O Sargento Pimenta ainda tem algum valor ou é só pelo Branding?

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A Pergunta provocativa, já adianto, não é gratuita tão pouco vem com a segunda intenção de provocar os fãs xiitas ou muito apaixonados pelo Fab Four ou pela mais famosa boy band da história da música pop mundial!

A pergunta visa tentar organizar meus pensamentos e sentimentos a respeito do tal “’álbum mais importante do século XX”, ou o ultra-mega-incrivel Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band, lançado originalmente em 01 de junho de 1967. Ou somente o álbum em que os 4 rapazes usam bigode e roupas de bandas militares coloridas e muito legais!

O álbum chega aos 50 anos e aproveitando a ocasião, a paquidérmica, mas não anêmica indústria da música, visando o desejo mundial por um pouquinho mais de Beatles, disponibilizou para todos os bolsos, em formatos digital e físico, edições especiais e remasterizadas de Sgt Peppers, e o que dizem, pela primeira vez remixados decentemente para se ouvir em som estéreo ou no seu Pc com sonzinho xulé, ou no seu fone “xingling” ou no seu fone “Beats”.

A produção ficou a cargo do guardião sonoro do acervo Beatles, o filho do lendário produtor George Martin, Giles Martin.

Basicamente, tudo o que sair de Beatles daqui pra frente, passa pelo crivo dele.

Ah, foi ele que produziu aquela baboseira chamada Love para o Cirque de Soleil, antes que eu me esqueça (ok, isso foi a mais de 10 anos, ele deve ter aprendido alguma coisa nesse meio tempo).

Bem, dito tudo isso, o que o fã de carteirinha do Fab Four vai encontrar por aqui é tudo aquilo que ele quer. Entrar um pouquinho com a cabeça e dar uma escutadinha no que os Beatles deixaram pra fora do álbum, incluindo edições preliminares de algumas canções, edições instrumentais e pedaços de música que juntadas resultaram no Sgt.

Vamos deixar o álbum original pra lá e focar nos extras.

De maneira bem careta, o álbum de extras segue a mesma ordem do original, assim vamos seguindo a mesma sequencia, porem com suas peculiaridades esperadas (versões instrumentais de With a Little Help e She’s Leaving Home), takes alternativos que valem pela curiosidade (Being for the Benefit Take 4…) e pra quem trabalha com produção é sempre uma lição valiosa que muitas horas, paciência e algumas grandes cabeças são importantes para que saia realmente um disco bom e que nem tudo necessariamente precisa sair bom até o take 3.

Honestamente, acho que esse tipo de lançamento deixa cada vez mais claro a pobreza do presente e que também as sessões de Sgt Peppers não foram tão soberbas assim. Ouvindo o Sargento Pimenta disco 2, tudo fica meio com cara de membros decepados para apreciação e deleite dos inúmeros fãs dos Beatles e do Sargento.

Nada ou quase nada do que saiu no discos de Extras é realmente sensacional e só reforçam que se o álbum saiu do jeito que saiu era pra realmente ter saído daquele jeito.

Tudo o que veio de “a mais” aparentemente não fez falta e agora parece não fazer muita diferença.

Pra não dizer que não tem nenhuma surpresa, confesso que fiquei feliz em ouvir o Take 26 de Strawberry Fields Forever, numa versão mais rápida, com variações na velocidade da voz de John e nos instrumentos.

Isso posto, volto a pergunta inicial. O que consumimos aqui é o “branding” ou o álbum? Alguns dirão que um branding bom precisa ter conteúdo, mas rebato que vender qualquer coisa com a marca Beatles já vai ser bom logo de cara, a marca é muito valiosa, muito bem cuidada e não tem como estragar!

A reedição caprichada de Sgt. Peppers serve para atrair novos ouvintes não só para o álbum, mas para o legado da banda, e escutando novamente o disco depois de muitos anos, ainda há graça, ainda há relevância e o sabor de algo que foi revolucionário e hoje não é mais também estão lá.

O álbum é menos influente hoje do que foi um dia, mas ai a culpa não é deles nem do álbum.

Alguns preferem Revolver, outros o White Album e muitos o Abbey Road, mas Sgt Peppers é ainda importante como chave de entrada de um período rico da historia da música pop mundial e como ele ajudou a desencadear a música imediatamente posterior e simultânea. A segunda metade dos anos 60 surgiram alguns dos mais revolucionários álbuns da historia e mesmo no ano de 1967 um mundo sonoro novo eclodiu (se for entrar no 1968 e 1969 é papo de horas).

E tudo isso é outra historia!

Abaixo um video bonito com reações espontâneas a respeito do álbum:

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Kid Vinil – e uma homenagem a todos que me ensinaram bons sons.

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O que dizer mais sobre Kid Vinil além de um muito obrigado?

Tem sido bonito a enxurrada de textos carinhosos sobre ele, vindos de outras pessoas que também são “gurus” ou eram “gurus” nesse caminho sinuoso e delicioso dos bons sons.

Olhando em retrospecto a carreira desse cara, dá pra resumir tudo em amor puro a música e ao disco.

Kid passou por todas as áreas que estão ligadas a indústria da música: fã, artista, colunista, office boy de gravadora, diretor artístico, dj, disc jóquei de radio, programador de radio, apresentador de programa musical em TV, VJ, jurado de calouros, o escambau.

Entusiasta dos bons sons, falava com brilho nos olhos tanto do Kid Abelha quanto do Kaiser Chiefs, tocava tecnopop e punk na mesma sequencia.

Isso revelou sua extrema tolerância para com todo o tipo de som.

Tive uma breve conversa com ele há alguns anos e tivemos a oportunidade de fazer o lançamento de sua autobiografia na Livraria Cultura, onde trabalhei (gostaria de ter falado mais com ele, mas nesse mesmo dia e no mesmo local o senhor Gene Simmons estava também autografando seu livro).

Aproveito o momento para prestar meus respeitos a outros monstros que me ensinaram os caminhos dos bons son e a quem serei eternamente grato.

Marcel Plasse – jornalista que escreveu durante muito tempo na Folha e que ajudou a divulgar em especial a barulheira indie britânica.

José Roberto Mahr – dj e jornalista carioca, durante muitos anos apresentou o programa de rádio Novas Tendências (não perdia um).

Fabio Massari – Jornalista, Vj e diretor artístico de radio, ao lado de Kid, talvez a maior influencia de conhecimento dessa geração. Parece que nada escapa a seu conhecimento, não a toa, tinha o apelido de “Reverendo”.

Ana Maria Bahiana – difícil dizer se ela manja mais de música ou de cinema, mas é craque nas duas posições e ainda hoje mantem um blog dos bons. Me ensinou a querer ouvir música brasileira quando eu não tinha a menor intenção de faze-lo.

Camilo Rocha – dj e jornalista, talvez o mais preparado de todos pra escrever sobre música pop. Nenhum foi tão melhor que ele, mesmo não concordando com algumas de suas resenhas. Me ensinou o caminho das pedras na música eletrônica.

Programa Garagem – programa que existiu entre final dos anos 90 pra 2000, não perdoavam as vacas sagradas da MPB usando a implacável Ana Maria Broca pra detonar alguns Cds em loco e tocavam alguns dos sons mais importantes que ouvi naquela época. Seus apresentadores e jornalistas André Barcinski, Paulo Cesar Martin e Alvaro Pereira Jr fizeram história, seja em suas carreiras individuais, seja no programa.

Edson Sant’Anna Jr. – Locutor fundamental para quem curte rock and roll e tem mais de 30 anos, fundou e era o principal nome da “extinta” 97 Fm, estação de rádio de Santo André que tocava modernidades, rock, metal e Vangelis na mesma sequencia. Graças a seu legado, me ensinou a ouvir de tudo sem preconceitos musicais.

Marcelo Nova – além de liderar o Camisa de Venus e ajudar Raul Seixas a dar seu ultimo suspiro criativo, Marcelo, por um breve instante apresentou o programa Let’s Rock, na Transamérica FM e eu batia cartão todo o domingo no dial 100,1 pra conferir o que ele e Aiatolico iam mandar musicalmente e “verbalmente”. Algumas das melhores e mais ferinas perolas sobre lançamentos “indie” ou quase, vieram dele.

Mauricio Valladares e o Ronca Ronca: sem sombra de duvida, hoje em dia, Mauricio faz um papel parecido com o de Kid lá atras. Seu Ronquinha apresenta um mundo incrível de bons sons toda a semana há mais de 20 anos. Infelizmente pouca gente acompanha, mas quem o faz, agradece toda semana pelas espetaculares horas de bom humor, bom papo e bons sons.

http://www.roncaronca.com.br

Em breve, escrevo sobre meus heróis gringos, D.E.P Kid.

 

 


Supersonic, ou a nostalgia dos anos 90.

Unknown

Como era de se esperar, algumas boas historias dos anos 90 começam a vir a tona e certamente um dos grandes protagonistas dessa década foi a banda inglesa Oasis.

O ótimo documentário Supersonic, lançado no final do ano passado, dirigido por Mat Whitecross (conhecido por clipes do Coldplay) chega agora ao Netflix e nos ajuda a lembrar algumas histórias que quem estava lá viu e ouviu.

Nenhuma banda brigou tanto ou causou tanto quanto eles, nem foi tão defendida ou atacada quanto eles. Pra quem era do rolê “indie rock 90s”, o assunto Oasis rendia bons papos e num mundo onde Nirvana não existia mais e o Guns & Roses esfriava o faixo, parecia ser um terreno perfeito para o surgimento de uma nova super banda encrenqueira.

Sobre os irmãos Gallagher não há meio termo, ou se ama ou se odeia e pode-se inclusive passar pelos dois sentimentos, não ao mesmo tempo, mas um antes do outro.

Conheci o som da banda mais ou menos quando todo o mundo conheceu, através do clipe de Supersonic. Achei legal, boa música, mas na época tinha tanta banda boa e tanto som bom aparecendo que não me apaixonei por eles logo de cara.

A coisa mudou quando ouvi Live Forever, essa é o tipo da música que não aparece toda a hora. A balada é correta, tem a duração correta, um lindo refrão e ótimo som de guitarra, com um solo simples e eficiente.

É o que se chama de canção perfeita.

Some essa quantidade de ótimas composições com a enxurrada de polemicas que os dois arruaceiros iam acumulando e a banda ficou grande em pouco tempo.

O Oasis capturou o espirito musical e cultural dos anos 90. Influenciado por guitar bands inglesas, que depois abraçaram um modelo mais clássico de rock (60 e 70 – T.Rex, Beatles, Paul Weller, Gary Glitter, Sweet, dentre outros), mas diferente de outras ótimas bandas que surgiram um pouco antes e das que apareceram ao mesmo tempo, o Oasis tinha dois trunfos quase imbatíveis:

Liam Gallagher cantando e Noel Gallagher compondo.

Tal qual a anedota do cara que apresenta um gato dançando e cantando e outro no piano tocando, quando o contratante maravilhado pergunta o preço do show, e o dono dos gatos informa: 10.000. O contratante retrucou “ok, mas quanto é cada gato?”, e ele respondeu: “3.000 pelo que canta e 7.000 pelo outro”. Por que? “Bem, o primeiro só canta, o outro toca piano, arranja e compõe as canções”.

Noel sozinho fez algumas da melhores músicas da década de 90 como: Don’t Look Back In Anger, Champagne Supernova, Live Forever, Cigarrettes & Alcohol, Wonderwall, Whatever e outras.

Noel pensava e criava com espantosa velocidade, isso ele deixa mais ou menos claro no documentário, mas o que não aparece é a sua astucia na escolha do label da banda, o Oasis dentro do quadradinho é algo que todo o inglês quase associa consciente ou inconscientemente com o label da Decca Records. Noel já visualizava a banda como uma das melhores e queria imprimir isso logo de cara.

Sua visão não estava errada, em 3 anos o Oasis tinha dois álbuns incríveis: Definitely Maybe (1994) e (What’s The Story) Morning Glory (1995), um punhado de canções para tocar em Estádios e dinheiro pra uma vida confortável até o fim da vida.

O documentário cumpre a função de apresentar o Oasis para as novas gerações e como os irmãos tocaram a produção do filme, deixaram algumas coisas de fora como por exemplo, as rixas com outras bandas britânicas, em especial com o Blur. (Ou eles ficaram com coração mole ou propositalmente não desviaram o foco dos seus respectivos umbigos.

No mais, as tretas federais entre eles, as doideiras de drogas e alcool, a origem humilde e as besteiras que eles fizeram estão quase todas lá, sem nenhum sentimentalismo e sem pedir desculpas.

O documentário termina com o show da banda para 250 mil pessoas no Knebworth e isso estamos ainda no final de 1996.

Deste ponto em diante, eles continuariam fazendo bons discos, Be Here Now que não foi bem recebido em seu lançamento em 1997 soa melhor hoje do que na época e mesmo com algumas mudanças, a banda nunca perdeu seu “mojo” nos álbuns que vieram depois e nunca fez um álbum que não fosse pelo menos razoável.

O Oasis é parte importante e essencial pra se entender o pop rock dos anos 90, em especial o tal Britpop… um dia escrevo sobre isso.

Abaixo links das minhas favoritas da “dupla” ou “banda”