Coisas que a gente passa a gostar depois de velho.
Publicado; 29/11/2015 Arquivado em: Música Deixe um comentário“Jovens, envelheçam”, já dizia Nelson Rodrigues no auge de sua sabedoria.
Envelhecer é legal, e esse tempo todo no Planeta Terra te ajuda a repensar coisas, repensar conceitos e pré-conceitos e amolecer seu coração para coisas que nunca imaginei que fosse aceitar, gostar e ouvir com gozo no seio do meu lar.
Artistas ou discos que eu execrava quando jovem, fazia pirraça, tirava sarro, achava a coisa mais cafona e careta do mundo, de mau gosto e de repente me pego ouvindo e curtindo pra caraca…
Estava errado eu? Está errado o timing? Será que tudo isso já era bom o tempo todo e eu não tinha dado conta? Ou será que tempo demais perdido tentando entender o nosso tempo e a música do nosso tempo me fez enxergar ou perceber que a segmentação atrapalha mais do que ajuda e que talvez a bundamolice da atual geração só ressaltou o brilhantismo desses artistas?
Enfim, fato é que de repente todos esses caras abaixo viraram gênios para minha pessoa e seus discos poderiam ter sido lançados essa semana que ainda sim, seriam muito melhores que todos esses modernos Jamies Ts da vida ou o cara que ganhou o Mercury Prize esse ano, que nunca vi mais gordo.
Aí vem eles:
Vangelis – Heaven And Hell (1975)
Tecladista oriundo do grupo de rock progressivo grego Aphrodite’s Child, Vangelis fez carreira mundial compondo trilhas sonoras e temas que vagam pelo “soft-progressive rock” e o “new age”, passando por música clássica contemporânea e eletrônico.
Fez fama e glória nos anos 80 com as marcantes trilhas de Blade Runner, Missing e a inesquecível Carriots of Fire (esse tema é usado até hoje quando alguém precisa de uma vinheta para ilustrar um grande atleta ou uma grande vitória olímpica).
Heaven And Hell foi seu 5o álbum e é o meu favorito dele. Começa pesado, quase num rock e tem na faixa 3 a incrível Movement 3, usada na abertura da clássica série de TV Cosmos.
Jean Michel Jarre – Oxygene (1976)
Outro que eu escutava e achava um lixo. Música de burguês e mauricinho. Quando eu cresci era comum assisti-lo em seus “shows de luzes”, o que para um aspirante a roqueiro era a ultima coisa que eu queria na minha vida.
Nada melhor que o tempo, um pouco de paciência e ouvidos para perceber que Jean Michel avançava com a revolução eletrônica de antecessores que ficavam entre o erudito e o popular, mas não alcançavam as massas. O bonitão Jean Michel conseguiu.
Oxygene foi seu primeiro álbum a ter alcance internacional, e a sua “sinfonia” eletrônica indefinível, ajudou a indústria a criar uma nova categoria de música que ficava entre o progressivo, a new age e o pop. Ainda hoje, é difícil de classificar, mas depois de entender o espirito não dá pra desgostar.
Quer uma prova que ele é relevante, dá uma olhada no vídeo abaixo que diz respeito ao seu mais novo álbum Eletronica Vol.1 – The Time Machine e se o ditado “diga-me com quem andas..” servir pra alguma coisa, o homem tá bem acompanhado demais.
Mike Oldfield – Airborn (1980)
Não sei exatamente o que me levou a esse álbum, eu tinha referencia do Mike por conta da trilha do Exorcista, o seu fabuloso Tubular Bells, mas quando cai nesse disco espetacular lançado em 1980 fiquei chapado.
Pop eletrônico de primeira, feito por adultos para gente adulta. Estacionei uns bons meses nele, me deliciando com as texturas e principalmente com as suavidades pop de canções como Into Wonderland e Punkadiddle.
Fez e ainda faz a alegria do meu toca-discos toda a vez que boto essa belezinha pra tocar.
Enya – Orinoco Flow (1988)
Não vou tentar explicar o que me fez ouvir essa musica de novo e nem vou conseguir explicar porque eu passei a gostar dela hoje, mas garanto aos amigos e familiares que minha sanidade está bem, não sofro nenhuma doença mortal e nunca assisti ao programa da Fátima Bernardes, logo não fui lobotomizado pelo vazio contemporâneo.
Acho que estou mole, dei uma chance ao azar e no fim descobri que a Enya não é o fim do mundo que eu sempre achei que fosse. No fim das contas, acho que ela faz uma música mais poderosa que a Florence & The Machine e a Lana Del Rey juntas.
E ainda sim, ela continua sendo a Enya, que fique bem claro.