Os melhores de 2013? E teve?

2013 foi parecido com 2012. Coisas interessantes absolutamente escondidas no mundareo de “datas” que são despejados diariamente no mundo da música. Quando você acha que nada mais pode acontecer, não é que ainda tem uma galera fazendo coisas decentes?

E lá vem elas:

12. Parquet Courts – Light Up Gold

Meio punk, meio indie rock 90’s, diretamente do Brooklin novaiorquino, atual epicentro musical norteamericano mais quente de bandas, casas minúsculas de shows e uma galera de movimento.

O Parquet traz boas referências sonoras e um certo desinteresse genuíno em querer ser aceito pelo maldito mainstream indie que insiste em te vender Vampire Weekend (que é lá do Brooklin também) e Lorde como tais.

Barulhinho bom e meio destrambelhado, o Parquet é bem decente e virou favorito aqui em casa.

11. M.I.A. – Matangi

M.I.A é a artista feminina mais importante dessa decada.

Mesmo com discos espetaculares, eu ainda achava que ela não tinha achado sua voz de verdade.

Acho que em Matangi ela achou! E como!

Sexy, moderna e com um apetite pela destruição, M.I.A. quer ver o circo pegando fogo e seu som traduz bem essa busca.

Pesado, estranho e sem amarras, Matangi é compreensível em qualquer lugar que tenha periferia, violência e esperança, mesmo que ínfima.

10. Grant Hart – The Argument

Um disco pequeno. Pequeníssimo!

Que poderia ter sido lançado em 2013, em 1993 ou em 1988.

Atemporal e urgente como tudo que Grant Hart fez em sua vida útil com o Husker Du e fora.

Grant é um outsider legítimo, dono de seu tempo e obra. Talvez um dos últimos que ainda circulam por ai.

9. Kavinsky – Outrun

Absolutamente animal! Esse disco é pra quem gosta mesmo de música eletrônica movida a botões, válvulas e um cheiro de retro por todos os lados.

A melhor coisa do filme Drive é a trilha sonora de eletro-rock, synth pop e robot house sabiamente empregada durante todo a fita e foi nesse contexto que o nome de Kavinsky aparece pela primeira vez para o grande público.

Kavinsky é um personagem de fiçção retro-futurista, inventado pelo produtor musical frances Vincent Belorgay, cabeça por tras da persona e do album.

Petardo rigorosamente ignorado nas listas de final de ano da galerinha sabida.

8. Charles Bradley – Victim of Love

A história do cara é tão boa quanto a música que sai desse álbum maravilhoso.

Charles viveu na rua, passou por programas de inclusão social, seguiu com subempregos por quase 30 anos, enquanto seus projetos musicais não davam certo, até que o cabeça da Daptone Records escutou o vozeirão de trovão de Charles e finalmente aos 54 anos, conseguiu lançar seu álbum de estréia em 2012.

Victim of Love é seu segundo álbum, feito com esmero e timbragem dignas dos grandes discos de soul music dos anos 60, cortesia dos músicos apaixonados por soul que fazem o selo Daptone ser um dos mais sadios e espertos refúgios de boa música nessa decada digital.

Seguramente trata-se de um album completamente dissociado de nosso tempo, é quase uma pedra de Rosetta de nossos tempos. Dane-se, Victim é impressionante e prova cabal que talento com perseverança um dia dá em alguma coisa.

7. The Strypes – Snapshot

Sim, o The Strypes tem todo o jeito e cara de armação da semi-morta indústria da música (eu adoro armações desse tipo, porque alguém dorme no ponto e coisas boas acontecem!).

Sim, o The Strypes foi descoberta e apadrinhada por Noel Gallagher e Elton John.

Sim, o The Strypes é banda de moleque, o mais velho não tem 18 anos.

Sim, são eles que tocam e compoem as songs (quando eu ouvi pela primeira vez eu não acreditei que uns pirralhos de 17 anos estivessem tocando com essa maturidade e pegada).

Se rock and roll tem algum futuro e se é que precisa de um, então o The Strypes tá no caminho.

6. David Bowie – The Next Day

E quando ninguém mais esperava nada do Bowie, não é que ele me solta um disco como esse The Next Day.

Um senhor álbum com muita cara de final dos anos 70 e começo dos 80. A referencia é o Scary Monsters, mas acho que Next Day poderia ter sido o disco seguinte, ao invés do popaço Lets Dance, ou algo ali no periodo Tin Machine.

Nada em The Next Day sugere mostras de ferrugem ou limo, tudo ainda soa fresco, esperto e com muita fome. Bowie sugou seu próprio sangue mais jovem pra criar um sensacional e nada maduro álbum pra ensinar como se faz um bom esporro com pouco barulho e idéias arejadas.

5. Chance The Rapper – Acid Rap

Olhando pra frente, um moleque de 19 anos chamado Chancelor Bennett, usou a informação e o boldo cultural de sua Chicago (leia-se, todos os blacks que o antecederam, no Jazz, no Soul e no Rap) e criou uma deliciosa Mixtape que espanta pela leveza e modernidade. Só faltou um hit a la Hey Ya pra transformar esse cara no cara logo no seu primeiro respiro ao mundo.

Guardem esse nome, se o futuro ainda privilegiar talento e visão (acho que sim), a ponta de lança da música americana está na voz e nos beats de Chance The Rapper.

4. Death Grips – Govemment Plates

Violento, moderno e extremo.

O projeto Death Grips desafia generos, rótulos e carimbos desde que eles apareceram chutando todas as portas em 2011. Impressionante, não dá pra ficar em cima do muro.

Mais do que se posicionar, é entender o que está acontecendo. Muita coisa acontece em pouco tempo, você fica tonto e quando começa a entrar no som dos caras, a viagem vai fundo.

Digital e artificial, tudo é construido sob base de ruidos, barulho metálico e um senso quebrado de ritmo que não tem adversários a altura.

3. Daft Punk – Random Access Memories

De longe, o álbum pop mais importante do ano.

Pro bem e pro mal (mais pro bem), o Daft Punk bolou um surpreendente e ambicioso retorno a um tipo de pop construido nos anos 70 que não emula somente o funk ou a disco, mas também um tipo de pop radiofônico feito por gente barbuda nessa mesma época.

Random é um excelente e inesquecível apanhado do bom pop pra adultos que se fez nessas últimas decadas (tem referencia pra todo mundo, seja Mike Oldfield a Chic, passando por E.L.O. e Steely Dan).

Todos os créditos e glórias que o disco e o Daft estão colhendo são justos e confesso que relutei a aceitar esse álbum.

Não reluto mais.

2. My Bloody Valentine – Mbv

Só existe uma razão sensata para esse álbum estar aqui nessa lista. O disco existe e ponto.

22 anos se passaram e o som da banda continua praticamente igual ao seu clássico Loveless. Músicas longas, guitarras que vão longe nos efeitos, vocais que vão longe também, praticamente indecifráveis.

Continua tudo lá, inclusive a sensação de que as músicas vão se despedaçar no meio ou virar fumaça de tão frágeis.

Mas a sensação quase familiar de reencontrar alguém muito querido é reconfortante e nem sempre se precisa andar pra frente em busca do novo. Ele pode estar estacionado bem do seu lado e te fazendo olhar pra tras.

1. Kanye West – Yeezus

Well baby, isso é a coisa mais inesquecível de 2013.

Goste-se ou não do cara e ele nunca fez questão de agradar ninguém aliviando no quesito som.

Ultimamente ele tem chutado o balde em disco após disco e Yeezus é um passo gigantesco para fora do gênero de Rap pra começar a virar algo muito maior, talvez ficando do tamanho de seu ego.

De todo o modo, Yeezus é o marco musical desse ano. Não teve a visibilidade de outros pares, mas a dureza de seu discurso, a virilidade do som e a escolha pelo soturno, já fazem desse disco um clássico.

Se o Rap é o som que melhor representa a Black Music nos ultimos 20 anos, então me permito uma digressão.

Pode parecer uma grande viagem minha, mas em termos de rompimento com o gênero e ponto de mutação pra algo que virá no futuro, Yeezus pode significar o mesmo estrago que Whats Going On, do Marvin Gaye causou nos anos 70 do século XX.

Queria explicar melhor, mas deu.

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