Minha viagem particular por David Bowie em 10 músicas

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Já adianto logo de cara, nada do que vocês vão ler aqui é analítico, crítico ou revelador a respeito da vida e obra de David Bowie, assim como não vou chama-lo de “Camaleão” ou “Figura icônica do Rock” como andou saindo por ai pelos obituários e quetais.

Não tenho a clareza de texto nem a fluência necessária para discorrer sobre o homem e o mito melhor do que já saiu por ai também…

Tanto aqui quanto lá fora, tenho lido textos ótimos e incrivelmente pessoais. Parece que todo o mundo tem uma historia de amor com Bowie e resolveram expressar esse amor e admiração em belos ensaios.

A falta que ele já faz é acompanhada de uma dor nostálgica, pois já sabemos de cara que nunca mais aparecerá outro igual e nos damos conta o quão privilegiados fomos de vivermos na mesma época que ele.

Tal qual um Bach, um Wagner ou um John Lennon, posso afirmar sem medo que Bowie foi o maior artista que eu vi e ouvi.

Bowie surgiu na hora certa, desenhou uma década inteira com sua assinatura (e o que foi essa década de 70 heim?), rabiscou um tiquinho os tons verde-limão dos anos 80, bagunçou e se perdeu um tanto nos 90 e se reencontrou nos anos 2000 com seu Eu velho e quieto, mas não menos radical e foi com essa armadura que ele se despediu do mundo, deixando tantas perguntas (ele premeditou todo o seu fim? Há quanto tempo ele sabia que ia morrer? Tem mais alguma surpresa escondida?) e respostas escondidas em suas charadas musicais.

Há tanto a agradecer ao velho David.

Agradecer a ele por ter emprestado seu tempo, fama e músicos para ajudar Lou Reed a fazer Transformer (1972) ver a luz do dia (se não fosse por esse álbum, Lou possivelmente só seria lembrado como um dos integrantes do Velvet Undergound).

Idem em relação a Iggy Pop (The Idiot e Lust For Life, de 1977 foram compostos praticamente inteiramente por Bowie e entregues de bandeja ao amigo/mestre).

E agora uma lista muito particular da minha história de vida e onde o Bowie se conectou a ela, trazendo iluminação, alegria, informação ou o sentimento de curiosidade que nos assemelha a outras espécies animais, mas que somado a racionalidade e criatividade é capaz de nos mover a criar coisas lindas e instigantes como a carreira discográfica do homem.

Here we go:

 

Modern Love

A minha mais remota lembrança de Bowie foi justamente com o clipe de Modern Love. Eu adorava a dancinha e a energia dos músicos no palco. Parecia que todo o mundo estava se divertindo muito nesse dia e eu ainda garoto, dançava sozinho no quarto, usando uns ternos do meu pai e até uns blazers da minha mãe (galera, era anos 80, as pessoas dobravam a manga do blazer, super normal). Ainda hoje, acho o refrão dessa música uma coisa de gênio.

 

 

Absolute Beginners

Ainda nos final dos 80, eu gostava muito de ouvir radio de noite sonhando garotas distantes, menos aporrinhações na escola e um algo que ainda não sabia o que era. (sempre gostei mais de rádio do que de TV, by the way) e essa música tocava a beça na faixa das 22h30 ou 23h00 que era quando entravam as faixas mais românticas e Absolute Beginners tocava com certa sequencia e era ótima pra acompanhar o pré sono… Uma das melhores coisas do Bowie pós Lets Dance.

 

 

Starman

Bá, todo o mundo sabe porque. Goste ou não, graças ao “O Astronauta de Mármore” do Nenhum de Nós, a fase antiga do Bowie voltou a circular pelo imaginário coletivo da moçada no final dos anos 80. No meu caso, pela primeira vez. Como não havia internet e os discos do Bowie não se achavam tão fácil, as rádios de “rock” resolveram incluir a versão original em suas programações. Se o Bowie voltou a ficar famoso por aqui, agradeçam aos gaúchos por essa versão honesta.

 

 

Changes

E eis que no começo dos 90, sai no Brasil as reedições de seus primeiros álbuns pela incrível série Sound And Vision, com faixas bônus e tudo o mais. E ai, de presente de aniversario de 17 anos pedi logo uns 3 e quando botei Hunky Dory para ouvir pela primeira vez, logo na faixa que abre, que é Changes, literalmente cai de quatro, não podia acreditar que se podia fazer música assim e fez desse álbum, seguramente o que eu mais escutei na vida. Escutei tanto a faixa 1, que ela literalmente furou.

 

 

Suffragette City

E se já não bastasse Hunky Dory ter causado o estrago irreparável, ainda tinha o Ziggy pra conhecer… e de novo meu queixo foi pro chão. Eu simplesmente não acreditava que existia essa pegada no som do Bowie. Rise And Fall é fantástico, com algumas das melhores guitarras gliter que se tem noticia e Suffragette que é a coisa mais próxima de alegria pura e concentrada em 3’27’’. Outra que eu escutei até furar (quase)…

 

 

The Bewlay Brothers

 

O cara fez letras estranhas, complexas e que pareciam dizer um monte de coisa e nada ao mesmo tempo. Sua capacidade de se esconder por trás de palavras e imagens, fez dele um dos caras mais intrigantes que se tem notícia. Tão intrigante que até suas influências eram codificadas e retorcidas para não se tornarem óbvias. Mas em Bewlay ele presta, na minha opinião, a melhor e mais brilhante homenagem/chupada a um de seus pilares sonoros, o cantor e compositor Peter Hammill. De longe, Hammill foi a figura musical mais importante no som do Bowie (pelo menos nesse começo de carreira).

 

Word On A Wing

Um belo dia de maio ou abril, achei uma edição baratinha do LP Station To Station num sebo em São Caetano, e desocupado/desempregado que estava, levei o trem pra casa e se eu ainda tinha alguma duvida que Bowie era o cara, ela se foi quando eu terminei a primeira audição desse play inacreditável. Aquela edição em vinil baratinha não tenho mais, passei pra frente quando há alguns anos saiu uma edição tripla em CD com um duplo ao vivo dessa época que é uma das coisas mais maravilhosas que existem. Word On A Wing é tão bonita que dói.

 

Boys Keep Swinging

Dos 3 discos alemães do Bowie, o meu favorito é o Lodger (só pra ser do contra) e talvez o seja pois é menos experimental que Low e menos Hit Parade que Heroes. Sacanagem pura, eu adoro os 3 igualmente. O negócio com o Lodger, é que lá tem uma daquelas músicas que só o Bowie sabia fazer, que é o tipo de música que parece ter sido feita só pra você e mais ninguém. Essa é Boys Keep Swinging.

 

The Man Who Sold The World – Lulu

Uma das composições mais geniais e estranhas de Bowie. Ficou histórica com o Nirvana, é estranha com o Midge Ure, mas com a Lulu ficou outra coisa. Com a produção da dupla Bowie – Ronson, arrisco dizer que ficou melhor que a original. Menos hermética, mas sexy e não menos esquisita. Bowie tirou Lulu da candura e a transportou para o bizarro e kinky. I just love it.

 

Scary Monsters

A minha favorita do Bowie. Depois de 10 anos inventando modas e se reinventando em cada disco, ele ainda conseguiu fechar esse período inigualável com um disco soturno, estranho e de beleza indiscutível. Com Scary Monsters, a faixa título ele ajudou a sedimentar e moldar o que viria a ser o rock alternativo dos anos 80. Peso, velocidade e um senso de urgencia e demência. Perfeita.

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