E tu sabes quem é Johnny Greenwood?

Já deixei de acompanhar o Radiohead há uns 5 álbuns, e pelo jeito, a grande massa indie histérica que sempre puxou um bonde pelo quinteto de Oxford também já começa a diminuir.

Há fofocas de bastidores que informam que a venda de ingressos para o show aqui em Abril estão “flopando”, sinal que a banda já não arrasta tantas multidões quanto outrora.

A “possível” falta de interesse somado a discos cada vez menos interessantes que o Radiohead solta, pode ser uma ótima oportunidade para outros membros da banda que não sejam o Thom Yorke mostrarem sua cara.

E nisso entra nosso “Joãozinho Varaverde”.

O guitarrista britânico deveria levar tanto crédito das mudanças radicais da banda e principalmente pela fase em que eles ainda usavam guitarras como instrumentos guia do que normalmente leva.

Além de exímio guitarrista e criativo arranjador, Joãozinho tem se enveredado pela área do terreno árido e cheio de oportunidades das trilhas cinematográficas.

Por que é terreno árido?

Basicamente porque tudo o que se faz nessa área tem sido mais ou menos igual há uma década. De barulhos enfadonhos, pomposidade infatilóide com uma pobreza harmonica e nenhuma tentativa de boas melodias.

Essa escola de trilheiros a la Hanz Zimler, Alexander Desplat e mesmo o falecido Jóhann Jóhannsson seguem um padrão chatissimo e que se tornaram quase uma fórmula, tanto para Blockbusters quanto para filmes de nicho, sejam europeus ou americanos de baixo orçamento.

Johnny chega fresco, cheio de boas ideias e isso tem o ajudado a construir trilhas pra lá de especiais em filmes igualmente especiais.

Desde 2007, ele tem cuidado da parte musical dos filmes de Paul Thomas Anderson, seguramente o melhor diretor de cinema em atividade no mundo hoje.

A parceria começou no especial Sangue Negro, trilha percursiva e vertiginosa, que praticamente dita o ritmo do filme ou acompanha na pinta o ritmo desse filmaço.

Trilhas ótimas que ele fez para O Mestre e Vicio Inerente pareceram ser treinos para o “tour de force” que viria a aparecer ano passado para Trama Fantasma.

Enveredado em música clássica contemporânea, misturada a rock avand-guarde e jazz cabeça, Johnny segue o baile da proposta de P.T.A. e dá uma guinada surpreendente nessa nova trilha.

O salto dado por Joãozinho é (com o perdão do trocadilho infame) assombroso!

O filme Trama Fantasma se passa ali no meio do século XX, e marca mentalmente e afetivamente um fim de uma era de classe vitoriana e mostra a relação de amor e posse entre um famoso alfaiate especialista em vestir realezas e a elite inglesa com uma humilde, mas determinada garçonete interiorana.

Essa historia de “amor” é pontuada lindamente pela música de Johnny e nos guia de forma inteligente e sensível por esse terreno clássico e de costumes rígidos e tradicionais.

Um dos muitos pontos altos do novo filme de Paul T.A. é sem dúvida a música, tanto os temas originais compostos pelo guitarrista, como a delicada e precisa escolha de peças de Berlioz, Debussy e John Adams.

Johnny entrega composições de rara beleza e que ombreiam com os mestres desfilados na trilha.

Outra qualidade rara de se ouvir hoje dentro da música clássica contemporânea, (alias, mais um terreno baldio árido, onde nada novo acontece há um tempão) é sua capacidade de criar melodias secas e bonitas, que trazem um cheiro do passado, mas estão ligadas a grama de hoje.

Seu estilo próximo a Messiaen ou nas obras mais suaves de Ligeti ou Debussy, Johnny mostra talento para melodias e experimentações, já que o rock, em especial o indie rock já estão mortinhos da silva, o guitarrista apronta novos caminhos pra continuar na música sem depender tanto dos shows do Cabeça de Rádio.

A trilha de Trama Fantasma é linda, tirada fora do contexto do filme é música grandiosa pra se ouvir numa viagem ao campo, acompanhando um dia de trabalho ou no silêncio de um dia de semana em que trabalhar em casa quietinho faz um sentido danado.

 

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