Katy Perry, deixa de ser chata e volta pro Pop!

 

Semana passada, na madrugada de 14 para 15 de julho, a cantora e compositora Katy Perry colocou no mundo sua nova música, Rise, tema da rede americana NBC para a cobertura dos jogos olímpicos que acontecerão no RJ.

Seguindo a linha do seu ultimo álbum lançado há três anos, o fraco Prism, Katy tenta ser algo que ela não é, mas que seu publico virou.

Chata! Chatissima!

Katy quer que sua música cresça, fique adulta e se comunique com seu público atual: gente meio adulta-meio criança cheia de marra, cheio de certezas e de boas intenções.

Ou membros de “minorias”, que no fim hoje formam a maioria de seu público: gays, gordinhas, sardentas, meninas que usam aparelhos, pessoas que passaram por algum trauma ou pseudo trauma, doentes terminais, adolescentes de 25 anos e até brancos católicos.

No fim, ela quer se comunicar com todo o mundo, (cantora pop faz isso, certo?). Pura matemática.

Nada de mal e absolutamente nada de imoral ou errado nisso, ok? É só uma constatação.

Pura tática milimetricamente planejada pelo seu time para incluir todo mundo e fazer com que fã/seguidor se sinta especial e único, com uma mensagem de auto-ajuda a gente chata que não vai ser nada além do que já é: um bando de zé ninguém como todos nós somos.

Deixando o público consumidor de lado, Katy vem tentado dar um passo maior que suas pernas, e como todas as cantoras brancas, negras, amarelas que fazem música pop atualmente, tenta seguir os passos da matriarca absoluta desse business.

Sim, é de Madonna que estou falando.

Tal qual Madonna, Katy tem tentado se adaptar ao mundo confuso de hoje (Madonna parece ter desistido/cansado), mas há uma diferença que sobrava em Madonna e falta em Katy que é o plano real, a carta na manga, o “Ás de Paus”.

Madonna já tinha o seu desde o começo: sexo, libertinagem/liberdade, inclusão radical de uma turma de excluídos (gays, trans e etc.) nessa dança e um belo peteleco no caretismo do mundo de outrora.

Madonna executou o plano com estilo e coragem: com o fantástico e bem sucedido álbum Like a Prayer (1989), nos singles de Vogue e Justify My Love (1990) (dois clássicos absolutos) e fechando com o escancarado e primoroso Erótica (1992), ela parece ter botado no mundo o que tinha em mente desde o inicio e o que veio depois disso foi só gozo.

Até chegar lá, Madonna fez discos pop competentíssimos e amadureceu a arte da provocação com precaução, esperando o momento da dar o bote.

Katy é esperta, mas tá tentando amadurecer antes do seu tempo e pior, sem o estofo pra isso, e nesse mundo ultra ansioso, qualquer queimada de etapas numa carreira tão calculadinha e bem feita como tem sido a dela, pode ser ruim no futuro.

Perto das Beyonces, Rihannas e Lady Gagas da vida, ela está muito na frente por que justamente foi a única de todas elas a fazer dois discos pop sensacionais que são a cara e o cerne dessa geração: One Of The Boys, de 2008 e principalmente Teenage Dream, de 2010, pra mim, um dos melhores discos dos anos 10 e álbum com pelo menos 3 ou 4 músicas que caberiam facil num album pop de um Blondie, só pra citar uma referência “vaca sagrada”.

 

Depois disso ela resolveu virar adulta chata e cantar hinos de superação perfeitos para aberturas de Apple Stores, lojas de sapatos com trufas e claro, abertura de eventos esportivos de massa e chatos.

O mundo pop é uma disputa perversa e injusta, Katy parece ser realmente do bem, mas precisa voltar a ser mais “sapeca” e “malandrinha” pra não ficar pra tras já que ela é a moça certinha que só sabe das sacanagenzinhas mas faz suas orações antes de subir ao palco e dormir.

E não, ela não tem o estofo da Madonna e nem parece ter um plano tão bom assim, mas musica pop é feito por e consumido por jovens, ela já tá virando veterana então é bom arrumar um bom plano agora para não ser esquecida ano que vem.

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O melhor de 2016 até agora…

E finalmente achei um disco em 2016 pra chamar de meu!

Depois de algumas bolas na trave (como tem sido nos últimos 10 anos para o universo rock-indie seja lá o que você queira chamar), um disco realmente bom surgiu do lodo pra mostrar que rock ainda pode incomodar um pouco os ouvidos e mesmo assim ser muito bom!

Trata-se do terceiro álbum da banda de metal norueguesa Kvelertak, chamado Nattesferd.

A banda só havia gravado por selos noruegueses e esse é o primeiro por um selo maior, a gigante do metal Roadrunner e agora a carreira da banda deve expandir além dos fjords gelados da terra do Bacalhau, do A-ha e dos queimadores de igrejas.

Graças a esse álbum, cheguei a conclusão que alguns dos discos mais legais de 2016 vieram do metal. Basta ouvir outros ótimos plays lançados esse ano como o novo do Gojira “Magma”, o ultra bizarro Ustalost “The Spoor of Vipers”, as inclassificáveis Baby Metal com”Metal Resistance” (será assunto de outro post) ou até mesmo o novo Megadeth “Dystopia” pra ter certeza que essa safra do rock pesado está bem boa.

O Kvelertak tem um pé no Hard rock oitentista, algo de punk ali dos 80 e vocais de black metal. Parece que nada se casa, mas a banda e a produção mandaram muito bem e tudo fica bem “amalgamado” graças a escolha corretíssima dos timbres, ficando entre o retro e o novo, mas com dinâmica que faz o som do álbum cair gostoso no ouvido sem aquele bode natural que dá quando se escuta um disco de metal por mais de 15 minutos.

O disco só não leva a taça Jules Rimet “Joinha” por que eles ainda insistem em músicas longas demais para minha paciência curta.

As faixas tem média de 5 minutos, o que para alguns padrões metaleiros chega a ser curto, mas para quem tem os padrões de qualidade baseados no punk rock, no rock de garagem e no R&B, você precisa dizer tudo o que se precisa em até 2 minutos e 40 segundos.

Mesmo assim, Nattesferd é um discasso, daqueles em que o Beavis & Butthead poderiam naturalmente balançar as cabeças durante toda a audição.

Destaques naturais para 1985, faixa sensacional que nos remete diretamente a um tempo longínquo, possivelmente a referencia do ano da faixa, época essa em que as bandas de metal pareciam se divertir tocando; Bersekr é outra maravilha rápida muito convincente com um riff muito bom, simples e com o recado na ponta da língua.

Outra das minhas favoritas desse play é a faixa que abre: Dendrofil for Yggdrasil.

Resumo da ópera: o disco está no Spotify pra quem quiser, mas se algúem estiver passando pela Noruega e puder trazer um exemplar pra mim, agradeço!


Gales Neles!!!

Em homenagem a grande sensação da Euro2016, o Pais de Gales mostra que não tem craques só no campo da música, mas também no futebol.

 

Você sabia que Shirley Bassey é galesa? E que o Tom Jones é gales? E que o Budgie veio de lá também?

 

Historicamente, a música de Gales gravitou pela influencia inglesa entregando de quando em quando um molho diferente no cancioneiro da ilha.

Por vezes, imitou a matriz inglesa na caruda, por vezes fez melhor, regurgitou as influencias e botou no mundo artistas originais que beberam de suas águas geladas, respiraram seu ar madrigal e nos anos 90, cheios de orgulho da terrinha, alguns artistas galeses bateram no peito e galgaram postos nunca dantes ouvidos no panteão pop.

Casos mais famosos de Manic Street Preachers e Stereophonics, que atravessaram o Atlântico e até por aqui angariaram alguns fãs, botou o pedacinho de terra que ninguém sabe direito onde fica definitivamente no mapa da música (e hoje no futebol).

Saindo um pouco, ou tentando sair do óbvio, vai abaixo meus discos ou artistas galeses favoritos sem seguir uma ordem de melhor ou menos melhor…

 

The Pooh Sticks – The Great White Wonder (1991): Seguindo o espirito que os guiaram nos anos 80 pelo maior selo da historia do rock inglês, a Creation Records, o Pooh Sticks poderia ser definido como uma bela e original pilhagem sonora. Pouco no som deles era original, mas nesse Frankenstein sonoro, não é que esse disco ainda reluz a ouro? Conseguiram fazer um disco torto sensacional e talvez um dos mais obscuros e ainda bons álbuns de guitar rock do começo dos anos 90.

 

Super Furry Animals – Fuzzy Logic (1996): Seminais representantes da maluquice que se respirava em Gales nos anos 90, o SFA foi uma das melhores coisas que a ilha produziu nos 90 e Gruff Rhys daqui a pouco ganha uma placa ou estatua por lá. Semi-deus do cenário rock/alternativo britânico, o SFA nunca teve um hit de encher estádios, mas nunca fez um disco ruim na vida, Radiator de 1997 é mais querido, mas esse play de estreia ainda me chapa até hoje. Glam rock de primeira sem uma musica caída…

 

Gorky’s Zygotic Mynci – Spanish Dance Troupe (1999): A banda fez relativo e improvável meio-sucesso por terras britânicas e até brasileiras! Esse cd na época foi lançado no Brasil pela sacro-sacripanta e heróica Trama. Pelas minhas contas, aproximadamente 458 felizardos compraram esse disco na época e puderam escutar esse belíssimo exemplo de folk psicodélico bagunça do Gorkys.

 

The Ejected – Noise For The Boys (1982): punk primal e urgente tardio, esse ainda é um disco que to procurando pra colocar aqui na discoteca de casa. A dor e angustia lá no Nordeste britânico vem com outras dolorências e a urgência vem de jeitos diferentes. Maravilha do punk oitentista britânico.

 

The Living Legends – The Pope is A Dope (1982): O 1982 foi pro rock gales o 1977 pro resto do mundo. O Living Legends foi uma banda ultra-anarquista, liderada por um figura chamado Ian Bone que gostava de tocar o puteiro, foi tido pelo tablóide News Of The World, como um dos homens mais perigosos da ilha e essa bela canção que eles gravaram em compacto foi dirigida ao papa em questão Joao Paulo II que faria uma visita ao pais. Docinho!

 

Young Marble Giants – Colossal Youth (1980): Esse trio de Cardiff lançou em 1980 o melhor “álbum rascunho” da historia. Ganhou fãs ao redor do mundo com essa ousadia minimalista, de Kurt Cobain que se declarava fã incondicional do álbum, até o The XX, que tem tentado reproduzir esse álbum desde que eles existem.

 

Tom Jones (1960s até hoje) – Pelo conjunto da carreira: Monstro sagrado que transitou pelo rock, pelo pop romântico e por lugares bastante distintos em sua carreira longa e brilhante carreira. Nasceu em Gales, mas foi pro mundo, tem um soul danado, canta muito, é gente boa e tocou com mais da metade do mundo que vale a pena ser citado: de Jerry Lee Lewis a Cardigans, de EMF a Stevie Wonder… aqui eu separei seu breve e sensacional duelo com Little Richards… tá bom?

 

The Darling Buds – Pop Said..(1988): Ali pelos anos 80 e 90, uma nova onda de bandas com loiras cantando aparecia, e o Darling Buds não era necessariamente sensacional, mas fazia corpo junto com as outras 15 mil guitar bands que brotavam na ilha e buscava seu lugar ao sol… chegou perto, mas deixou algumas pérolas pelo caminho.

 

 

Future Of The Left – The Hope That House Built (2009): Respeitadíssima banda galesa ainda em plena atividade. Faz um anarco-punk moderníssimo, menos punk, mais Fugazi, politizado até os ossos. Ao vivo tem a fama de fazer shows arrasadores.

 

Hippies Vs Ghosts – Wazo (2015): Banda nova, descobri quando estava pesquisando o que existia de rock gales novo e apareceu isso. Instrumental, bem pesado, tem coisas de krautrock, de rock de garagem e pouca informação online. Ou seja, tem quase tudo que eu gosto e parecem ter a atitude que gosto também. Promissor.

 

John Cale (1960s até hoje): Tudo bem, ele só nasceu lá, mas só esse fato já bastaria para estar nessa lista.