Melhores de 2015? Até que teve, viu?

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O ano de 2015 vai terminando de maneira melancólica, triste e to aqui segurando aquele saco de papel só em caso do vômito eminente.

Deixo de lado as discussões sem fim e mantenho o foco no que realmente interessa nesse negócio que é música boa e estranha e deixo essa baboseira de esquerda x direita / coxinha x petralha / Reinaldo Azevedo x Sakamoto pra quem tiver estômago ou paciência.

2015 foi tão ruim no geral quanto o foi ano passado mas incorrigível otimista que sou, achei algumas coisas que deixaram o 2015 não tão intragável assim e até bom!

Então lá vai:

  1. Cannibal Ox – Blade Of The Ronin

O Cannibal Ox apareceu no começo dos anos 2000 propondo sofisticação e brutalidade ao rap. Com barulhos nada convencionais e uma abordagem artística diferente, fizeram um primeiro álbum sensacional e mesmo com uma volta cascuda como esse Blade in The Ronin, nem no mundo dos rappers os caras se fizeram ser notados. Algo estranho, ou ninguém ouviu esse petardo, ou meus conceitos de rap bom estão com os dias contados. Ou a concorrência tá tão feroz e tão articulada com o primeiro time do pop (vide o jabaculê featuring Kendrick Lamar que de tão unânime até com a Taylor Swift o cara fez som) que nem a velha guarda tem mais respeito. Ou uma hipótese mais provável, ninguém escuta mais nada!

 

  1. Miley Cyrus – Miley Cyrus & Her Dead Petz

Há muito tempo que as menininhas crescidas no berço Disney tem atitude mais rock and roll que todos os moleques roqueiros contemporâneos de artistas como Miley Cyrus, Carly Rae Jepsen (outra boa surpresa de 2015) ou Demi Lovato. Miley, aos 23 anos resolver tocar um belo dum foda-se e lançou ao lado de seus novos gurus Wayne Coyne (que co-produziu o álbum) e Ariel Pink, um disco asqueroso e esquisito (os adjetivos visam qualificar essa obra). Numa trombada de Flaming Lips com eletronico pesado e experimental, esse áblum fez com que o mundo adulto prestasse atenção em Miley de um jeito diferente. Não, ela não precisou ficar cafona ou cantar jazz pra ser reconhecida como artista de renome e não precisou pagar peitinho ou botar cinta de pica (isso ela deixa para fazer no palco). Seu publico já sabe que ela é doida e canta bem, mas agora todo o mundo precisa sacar que por trás de toda a pose, existe realmente uma artista com bolas e capaz de soltar um disco desse sem culpa e sem pedir licença pra ninguém.

 

  1. Jean-Michel Jarre – Electronica, vol.1

Nunca me imaginei colocando Jean-Michel Jarre numa lista de melhores de 2015. Quem diria! Fato é que ele conseguiu algo no mínimo histórico: juntar sobre o mesmo guarda-chuva musical, artistas do calibre de Pete Townshend (The Who), passando pelo produtor Moby, pelos tarimbados Air, 3D (Massive Attack) e Armin Van Buren, seguindo e sugando a nova geração do pop eletrônico como Little Boots e M83, e chegando a participações surreais e improváveis de Laurie Anderson, do pianista Lang Lang e do diretor de cinema John Carpenter. Outra beleza é sua track com a lendária Tangerine Dream. O intuito é tentar construir um mosaico sonoro eletronico que se não aponta o que vai ser o futuro (ele já fez isso nos anos 70), ajuda a mapear as possibilidades com coração e almas humanas. Surpresa total de 2015.

 

  1. Wire – Wire

O Wire é banda do coração. Vanguarda acima da vanguarda, o Wire conseguia fazer “art rock” sem parecer que estávamos batendo com a cabeça na parede. O Wire lançou entre 1977 e 1979, 3 discos inigualáveis: Pink Flag, Chair Missing e 154 são clássicos e já bastam para transforma-la na banda mais inimitável da historia. Eram punks, eram pós punks e eram new wave tudo ao mesmo tempo. Carregam o gene de Velvet Underground, seguem lado a lado do Talking Heads mas diferente dos dois, ainda estão vivos e fazendo ótimos discos. Esse homônimo é surpreendente e muito melhor que Red Barked Trees de alguns anos atrás. Mais lento, e em alguns momentos até mais “careta”, Wire consegue ser áspero nas guitarras, doce nas abordagens e soar como uma ótima guitar band deveria soar nos dias de hoje.

 

  1. Earl Sweatshirt – I Don’t like Shit, I Don’t Go Outside

Depois de Kanye e Run The Jewels, Earl Sweatshirt é o meu rapper favorito. Disco pesado, podre e em velocidades estranhas. I Dont Like… é sombrio, lento, com sonoridades ousadas para um artista de peso que Earl tem se tornado. Olhando pro futuro, Earl deixou seu passado com o Odd Future e constrói uma carreira discográfica ambiciosa e muito sadia.

 

  1. Shilpa Ray – Last Year’s Savage

Rock and roll simples, mas nem tanto. Meio vanguarda, mas com uma carinha de velho. Nova York. A voz de Shilpa nos remete a Debbie Harry quase que imediatamente, talvez quase, passa ali entre uma pigarreada e outra ela pela Patti Smith enquanto ela se acha entre os escombros sobre o que foi um dia esse tal de rock and roll. O som cru e forte lembra o que a cidade produzia nos anos 90 com Blues Explosion e Make-Up. Ou seja, é um disco que parece não ter sido feito em 2015 de tão bom que é. Shilpa Ray já tem certa estrada e pouca fama, assim, você dificilmente vai ve-la nas listinhas de final de ano de alguma revista ou blog de música bacana. Só aqui talvez..

 

  1. EEK feat. Islam Chipsy – Kahraba

Me faltarão palavras para descrever o que o som desse trio me causou, acho que eu não ficava empolgado com algo “world music” desde o Asian Dub Foundation. Formação mais ousada e exótica que essa eu duvido que exista hoje em dia: dois bateristas e um tecladista. Parece pouco, minimalista, mas basta 30 segundos com eles tocando, que um inferno sonoro se instala, seguido de um ritmo maniaco ensurdecedor. A quantidade de ritmo e selvageria que sai dessa equação é indescritível. Direto do Egito, o Eek Feat Islam Chipsy é mais uma prova que coisas incríveis sempre virão dos lugares mais improváveis e nas horas mais exatas. Assista o video acima e depois não se esqueça de recolher o queixo caído!

 

5. Mbongwana Star – From Kinshasa

Imagine uma banda que faz rock, soul, experimentalismos e afro-beat, com dois vocalistas cadeirantes e uma banda enxuta se transforma num exército rítmico irresistível. Diretamente da republica Central do Congo, o Mbongwana Star fez o álbum de estréia mais sensacional desde muito tempo e que derrubou os queixos de muita gente. Passando longe do macaquismo world music que leva um monte de bobo a comprar gato por lebre, aqui o Mbongwana traz algo um suculento mix de modernidade com a infalível quebrada de tempo que só quem nasceu no continente que gerou o ritmo pro mundo é capaz de executar. Alivio que ainda existam artistas como ele se dando pelo mundo me faz crer um pouquinho em justiça.

 

  1. The Soft Moon – Deeper

Eu já sou fã dessa dupla faz tempo, mas agora eles resolveram cantar mais que o habitual. Obrigado! Deeper é feio, sujo, com os graves estourando em um monte de lugares, timbres bonitos e aquela sensação asquerosa de chão e paredes catarrentos de lugares escuros, frequentados por gente perdida e desesperada. Total cara de pós punk com energia revigorada. Mesmo sendo vintage e que lugares assim só existem na imaginação, o Soft Moon é mais contemporâneo, mais 2015. Mezzo industrial, mezzo gótico, Deeper chega bem!

 

  1. New Order – Music Complete

E ai quando você menos espera, não é que o velho New Order, sem Peter Hook, faz seu melhor disco desde Technique? Não é pouca coisa! E sem o Peter Hook, já mencionei isso né? A banda faz o que sabe melhor. Som eletrônico velho e quente, deixando as neo tendências de artistas que só imitam ou tentam emular o som do próprio NO, ai eles vem e ensinam como fazer um disco eletrônico sem ser chato ou quadrado. Há música nesse disco que esperamos que o New Order fizesse há muito tempo, Singularity caberia facil em Power, Corruption & Lies. Discasso, que tô esperando o dólar dar aquela baixada pra adquirir uma versão bolacha que esse merece.

 

  1. Thee Oh Sees – Mutilator Defeated At Last

O disco tem pouco mais de 30 minutos e é o melhor rock de garagem psich modernoso que existe por ai. Lento e rápido, rapidíssimo e desleixado, a banda está no seu auge (e olha que eles já atingiram alguns auges em sua bela carreira), mas Mutilator é muito bom, bom demais pra essa merda de tempos e que bom que existe bandas assim por ai ainda.

 

  1. Sleater Kinney – No Cities To Love

Alguns motivos para esse ser o melhor disco de 2015.

  1. É um disco do Sleater Kinney, as minas nunca erraram em 20 anos de existência da banda;
  2. Greil Marcus, o mais importante jornalista-escritor da história do Rock, cravou a seguinte frase ainda lá nos anos 90 a respeito das meninas: “…é tão improvável que o Sleater Kinney lance um disco ruim quanto era improvável que os Stones fizessem um disco ruim nos anos 60”.
  3. O Sleater Kinney é a melhor banda de rock desde o Nirvana (juntando biografias e discografias, na real tem pra poucas bandas).
  4. Voltaram a tocar com dignidade, respeitando seu tempo, espaço e seus cabelos brancos recém adquiridos num disco moderno e que traz o Sleater Kinney para os dias de hoje renovada e prontas pra quebrar tudo;
  5. Dos 12 discos listados, é o único que adquiri em formato físico.

E bom 2016 pra todos nós.

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3 Comentários on “Melhores de 2015? Até que teve, viu?”

  1. giu e mari disse:

    Não conheço a Maioria das suas escolhas, mas vou ouvir todas pq é sempre bom ouvir novas musicas. Por coincidência também acabei de postar no meu blog 15 musicas q bom baram em 2015. Se quiser dá uma olhadinha lá. Beijos 😘
    http://Www.giuemari.wordpress.com


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