Não Culpem o 2016… nossos heróis é que estão velhos e morrendo…

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Bob Dylan em toda a sua carreira sempre soube que era muito mais compositor do que qualquer outro, por isso a concorrência nunca o assustou.

O novo prêmio Nobel de literatura sempre soube que ninguém foi páreo para ele no quesito “poesia e composição em língua inglesa”.

Ao longo de sua longeva vida musical, somente 1 cara tirava o sono do ego de Mr. Zimmerman e lhe causava arrepios ao ouvir seu nome ser pronunciado.

Leonard Cohen.

Dylan não confessa nem para seu espelho, mas no fundo, bem no fundinho daquele coração de pedra e cínico, Cohen foi o compositor que ele mais invejou em vida, daquelas invejas brabas sabe? Daquelas invejas que não deixava espaço nem pra se aproximar para pedir um cigarro.

Cohen, aparentemente nunca deu bola pra essa disputa ou inveja, assim preferiu se dedicar a desafiadora arte da constante reinvenção musical, artística e espiritual.

Essa semana, Leonard Cohen deixou essa existência no planeta Terra e foi ao encontro de sua iluminação budista, seu nirvana ou seu “Senhor” aos 82 anos de idade.

Complexo e simples, Leo nasceu em origem judaico-cristã, mas ao longo da vida, após ter passado pelos “ismos” naturais de quem caiu no meio da contracultura sessentista tardiamente e maduro, descobriu o budismo e nele se encaixotou, deixando o mundo pra lá, até descobrir que estava falido, graças a anos de pilhagem por parte de seu empresário e se viu novamente precisando trabalhar para garantir o pão nosso de cada dia.

Por sorte nossa, ouvimos um Cohen relevante e mais interessante do que nunca e tirando de letra essa situação.

A sequencia de discos incríveis que ele lançou nos últimos anos foi de causar inveja em gente com metade de sua idade: Old Ideas (2012) e Popular Problems (2014) figuram entre seus melhores trabalhos e o que dizer de Live In London (2009)? Um show absolutamente brilhante.

Sem contar o ultimo lançado há poucos dias, chamado You Want It Darker, seu canto do cisne de causar arrepio em qualquer pessoa que tenha sangue de verdade correndo pelas veias.

You Want It Darker entra para a macabra lista de álbuns tristes que marcaram o 2016. Blackstar, de Bowie e The Skeleton Tree, de Nick Cave seriam os outros dois.

A música de Mr. Cohen nunca pertenceu a uma década ou geração especifica, e isso garantiu ao “poetinha” uma relevância absurda para audiências futuras que talvez não o tenham visto em seus vários auges.

Desde sua estréia em 1967 com um folk doce e duro de Song Of… que seguiu nos álbuns seguintes, ele usou o mínimo de arranjo possível para que sua voz melosa e quente desfilasse alguns dos melhores e mais bonitos versos da língua inglesa, fazendo com que sua música já nascesse clássica mas não velha.

Natural que seus passos seguintes só reforçassem essa característica ou esse dom. Os inseparáveis cigarros nunca seriam boa companhia para nenhum cantor, minha professora de canto sempre pegou no meu pé por causa desse vicio (que larguei completamente inclusive), mas para Cohen, parecem que só ajudaram a moldar seu grave profundo.

O que dizer de I’m Your Man (1988), álbum que me fez um devoto apaixonado por sua música. Nessa época, Leo era fanático pelo neo-romantic e aderiu ao teclado com bateria eletrônica como poucos e produziu um dos melhores e mais bonitos álbuns dos anos 80.

Outros auges da carreira podem ser New Skin For The Old Ceremony (1974), Recent Songs (1979), The Future (1992) e mesmo um disco acidentalmente estranho e fora do quadrado como Death Of Ladie’s Man (1977), produzido pelo maluco e genial Phil Spector tem seus momentos de beleza.

O meu favorito de longe no entanto é o poderoso Songs Of Love And Hate (1971), ali acho que está o suprassumo do melhor já feito pelo cantor e compositor. É um álbum tão bom e tão forte no quesito conteúdo e forma, que que entra para minha lista particular de obras sacras, que só saem da prateleira de vez em quando e só podem ser executadas em ocasiões muito especiais.

Cohen nunca teve um grande hit de arrebatar multidões, mas ao longo dos últimos anos, a faixa Hallelujah acabou virando a favorita de cantores ao redor do mundo, seja Jeff Buckley, seja Sam Alves (se você colocar Hallelujah no Google, você vai se deparar com as mais lacrimosas e exageradas versões. Cada uma mais querendo encontrar Deus ou audiência que se transforme em lacrimosa massa de aplausos).

Pra servir como um guia, abaixo listo minhas canções favoritas do bardo canadense e boa viagem na companhia de um dos caras mais incríveis que passaram pelo planetinha azul.

Rest in Peace, Mr. Cohen

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