Black Sabbath – Sabotage (1975)
Publicado; 09/09/2015 Arquivado em: Discos, records | Tags: black sabbath Deixe um comentárioTem muito doido que acha esse o melhor Sabbath, e olha que ouvindo na sequencia do Vol. 4 chego a cogitar que ele talvez esteja hoje na frente do petardo de 1971.
Hole In The Sky é de arrebentar, a guitarra de Iommi parece uma serra cortando a música pelo meio e dando direto na cara do ouvinte.
Se o grave demolidor que ele tirou em Master Of Reality não é mais tão evidente em Sabotage, o grave desse Sabotage é mais apetitoso, mais abrasivo e parece que mais “quentinho”, e isso fica claro em Sympton Of The Universe, com um guitarra espetacular, um som de bateria inacreditável e o vocal do Ozzy mais Ozzy que se ouviu até então.
E o final? O final de Sympton resumiria em 1 minuto toda a carreira e tudo o que o Jane’s Addiction quis fazer mais de uma década depois desse play, que é misturar balanço com peso.
Megalomania termina o lado A ambiciosa, gigante mas meio maleta e dá um pouco da deixa do que viria a se tornar o Sabbath nos anos seguintes. Mais conceito, menos loucura e uma certa preguiça e conforto num lugar padrão que eles se colocariam e manteriam até o fim dos seus dias.
Sabotage é um disco pra se ouvir sem pressa, fazendo cafuné na bichana e tomar um whisky.
O lado B é mais elaborado, mais chique, mais metido a besta o que fez os fãs de um rock mais cabeça gostarem muito e os fãs mais toscos ficaram meio sem entender e acharam que isso é evolução, Supertzar chega a lembrar o Queen, com suas operísticas e The Thrill Of It All tem outra velocidade, outra proposta e também vai numa direção mais sofisticada que até então não existia no som do grupo.
Am I Looking Insane (Radio) também é outro tipo de som que beira o psicodelismo britânico tardio, ouvindo hoje acho que lembra um pouco um Stones na fase Their Satanic Majestic Request só que mais pesado.
E fechamos a conta com The Writ, outra psicodelia metal sensacional, som que deve ter servido de base de 10 entre 10 bandas que hoje fazem som pesado a la Earthless, Red Fang e alguns progers-metal-psicodelicos devem tudo a The Writ.
Sabotage é o de longe um dos discos mais influentes do rock moderno, cada faixa e cada pedaço de música desse disco parece ter influenciado artistas diferentes em diferentes épocas. Alguns ali na mesma época já surfaram no que esse disco oferecia como alternativas, outras foram beber dessa fonte décadas mais tarde, mas todo o mundo que fez rock pesado nas décadas seguintes bebericou até não poder mais nesse play.
E nóis gosta!
Black Sabbath – Vol. 4 (1972)
Publicado; 09/09/2015 Arquivado em: Discos, records | Tags: black sabbath Deixe um comentárioEsse era o meu disco favorito do Black Sabbath até perder o posto pro Master Of Reality.
Um disco que tem Supernaut, Snowblind e St Vitus Dance não poderia perder esse titulo tão facilmente né? Mas tem um lance no Vol 4 que passou a me incomodar muito, ouvindo esse disco hoje em dia.
Changes.
Não o verbo, e sim a música.
Eu nunca fui fã de Changes, de jeito nenhum. Nem quando ouvi no rádio pela primeira vez, nem quando ouvi no disco pela primeira vez, nem hoje, nem semana passada, nem no show do Ozzy que eu assisti há 20 anos nem quando toca em qualquer lugar que eu passe.
Simplesmente não gosto. E ponto.
E olha que tenho a moral de escrever que eu não gosto do Paranoid. Chego a levar bronca dos meus amigos por causa disso, mas é verdade.
Se não tivesse essa maledeta, o disco ia ser perfeito em sua concepção de explorar novos sons e tentar trazer novos ouvintes para o som do Sabbath, mas, paradoxalmente, se não fosse justamente por causa de Changes, talvez o Sabbath corresse o risco de continuar restrito a um tipo de publico e sua música dificilmente chegaria a ser um hit na Antena 1 por exemplo.
Está claro que os caras queriam mais, queriam mais do que estavam tendo e essa ambição por um público maior só seria possível se eles tivessem algo maior e mais acessível ao que eles tinha mostrado até então e ai veio Changes.
Veja, acho que sou voz dissonante nessa discussão, pois a maioria pega bem com a balada.
E ainda acho que essa música é uma droga e não combina em nada com o resto do disco. Perceba, ela vem logo depois de Tomorrow’s Dream e antes da vinheta FX e Supernaut, que pra mim é a melhor música do disco disparada e uma das 3 melhores do Sabbath ever, e são duas porradas diferentes, com arranjos mais abertos, levadas rápidas mas menos assustadoras, enfim, o Sabbath que viria a ser nos anos seguintes.
Muito do que a banda virou no futuro começou no Vol 4, pro bem e pro mal, as concessões podem ser ouvidas como naturais caminhos de um talentoso e inventivo grupo de músicos que se recusavam a ser rotulados de “adoradores de satã” e ajudaram a redefinir os caminhos que o rock tomou nos anos 70.
E essa capa?
Definitivamente não dá pra escutar esse disco num formato que não seja o Vinil.
Black Ivory – Baby, Won’t You Change Your Mind (1972)
Publicado; 04/09/2015 Arquivado em: Discos, records | Tags: American R&B Seventies, Black Ivory, cool R&B Deixe um comentárioÓtimo som para praticar o “deboismo”, nova modalidade que tem se feito necessária nesse clima de horror político e social que vivemos desde que decidimos dividir a miséria humana em direita e esquerda e fazer de conta que a merda do seu lado é mais jóinha que a do outro.
Bullshit, deboismo já.
Não conheço música mais apropriada para acompanhar esse deboismo do que um bom disco de Black Music bem no sapatinho, mas sem ser chabizeiro.
E calhou de hoje ser justamente esse disco delicia de estreia do competente e sossegado Black Ivory lançado no comecinho dos anos 70.
Macio como uma pluma se deitando no solo, suave e com firmeza, os meninos tocaram tudo nesse play e fizeram um som que é pura Nova York do inicio dos anos 70 antes das invasões da discoteca e do punk rock.
Suave, malandro e sofisticado, esse disco segue no paradigma dos álbuns de black music setentista, seguindo a risca a regra de trabalho de 10 entre 10 artistas que queriam se dar bem no business, e aqui eles seguem a cartilha direitinho.
E qual é essa cartilha?
Baladas.
Baladas melosas, baladas mais safadas, uma ou outra mais rapidinha pra dançar e tome mais balada.
Por que?
Ué, porque as mina pirava em balada romântica, ou isso é muito diferente nos dias de hoje? E os homens que queriam se dar bem com as mina, tocava umas baladas boas pra pegar as que tivessem precisando de um carinho.
Resumo, a necessidade de sexo casual leva 10 entre 10 pessoas a usar baladas para ajudar no clima (junto com birita, cinema, jantarzinho e outros recursos).
Das 9 faixas do disco, 3 são baladas estilo ultra melosas como a faixa titulo além de Time Is Love e Spinning Around, uns dois funkinhos sossegados pra mostrar que eles também quebram tudo quando chamados para a batalha como Just Leave Me Some e One-Way Ticket To Loveland, 1 estilo Motown, que é a ótima Time Is Love.
No lado B tem mais 3 baladas, algumas mais de dor de cotovelo, do estilo “patinha machucada” com It’s Time To Say Goodbye e No If’s And’s, Or But’s (tá ai um excelente nome de música né?) e uma lenta mais arrastando correntes que é a derradeira Wishful Thinking, hoje a minha favorita desse album.
Sei menos do que gostaria de música negra, mas gosto de fuçar e esse play quando achei, foi um tremendo achado.
Black Future – Eu Sou O Rio (1988)
Publicado; 03/09/2015 Arquivado em: Discos, records | Tags: Black Future, Experimental music, Rio de Janeiro underground music Deixe um comentárioFazer música difícil é fácil, mas fazer música fácil é difícil.
O Rio de Janeiro é lindo e pode ser bizarro a maior parte do tempo.
Senão isso, porque então foi lá que apareceu a banda brasileira mais parecida com o Killing Joke fora da Inglaterra?
É doido, mas o Killing Joke é a referencia que mais me vem a mente quando penso na banda Black Future.
Anarquico e fortemente influenciado pelo No Wave, o Black Future era avant-guard demais para a sua provinciana e atrasada capital fluminense.
Ou não, o som que eles ousaram fazer na Cidade Maravilhosa e inspirado pela Cidade Maravilhosa é carioca as avessas, é o carioca branco classe média que nos anos 80 tinha ódio ao samba, as escolas de samba ou Rio do Chacrinha, da Globo e do Ibrahim Sued e com um monte de referencias sonoras gringas, resolveram importar a estranhice de um som que seria o arroz com feijão em cidades como Bristol ou Manchester e implantaram em terras cariocas um som que poderia muito bem ter sido feito em Sampa.
O Lado A desse play fantástico é puro pós punk britânico, gelado, sem refrão, experimental e que revelava a busca insana de uma sonoridade que fosse completamente do que tinha sido feito até então e estava muito próximo do anarquismo das Mercenárias ou de um mezzo gótico do Kafka, e se espalha com guitarras ruidosas, baixo marcado e ruidinhos eletrônicos em faixas sensacionais como No Nights e Piada, um desfile de desabafos contra tudo que tem de ruim na sua terra natal acompanhado por um instrumental soturno e longo.
Em Sinfonia Para Um Motor, uma faixa lenta com letra estranha, é quase uma ode ao assassinato (físico ou psicológico), mas confesso que ainda sinto falta de um pouquinho de harmonia nas vozes, por mais que saiba que talvez essa nunca fosse a intenção do grupo.
O lado B segue mais feroz, como em Bem Depois… e na derradeira Thor E Loki, quase um The Cure fase Pornography. A mais alegrinha é Eu Sou O Rio, faixa titulo em que eles procuram se colocar ao lado de outros baluartes da cidade como Joãozinho Trinta, Cartola e Sérgio Mallandro.
Melodia é algo que não se ouve em nenhum momento desse disco, o experimentalismo vai ao extremo e chega a ser indigesto, meio pretencioso, meio esnobe, mas é assim as vezes que ótimos discos são ouvidos .
No fim, a banda acabou não chegando a lugar nenhum, mas ficou por ai pra quem tiver curiosidade esse pequeno delito atonal como um dos registros barulhentos mais interessantes do BRock 80s, muito menos new wave, sem molejo, sem swingue recheado de esquisitices por todos os lados.
O Black Future partiu literalmente para o confronto com esse disco que merecia mais atenção dos pesquisadores e fãs de rock brasileiro.
Ainda dá pra descobri-los, o disco é relativamente fácil de se achar.
De uma voltinha pelo lado selvagem do Rio de Janeiro.
Blackbyrds – Flying Start (1974)
Publicado; 02/09/2015 Arquivado em: Discos, records | Tags: American Jazz funk seventies, Blackbyrds Deixe um comentárioTodo mundo pra cima!
Um.. dois … três … quatro!!!
Funk pra levantar pista, estádio, ginásio, defunto, jogo do Vasco e até o Ibope da Dilma.
A capa do disco já dá toda a letra do seu conteúdo. Alegria unida a uma competência e um molho musical daqueles de devolver a alegria de viver ao coração de qualquer um.
Cada faixa vem numa forma diferente, o ano ainda era o de 1974 e eles davam passos para o que seria o futuro da black music com I Need You, numa quase discoteca, The Baby vem meio funk, com pretensões jazzísticas a la Donald Byrd e depois uma delicia de baladinha malandra de filme de putaria light com Love Is Love… Mais um pouco de jazz funk safadão pra fechar o lado com a destreza dos grandes craques do ritmo e Blackbyrds Theme é tema inspirado e com aquele som que faz bem em qualquer hora do dia ou da noite.
O que mais me impressiona nesse disco é o som da caixa da bateria, seco, duro e que dá o tom diferente de um disco de funk soul jazz que saiam aos montes nessa época.
O disco de estreia desses estudantes de Washington é praticamente perfeito, reescutando essa maravilha, ainda não achei defeito, tudo é mais do que bom, é sofisticado sem ser pedante, é controlado sem ser careta, é adulto mas não é tiozão. Enfim, tem tudo que um disco bom de funk soul precisa ter.
Birdland – Birdland (1991)
Publicado; 28/08/2015 Arquivado em: Discos, records | Tags: Birdland, English indie rock, Guitar rock Deixe um comentárioSabe aquele cara da sua turma que é o mais atrasadinho? Tipo, enquanto todo mundo no colégio já tá adiantado no lance da vida, aquele fica meio pra tras? Chega depois de todo o mundo?
Pois é, dentro do mundo do rock inglês no fim do anos 80 pros 90, o Birdland é o atrasadinho.
Ouvindo esse disco de estréia do Birdland com esse intervalo de 24 anos, dá a impressão que eles foram a melhor banda de rock inglesa a fazer rock australiano na história.
Ouvindo seu “hit” Everybody Needs Somebody lembra muito o Hoodoo Gurus ou Australian Crawl.
Quadradinho, com barulhinho onde precisa, bons no refrão curto, canções com bases soladinhas a la rock australiano e dedilhadinho bem ao gosto do rock inglês dos anos 80.
Canções ótimas como Shoot You Down, Wake Up Dreaming e ainda cabendo uma correta versão de Rock N Roll Nigger da Patti Smith.
Tudo certo, só esqueceram de combinar com o resto do mundo pra voltar uns 4 anos no tempo, pois se esse disco tivesse sido lançado ali entre 1986 ou 1987 taria tudo certinho, mas em 1991 o mundo já tava virando outra coisa e eles estavam fazendo o tipo de rock que envelheceu muito rápido nessa época e das duas uma pra sustentar um som antigo assim:
- Ou você já estava no role e continua perseguindo o seu som (Teenage Fanclub, Morrissey solo, por ai) ou:
- Joga fora tudo o que você fez, arruma um produtor que tomasse acido e circulasse por raves pra dar uma outra cara ao disco e cai num outro mundo (Primal Scream).
O álbum de estreia dos caras ta longe de ser ruim, mas já nasceu velho em comparação com as demais guitar bands vigentes. Talvez isso explique por eles ficaram pelo caminho.
E olha que as referência eram ainda frescas como Echo & The Bunnymen, Jesus & Mary Chain, e Stone Roses, mas a década tava pedindo uma mistura que eles definitivamente não tinham pra oferecer.
Ouvi esse disco quase quando saiu, arrumei uma edição em cd uma década mais tarde, e há uns 3 anos achei essa edição limitada toda branca e por absoluto saudosismo troquei meu cd por essa ela.
A banda não deixou saudade, mas o disco ta aqui pra contar essa pequena historia de fracasso bem sucedido.
Billy Stewart – The Greatest Sides (1982)
Publicado; 27/08/2015 Arquivado em: Discos, records | Tags: Billy Stewart, Chess Records, Early American R&B, Sugar Hill Records Deixe um comentárioAcho que já escrevi sobre selos fonográficos nesse blog.
Não lembro bem quando nem qual exemplo foi.
Normalmente acho gravadora um saco, quase todas elas e trabalhando diretamente a maior parte do meu dia nos últimos 5 anos, faz meu ódio aumentar ainda mais.
Mas há dentre elas, alguns selos que mesmo compostos por sanguessugas miseráveis, deram ao mundo algumas das mais belas contribuições musicais do século passado e esse álbum traz dois deles juntos:
A Chess Records e a Sugar Hill Records.
A Chess foi um selo de Chicago fundado pelos irmãos judeus Leonard and Phil Chess nos anos 50 e foi a casa fonográfica de Bo Diddley, Etta James, Chuck Berry e Muddy Waters dentre outros, já a Sugar Hill foi um selo fundado nos final dos anos 70 por Joe & Sylvia Robinson e lançaram alguns dos mais importantes artistas do inicio do rap e hip hop como SugarHill Gang e Grandmaster Flash & Furious Five.
Ambos se dedicaram a lancar e registrar os mais importantes artistas de sua época, mas a Sugar Hill ainda tinha uma missão de resgatar artistas e álbuns importantes da música negra norte-americana que o tempo e as novas gerações foram esquecendo e alguns dos meus discos favoritos saíram justamente desses resgates.
Billy Stewart é um deles. A obra do homem estava praticamente inacessível as gerações que vieram depois dos anos 80 e a Sugar colocou no mundo essa belíssima e hoje rara coletânea com os compactos lançados nos anos 60 pelo artista.
Billy gravou pela Chess nos anos 60 e tragicamente teve sua carreira encurtada por causa de um acidente de carro em 1970, mas em vida, o cantor, compositor e multi-instrumentista deixou um legado de deliciosas gravações com o mais fino do R&B sessentistas, daqueles de te fazer levantar do sofá pra dançar, como nas incríveis Secret Love e Fat Boy, mas o homem era muito bom em baladas como I Do Love You e Sitting In The Park.
Com uma voz doce e de timbre diferente, com forte ênfase num agudo firme, parece que o ar circulava por seus dentes, pelas bochechas e saia com um sabor muito diferente. Somado a isso, o cantor tinha uma maneira particular e peculiar de cantar, usando e abusando de repetições de palavras dentro das estrofes, mesmo que originalmente elas não estivessem lá.
Isso fica evidente e brilhante em sua versão arrasadora de Summertime, fazendo dessa versão talvez a mais feliz e esperançosa, trazendo uma luminosidade que dificilmente Gershwin imaginou ser possível, pois os acordes e a cadencia levam muito mais a reflexão e uma certa saudade de bons tempos que é jogada por terra pelo simpático e carismático Billy.
Esse é daqueles discos que vale a pena estar vivo para ouvir e faz o termo “coletânea” ter seu real significado.
Billy Bragg – Life’s A Riot With Spy Vs Spy (1983/2013)
Publicado; 26/08/2015 Arquivado em: Discos, records | Tags: Billy Bragg, English folk eighties 1 comentárioAustin – Texas, 2013 e lá estava eu tirando o cabaçinho do festival de música alternativa ou nova mais importante do mundo.
2000 caras tocando em 5 dias em mais de 100 bares, casas noturnas e igrejas.
Sim, igrejas.
E fui numa delas que cai sem querer num dos shows mais sensacionais que esses olhinhos e esses ouvidinhos tiveram o prazer de testemunhar.
Era o primeiro dia de festival e estávamos nos familiarizando com a fauna e nos dirigíamos a uma igreja batista para um show de música clássica contemporânea a cargo do compositor Olafur Arnalds, quando estávamos em uma fila, achando estar esperando para assistir ao cara, mas na verdade era uma fila para assistir a Billy Bragg.
Que surpresa e que show!
Não podíamos ter começado melhor nossa empreitada por quatro noites incessantes de boa música e naquele ano, seu primeiro disco, completava 30 anos e essa edição bacaníssima traz o primeiro disco tal qual foi lançado na época, com seus pouco mais de 15 minutos e tocado em 45 rotações num álbum de 12’’.
No lado B, traz o álbum na integra mas tocado em 2013, e foi basicamente parte do repertório que assistimos naquela igreja.
Billy é um cantor de folk inglês com a urgência do pos-punk, traz a coisa do bandoleiro trovador, mas com sua guitarra elétrica no lugar do violão e foi um disco que causou certa estranheza por causa disso, pra ser punk precisava de mais barulho e pra ser folk precisava de menos agressividade.
Seguiu seu caminho sozinho e deixou pro mundo canções urgentes, politicas e sensacionais pra se tocar na guitarra e no violão.
Um disco tão curto e feroz como esse não precisa de resenha longa, então, enjoy it!
Billie Holiday – The Essential Billie Holiday Carnegie Hall Concert (1956) (1989)
Publicado; 25/08/2015 Arquivado em: Discos, records | Tags: Billie Holiday, Carnegie Hall, Classic american jazz, Female American Jazz Deixe um comentárioQuando se fala em capitalismo exploratório, o mundo do jazz está recheado de exemplos que mostram porque o gênero e sua indústria tem tanto de capitalismo sujo e exploratório.
- Sempre tinha um branco com dinheiro botando um preto pra tocar e ganhar pouco, nenhum dos grandes jazzistas até Miles Davis ganhou o tanto que seu talento e a grandeza de sua obra deveria ter voltado em recompensa e a maioria viveu de maneira muito ordinária e com pouco;
- Se não era um branco explorando, era um outro preto, e no caso de cantoras de jazz, as vezes era o marido, companheiro ou amante, que além de explorar, costumava sentar o sarrafo na patroa depois dos shows. Obs: se ficasse só na porrada tava bom, com algumas a agressão era o de menos.
- O valor irrisório que os músicos ganhavam por sessão de gravação fazia com que tivessem que tocar 12, 14, 16 e até 20 horas por dia (e eles não reclamavam se ganhassem por hora de estúdio);
- Nos shows, os artistas negros de jazz levavam menos que artistas brancos, a não ser que você fosse um Louis Armstrong ou uma Billie Holiday, de resto, era o que o sindicato mandasse pagar e as vezes nem isso, por isso que tocavam tanto.
Tem disco que acontece isso também.
E no mundo do jazz e da musica clássica tem muito juntado de repertorio com o intuito de levantar um troco ou cobrir um período especifico de um artista ou banda.
E vamos a Billie.
Esse disco especificamente traz o que seria o essencial da cantora em uma de suas ultimas apresentações no palco do Carnegie Hall em Nova York, e vem acompanhado de uma banda que por si só já seria um time do Brasil de 1970 do Jazz: Roy Eldridge no trumpet, Coleman Hawkins no piano, Chico Hamilton na batera e Kenny Burrell na guitarra só pra ficar nos famosos.
Nenhuma grande inovação no repertorio, tem o fino do repertorio mais popular da cantora: Lady Sings The Blues seguido de It Aint Nobody Business, lá pra frente vem Heart And Soul, My Man, Don’t Explain e fecha com What a Moonlight Can Do.
Repertorio duca, cantora duca, banda duca.
Mas ai voltamos ao tema “indústria do jazz” ou “indústria da musica”, o que faz desse álbum um tanto quando desconectado da cronografia da cantora, lançado fora de época, e que aproveita o mito da artista pra lançar o máximo de coisas possíveis, mesmo que isso signifique lançar material mais ou menos, que é o caso desse disco.
Burocrático, com a Billie já no seu inicio de decadência não ajuda a tornar esse álbum uma obra-prima, nem mesmo um álbum essencial, mas ainda guardo esse disco na coleção pois foi o primeiro play que me introduziu ao mundo da “Lady”, o que não quer dizer que eu tenha chegado ao amago da artista, tanto que ainda acho que Billie Holiday é muito superestimada no quesito jazz, assim como Amy Winehouse é superestimada no quesito artistas dos anos 2000.
Em comum, e o que colaboram para pintar suas biografias com cores diferentes é o fato de terem tido vidas difíceis e mortes prematuras.
De resto, perto das duas consigo juntar umas 23 cantoras muito melhores.
Mas isso é polêmica pra próxima.