a brasileira”, um Dylan perdido na loucura tropical no meio de um regime militar que começava a fraquejar e com uma sintonia muito fina com a juventude universitária daquela época.

Algumas canções que ele escreveu eram a perfeita tradução desse período estranho, senão o que dizer de Velha Roupa Colorida, Como Nossos Pais e a brilhante Sujeito de Sorte? Ah, e ainda tem aquela do rapaz latino americano começando a bagaça, vcs sabem “Eu sou apenas um rapaz… latinoamericano sem dinheiro no banco” e por ai vai.

Belchior é um som muito “Puc”, muito “Diretórios regionais de Humanidades da Federal de Sei lá Onde”, muito “Jogos Estudantis”, muito “Maconha e liberadade”, mas tirando todos os rótulos que normalmente acompanham o grupo de pessoas que curtem o cantor, o disco é incrível, sensacional e com um conjunto de letras que não tem par na música brasileira, talvez Raul Seixas com O Novo Aeon e um Chico Buarque em Construção estejam próximos mas fora esses, não tem pra ninguém.

Busque ai A Palo Seco ou Alucinação pra comprovar a minha tese. Se não bastar, Sujeito de Sorte encerra a questão.

Se não bastassem as letras, os arranjos e o som quente desse disco são sensacionais, um violão tocado ao estilo folk, com palheta, com uma caixa de bateria muito boa, teclados e orgãos a cargo de Jose Roberto Bertrami (Azymuth, dentre outros), se as letras não fossem incríveis, as músicas são incriveis e até o vocal estranho e desajeitado de Belchior colam muito bem nos ouvidos, causando o estranhamento e a conquista auditiva a longo prazo.

E um detalhe que eu não tinha reparado e me foi chamada atenção por um cara num churrasco de um amigo, e que também é grande fã do disco, é o “escorpião” na contracapa desenhado por cima do titulo e do nome do cantor no lado esquerdo.

Fui procurar por ai na internet se tinha alguma referencia sobre essa peculiaridade e descobri que não existe nenhuma referencia a esse desenho. Será que ninguém quis saber? Nem os estudiosos de música brasileira acharam essa brisa muito louca?

E nem ele tá mais por ai pra explicar!

Discasso!

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