2020 ainda não acabou…
Publicado; 25/03/2020 | Autor: jpbueno | Arquivado em: Música | Tags: Bambara, Bc Camplight, Damon Albarn, Disclosure, Gorillaz, Grimm Grimm, Haim, Mdou Moctar, Melt Yourself Down, MH The Verb, music in 2020, Napalm Death, Of Montreal, Ozzy Osbourne, The Homesick, The Lemon Twigs, The Psychedelic Furs | Deixe um comentárioEnquanto ficamos todos confinados, voltei pra decretar que 2020 até agora estava surpreendentemente incrível musicalmente falando. Muito melhor do que eu poderia imaginar e isso se deve ao fato de finalmente começar a aprender a usar minimamente algumas das novas tecnologias de buscas e indicações dentro dos streamings.
Além de achar fontes certas pra domar parcialmente esse monstrengo tentaculoso “algoritimico” e tirar proveito dele.
O entusiasmo é tanto que fiquei com uma pontinha de tristeza em não conseguir assistir ao show do Black Midi, que teve suas datas por aqui canceladas. Sem falar no Idles, que já acompanho há mais tempo.
Assim sendo, mesmo com os lançamentos sendo adiados, Record Store Day jogado pro segundo semestre e alguns discos ainda saindo online, dá pra pinçar aqui os melhores acidentes musicais de 2020 nesse primeiro trimestre.
Tem um pouco de tudo, de banda véia soltando música boa, gente que nunca ouvi falar na vida dando e gente que nunca imaginei que fosse escutar pintando por aqui.
Listei aqui as 15 melhores tracks desse começo de ano:
15. The Homesick – The Small Exercise
Direto da Holanda, esse trio proporcionou um segundo trabalho bem bonitinho, tão bonitinho que chamou a atenção da Sub Pop que já tratou de lançar logo em janeiro esse belo apanhado de pop psicodélico adocicado e bem trabalhado. Ao vivo é mais rapidinho, mas igualmente interessante.
14. MH The Verb feat China Kovax / Drusef – Affirmations
MH the Verb, ou Marcus Harris é mais um artista dentro da imensidão do universo Rap / Hip Hop norte americano. Produtor, ativista e rapper, trilha aquela linha mais “chique”, flertando com jazz, space funk e se ligando em gente boa tipo Hypnotic Brass Ensemble e Kid Cudy. O disco é médio, mas essa track é ótima. Progressão de tecladinhos vagabundos com uma batida bonita.
13. Ozzy Osbourne feat Post Malone – It’s A Raid
Quem apostava que o senhor Osbourne tava com os dias contados, tenta a sorte. Ele não só saiu de mais uma, como me soltou um disco bem razoável (Ordinary Man) para os padrões atuais de rock e do próprio Ozzy. Entre algumas faixas ruins e outras mais decentes, ele cometeu It’s A Raid, que é uma das melhores músicas de Mr. Ozzy em décadas e não perde pontos mesmo dividindo os vocais com o pior artista da historia da musica pop, aquele bolha do Post Malone (um mix de rapper, popstar com pinta de chefe de cozinha de food truck de quinta). A faixa é rápida, tem um vertiginoso andamento num refrão mais longo e mesmo com o peso morto Malone usando todo o pró-tools possivel e existente pra tentar segurar sua voz frouxa, a faixa não perde qualidade.
12. Mdou Moctar – Ibitlan
Direto de Agadez, Nigéria, surge mais um fruto do maravilhoso selo Sahel Sounds, especializado em gravar e lançar o que há de mais moderno na música do continente africano. Rock, blues do deserto e tuareg music, Mdou injeta peso e ritmo a esse caldeirão intenso de rock que tem no Tinariwen, o seu mais bem sucedido combo.
11. Of Montreal – 20th Century Schizofriendic Revengoid-man
Pesquisando antes de coloca-los aqui na lista descobri que o Of Montreal existe e lança albuns desde 1997, e não tem metade da badalação que outros neo-psicodelicos tem, mas continua com produção consistente e continua. Esse ultimo play é médio, uma tentativa de correr na onda do Tame Impala, mas essa faixa é uma delicia de indie pop dançante.
10. Haim – The Steps
Confesso que nunca tinha dado muita atenção para o trio feminino Haim. Sempre tinha achado muito superestimado e metido a chique, mas agora me rendo: essa faixa é uma delicia, tem um ótimo refrão (coisa quase extinta entre os artistas jovens de pop), lembra muito a Sheryl Crow dos primeiros discos. Legal, despretenciosa e bem cuidada, The Steps pode antecipar um ótimo disco a seguir.
09. Melt Yourself Down – Crocodile
Direto de Londres, esse combo multi-racial composto por músicos que tocam em diversos projetos pra lá de legais como The Comet Is Coming, Mulatu Astatke e Sons of Kemet trazem uma velocidade punk a um som que flerta com jazz e sons africanos pra atualizar e repaginar o jazz ingles, com temperos cosmopolitas. O 3o album deles sai ainda em Março, se o corona deixar.
08. Gorillaz Feat. slowthai and Slaves – Momentary Bliss
Toda a vez que o Gorillaz bota algo novo na rua é certeza de coisa boa e essa primeira faixa não decepciona. Trazendo duas estrelas ascendentes da música inglesa, o rapper slowthai e a banda Slaves, o Gorillaz consegue se renovar e resignificar sua música para as novas gerações, assim, se mantendo relevante, fresco e eternamente interessante. Esperando muito pra ver o que Damon Albarn e convidados vão trazer para essa primeira empreitada do Gorillaz da nova década.
07. The Lemon Twigs – The One
Deus, que delicia de música! Os irmãos D’Addario tem buscado o pop perfeito desde seus primeiros discos. Praticando o tal “Power Pop”, a dupla acerta com tudo nessa ensolarada emulação de Emith Rhodes e Todd Rundgreen (não tem como errar né?).
06. Grimm Grimm – Death and Scenery
Koichi Yamanoha é um japa cheio de melodias tristes na cabeça. Ao se mudar de Tokyo pra Londres, com a cabeça cheia de Krautrock, experimentalismo nipônico e pop barroco, caprichou num disco cheio de sons etéreos, baladas agridoces e estranhas justaposições de instrumentos antigos com teclados futuristas. Ginomours é seu terceiro album e traz dentre outras, uma luxuosa participação da musa indie Laetitia Sadier (Stereolab). To quase pra afirmar que o disco todo é muito bom, mas até o fim do ano voltamos a ele.
05. Napalm Death – Logic Ravaged by Brute Force / White Kross
E tem pra tudo nesse 2020. Agora o que é esse novo EP do Napalm? Banda histórica e mega importante de Birmingham. Revolucionou o rock pesado no começo dos anos 80 inventando o grindmetal, segue carreira saudável há quase 4 décadas e me vem com uma castanhada das boas. Além da música nova ser uma das melhores deles em mais duas décadas, ainda me fazem uma versão de White Kross do Sonic Youth que liga os pontos das duas bandas de um jeito que eu nunca tinha imaginado ser possível. Coisa de gênio, só isso.
04. Disclosure – Tondo
E 2020 tem realmente sido o ano das grandes voltas e o Disclosure chegou chegando! Já tem um Ep interessante nas plataformas, bem pra cima. Agora essa versão remix de um afro dance beat obscuro do artista camaronês Eko Roosevelt Louis, da faixa originalmente chamada Tondoho Mba vai dar o up que precisava tanto para o Disclosure quanto para o Eko. Obscuridade afro da pesada para as pistas modernas do mundo todo.
03. Bambara – Heat Lightning
Diretamente do Brooklin, mais uma banda de rock a emular os anos 80, o guitar-rock, o showgaze e o pós-punk. Já faz um tempo que eles tão tocando, mas agora acertaram no alvo, já escutei quase o disco todo e é uma beleza… guitarras potentes, baixo alto, bons vocais. Bela banda pra se esperar nesse 2020, se tivermos ainda um 2020 né?
02. The Psychedelic Furs – Don’t Believe
De tudo o que eu ouvi nesse 2020, acho que essa nova faixa do Psychedelic Furs foi de longe a que mais me comoveu. Banda espetacular que fez 3 discos incríveis entre 1980 e 1985, deu um ultimo suspiro em 1989 e entrou num grande hiato. Há alguns anos voltou as atividades com bons shows pela Europa e EUA, mas tava devendo música nova. Agora não deve mais nada, Don’t Believe traz toda a essência dos Furs sem soar datado ou de outro tempo e entra direto entre as melhores que a banda fez desde sempre. Melhor que essa volta, só consigo me lembrar da volta do Echo & The Bunnymen em 1997.
01. Bc Camplight – I Only Drink When I’m Drunk
Esse cara me foi apresentado como dica do algoritmo do Spotify que me “sugeriu” esse som como uma “possível” opção que eu iria gostar. Fiquei absolutamente impressionado, não só com a música que é incrível, mas com o algoritmo também (to até meio assustado). Lendo e indo conhecer mais sobre ele, vi que já fez trampos com Sharon Von Eater e War Of Drugs (gosto dos dois), e que entre períodos de reclusão, costuma soltar trabalhos solos. Já tem duas músicas em 2020 e que promete, se todos chegarmos vivos até o fim do ano, será um dos melhores achados musicais. Guitarras, vocoders e pianos dão a cama para esse folk do século XXI em que a composição se apoia em bases diferentes, me lembrando bastante a abordagem do Grandaddy e Magnetic Fields, pra citar duas que eu gosto.