Billie Holiday – The Essential Billie Holiday Carnegie Hall Concert (1956) (1989)

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Quando se fala em capitalismo exploratório, o mundo do jazz está recheado de exemplos que mostram porque o gênero e sua indústria tem tanto de capitalismo sujo e exploratório.

  1. Sempre tinha um branco com dinheiro botando um preto pra tocar e ganhar pouco, nenhum dos grandes jazzistas até Miles Davis ganhou o tanto que seu talento e a grandeza de sua obra deveria ter voltado em recompensa e a maioria viveu de maneira muito ordinária e com pouco;
  2. Se não era um branco explorando, era um outro preto, e no caso de cantoras de jazz, as vezes era o marido, companheiro ou amante, que além de explorar, costumava sentar o sarrafo na patroa depois dos shows. Obs: se ficasse só na porrada tava bom, com algumas a agressão era o de menos.
  3. O valor irrisório que os músicos ganhavam por sessão de gravação fazia com que tivessem que tocar 12, 14, 16 e até 20 horas por dia (e eles não reclamavam se ganhassem por hora de estúdio);
  4. Nos shows, os artistas negros de jazz levavam menos que artistas brancos, a não ser que você fosse um Louis Armstrong ou uma Billie Holiday, de resto, era o que o sindicato mandasse pagar e as vezes nem isso, por isso que tocavam tanto.

Tem disco que acontece isso também.

E no mundo do jazz e da musica clássica tem muito juntado de repertorio com o intuito de levantar um troco ou cobrir um período especifico de um artista ou banda.

E vamos a Billie.

Esse disco especificamente traz o que seria o essencial da cantora em uma de suas ultimas apresentações no palco do Carnegie Hall em Nova York, e vem acompanhado de uma banda que por si só já seria um time do Brasil de 1970 do Jazz: Roy Eldridge no trumpet, Coleman Hawkins no piano, Chico Hamilton na batera e Kenny Burrell na guitarra só pra ficar nos famosos.

Nenhuma grande inovação no repertorio, tem o fino do repertorio mais popular da cantora: Lady Sings The Blues seguido de It Aint Nobody Business, lá pra frente vem Heart And Soul, My Man, Don’t Explain e fecha com What a Moonlight Can Do.

Repertorio duca, cantora duca, banda duca.

Mas ai voltamos ao tema “indústria do jazz” ou “indústria da musica”, o que faz desse álbum um tanto quando desconectado da cronografia da cantora, lançado fora de época, e que aproveita o mito da artista pra lançar o máximo de coisas possíveis, mesmo que isso signifique lançar material mais ou menos, que é o caso desse disco.

Burocrático, com a Billie já no seu inicio de decadência não ajuda a tornar esse álbum uma obra-prima, nem mesmo um álbum essencial, mas ainda guardo esse disco na coleção pois foi o primeiro play que me introduziu ao mundo da “Lady”, o que não quer dizer que eu tenha chegado ao amago da artista, tanto que ainda acho que Billie Holiday é muito superestimada no quesito jazz, assim como Amy Winehouse é superestimada no quesito artistas dos anos 2000.

Em comum, e o que colaboram para pintar suas biografias com cores diferentes é o fato de terem tido vidas difíceis e mortes prematuras.

De resto, perto das duas consigo juntar umas 23 cantoras muito melhores.

Mas isso é polêmica pra próxima.

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