Só Jesus salva…
Publicado; 12/04/2017 Arquivado em: Música | Tags: Damage And Joy, New Releases, Shoegaze Deixe um comentárioIsso não será um post racional.
Quando se lida com paixão, racionalidade passa longe e quando é paixão cega, a racionalidade sequer existe.
Tudo isso pra começar a dissertar sobre o novo álbum de inéditas do Jesus & Mary Chain intitulado Damage And Joy.
Parido em 24 de março, Damage é o primeiro de inéditas da dupla escocesa desde Munki (1998).
A importância do Jesus para a história do rock é relativa pois influenciou menos gente do que parece e quando se fala de bandas dos anos 80 é bem menos lembrada que alguns contemporâneos como Smiths ou R.E.M. ou mesmo My Bloody Valentine.
Na real, pouco importa, o Jesus é minha banda favorita de todo o sempre, e sempre o será até o fim dos tempos.
Paixões eternas são “imexíveis”…
Qualquer noticia nova sobre eles, é como se eu recebesse boas novas de um irmão mais velho que não tive. É esse o tipo de relação que tenho com a música da dupla formada pelos irmãos Jim e William Reid.
Os irmãos Reid não são bem quistos pela comunidade musical indie e pessoalmente sempre tiveram uma relação nada saudável entre si, tão pouco com colaboradores. Nada do que ouvi de quem os conheceu é muito elogioso.
Do manager de outra banda indie vem a seguinte afirmativa “… they´re assholes”.
De um grande amigo que ficou próximo a eles por motivos profissionais, a impressão é meio parecida. São distantes, tediosos, não são equilibrados, tem problemas com bebidas, Jim e William alternam seus momentos de sobriedade com excessos com grande frequência.
Detalhes, apenas detalhes…
Fato novo e bom é que eles estão com disco novo e graças aos céus, é bom. O álbum parece seguir diretamente de Stoned And Dethroned (1994), não traz tanta distorção quanto poderia, mas mostra que eles continuam escrevendo canções simples e boas que se hoje não trazem mais a urgência e ambição de outrora, pelo menos mostram que no quesito “songwriters” eles nunca falharam e continuam bons.
O Jesus é uma banda que sempre caprichou nos seus discos e Damage And Joy mantem esse capricho.
Produzido por Youth (baixista do Killing Joke, que produziu Paul Mccartney, tocou com Kate Bush e David Gilmour e tem um currículo bem casca grossa), o disco brilha com um certo peso que faltava ao som do Jesus e tem graves mais vistosos (visível contribuição de Youth) e guitarras tão potentes que soam até anacrônicas mediante a bundamolice do atual cenário indie.
Boas participações femininas, algumas já habituais como Linda Fox (ex-Sister Vanilla) irmã caçula da clã Reid em “Los Felizes (Blues and Green)”, balada comum parecida com outras que eles já fizeram e na última “Can’t Stop The Rock”, quase uma canção cartão postal do som guitar do Jesus, ótima faixa pra terminar o álbum.
As outras participações são bem bonitinhas: Isobel Campbell, vocal do Belle And Sebastian, empresta sua doçura em duas faixas “Song For a Secret” ótima balada rocker e “The Two Of Us” bonitinha, com um tecladinho a la Belle And Sebastian. A novata Sky Ferreira vem docinha também em “Black And Blues”, uma das minhas favoritas do disco por enquanto.
O disco vem embalado de boas guitarras que trazem boas lembranças do som que caracterizou o Jesus (guitarras vintages semi-acusticas com pedais japoneses que espirram distorções, tocado em amps rústicos com muita valentia, coração e desequilíbrio).
A faixa que abre o álbum, “Amputation” vem pra cima vencedora, dançante nos convidando convincentemente a adentrar em sua capsula do tempo (afinal qualquer disco de rock feito hoje já nasce velho). Always Sad vem direto dos anos 90, não me admira se eles falarem que essa música é dessa época.
Outra boa desse disco é Presidici (Et Chapaquiditch), faixa bem roquinho inocente pra iniciantes.
Tudo isso faz de Damage um excelente disco com excelente música, numa época em que tudo é generativo, fraco e sem “substância”!
Que bom que estamos todos vivos para poder ouvir um disco novo do Jesus.