E o 1997 foi o meu 1967

Não lembro de muita coisa que eu fazia nessa época.

Mas de alguma coisa sim.

Estava trabalhando, tive apendicite no dia da colação de grau na faculdade e fui dançar na festa de formatura com um estêncil e sangrando que nem um porco.

No mais, só lembro de ter escutado a maior quantidade de discos incríveis que escutei na minha vida de jovem adulto fã de indie rock e praticamente toda a semana eu comprava Cds incríveis lançados naquele ano.

A efervescência estava no máximo!

Praticamente tudo era boa noticia no campo dos lançamentos em 1997!

Como eu transitava pelo indie rock, aquele ano foi apoteótico. Rupturas por todos os lados.

O Radiohead calava fundo o mundinho com seu lindo e festejado Ok Computer, o Oasis botava gente de madrugada na fila de loja de discos para comprar seu novo single e posteriormente pra comprar seu álbum Be Here Now (na época recebido friamente, ouvindo hoje, sobreviveu bem ao tempo, um disco que tem uma balada linda como Stand By Me não pode ser de todo o ruim, certo?).

O “Techno” avançava sobre nossas cabeças provocando discussões acaloradas sobre o futuro da música enquanto Chemical Brothers e Prodigy levavam seus beats a todos os cantos do mundão e tomavam de assalto a atenção de todos, no caso do segundo com direito a algumas polemicas no campo videoclipico como no emblemático e clássico da subversão Smack My Bitch Up.

O conglomerado Wu-Tang Clan apavorava em um segundo álbum mais festejado hoje do que na época e apontava uma direção do que viria a ser o Rap nos anos 2000.

Roni Size fez o disco do futuro que menos se lembra hoje em dia (drum and bass fazia parte do reino “Techno”), mas outros também embalaram de cabeça no d&b como Bowie e Nine Inch Nails. Mas nessa praia ainda sou fã do Photek:

Porém não posso negar que o NiN quase chegou la:

Mesmo no campo rock and roll, tudo ia bem obrigado: O Foo Fighters lançava seu melhor disco: The Colour And The Shape e o Blur surpreendia de novo e conquistava o resto do público que lhe faltava com seu album homônimo, com a ajuda da famosa “Song 2”.

Outros grupos incríveis como Superchunk, Geraldine Fibbers e Guided By Voices arrebentavam com ótimos plays e na area do violão com emoção Elliot Smith lançava o mágico Either/Or e um tal de Belle And Sebastian vinha com If You’re Feeling Sinister e um Ep com a melhor música daquele ano: Lazy Line Painter Jane.

 

No frigir dos ovos, alguns dos melhores discos daquele ano não tiveram a devida atenção, e outros dos meus favoritos sequer foram citados em alguma lista.

Num exercício de listas, faço um afetivo esforço pra empilhar os meus 10 favoritos desse ano intenso, e que não necessariamente apontaram o futuro, mas se tornaram eternos para mim. Deixei o Radiohead de fora de propósito, semana que vem escrevo sobre Ok Computer, o disco que mais amei e odiei na vida.

 

  1. Dig Your Own Hole – The Chemical Brothers

Esse segundo álbum da dupla britânica foi lançado com o jogo praticamente ganho, a torcida para que o disco fosse bom era tão grande que mesmo se fosse um meia boca já ia ser bom. Mas o álbum é espetacular, ultrapassou a fronteira do gênero techno, foi adiante (muito adiante). Agregando Hip Hop, eletrônico antigo, psicodelia e pop, as camadas de influencias desse play desafiaram o ouvinte a uma divertida aventura pelos bimps and bloims…

 

  1. In It For The Money – Supergrass

O Supergrass já era uma banda legal em 1995, fizeram um dos melhores shows de festival que eu vi em 1996 (segunda banda, do segundo dia de Hollywood Rock no Pacaembú em SP) e lançaram essa obra prima de rock e do pop britânico absolutamente 90s. Infelizmente, prestou-se pouca atenção a esse disco do trio de Oxford, o mundo e a “maldita” mídia queriam coisas mais complicadas, e In It era simples demais para eles. Hoje soa melhor que na época e se o mundo jovem ainda curtisse um rock, esse seria um ótimo disco pra se lembrar 20 anos depois.

 

  1. The Soateramic Sounds of Magoo – Magoo

Direto da Escócia, não só um dos meus favoritos do ano, mas favoritos da vida. Guitar band soturna, com algumas das minhas favoritas ever. Não saiu do gueto e tão pouco pegou lista em alguma publicação musical, mas aqui no coração desse jovem adulto indie rocker, bate e cala fundo ainda hoje.

 

  1. Ladies and Gentlemen… We’re Floating in Space – Spiritualized

Jason Pierce, o cabra por trás desse grupo produziu alguns dos maiores petardos sônicos dessa década, seja ao lado do Spacemen 3, seja com o Spiritualized. Nunca fez discos ruins, mesmo quando enveredaram para um perigoso caminho de progressivo/psicodelismo. Aqui, eles estão maravilhosamente equilibrados nessa beirada dúbia e esse álbum foi decisivo para a banda. Tão decisivo que dividiu a preferencia dos especialistas britânicos na época. Ou era Spiritualized ou Radiohead e ainda tinha o Verve de opção.

 

  1. Time Out Of Mind – Bob Dylan

De tão bonito, chegou a dar aperto no coração na época. Parecia disco do tipo “Canto do Cisne”, ultimo momento antes do fim. Felizmente ele continua vivo e lançando álbuns incríveis, e Time aparece não só nessa lista de 97, mas com certeza entre os melhores disco de Dylan desde sempre.

 

  1. Tellin’ Stories – Charlatans

O disco é não só incrível por sua qualidade musical, mas veio carregado de muita emoção por ser um álbum homenagem ao tecladista Rob Collins, que faleceu em um acidente de carro um ano antes. A banda juntou os cacos, exorcizou a tragédia e colocou no mundo esse belíssimo tributo, regado de referencias a Bob Dylan, Band e mesmo assim, não saudosista. Absolutamente 1997.

 

  1. Evergreen – Echo & The Bunnymen

A melhor volta de uma banda em disco. Escutei esse disco até furar. Presente, atual e eterno. Letras incríveis e extremo cuidado na produção fizeram desse álbum uma deliciosa e inesperada surpresa pra quem não esperava mais nada dos “Coelhinhos”. Pop britânico grandioso, ambicioso, a moda antiga (não tão antiga assim, by the way).

 

  1. I Can Hear The Heart Beating As One – Yo La Tengo

O Yo La Tengo já era uma banda incrível, mas aí eles cometem um disco como esse. Não dá pra não amar loucamente. Na medida certa entre o sensível, o rock, a vanguarda. Parece ter sido produzido sob a mesma poeira sônica edílica que um álbum do Velvet Underground. Sutileza, beleza, estranhezas… inesgotável qualidade de cabo a rabo.

 

  1. The Boatman’s Call – Nick Cave & The Bad Seeds

Disco da fossa de Nick Cave, quase um barroco contemporâneo. O álbum mais bonito da carreira da banda onde tudo é tocado com tranquilidade e beleza, sem barulho. Ouve-se os ecos das cordas reverberando no fundo do salão de gravações e parecem acrescentar texturas extras aos sulcos desse play. Execução impecável, instrumentação perfeita e um som quase sobrenatural que ouvimos silêncios, respiros, cadencia além das canções desse álbum. Triste e bonito como poucos.

 

  1. Vanishing Point – Primal Scream

De longe, deve ter sido o Cd que mais escutei naquele ano. Primal Scream estreando Mani (Ex-Stone Roses) no baixo. O que era bom, conseguiu ficar muito melhor. Vinhetas instrumentais matadoras, clima 70s, produção destruidora, flerte de psicodelia, rock, eletrônico, dub e uma cover de Motorhead… precisa de mais? Ignorado em quase todas as listas, Vanishing seguiu um ponto que o Primal iniciou em Screamadelica (1991) e culminaria na pancada Xterminator (2000).

Menções honrosas, só não entraram por que eram só 10:

Dig Me Out – Sleater-Kinney

 

Lunatic Harness – µ-Ziq

 

Brighteen The Corners – Pavement

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Os meus anos 90 em discos – Parte 1

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Anos 90, década da minha juventude perdida.

A decada do Neo-liberalismo, da terceira via, do Plano Real, de Pete Sampras x Andre Agassi, de jogos do Campeonato Carioca de segunda-feira na Band, de Yahoo, Cadê e Altavista, de Tiazinha, Feiticeira e Hzetes, de Britpop, Grunge, Tecno e Pos-Rock.

Assim como os anos 90 findaram o glorioso e tenebroso século XX, parece também que os últimos grandes discos que realmente interessam surgiram nesse periodo (em breve um post sobre os anos de 1991 e 1997 especificamente).

Devorava de tudo, começava a desbravar os gêneros e não me limitava mais ao rock and roll. Cavucava no passado, mas o presente era tão empolgante, existiam tantos artistas bons fazendo coisas interessantes que tudo o mais ficou velho. O novo era o que mandava!

Não vou listar aqui nenhum guia definitivo da decada, poucos aqui se encontrarão em listas de entendidos ou especialistas, mas essa não é a intenção também.

A lista é um guia pessoal meu, discos pelos quais guardo imenso carinho e amor e que me fazem bem ou mal ainda hoje. Há aqui discos que fizeram verdadeiros estragos na minha cachola e outros que simplesmente esquentam meu coração.

Por ser um post longo, dividi a lista em duas. Ao longo dessa semana ou semana que vem mando os 10 derradeiros.

Enjoy the ride!

  1. BellRays – Let It Blast (1998)

Imagine um som que tenha a pegada e o poder de fogo de um MC5 com uma cantora a la Tina Turner a frente. Essa era ou ainda é a formula do BellRays, e esse álbum de estreia deles lançado no final da década de 90 é absolutamente arrasador. Rock vintage antes de virar objeto de adoração hipster nos anos 2000, esse álbum é alto, vigoroso e bom de cabo a rabo. Good Behavior não faria feio em nenhuma banda californiana dos anos 60, Black Honey é daqueles milagres de composição que tudo é absolutamente perfeito. Atenção, se você for escutar esse álbum no Spotify, a sequencia lá está errada e Black Honey lá é a faixa Blues For Godzilla.

 

  1. The Posies – Amazing Disgrace (1996)

Herdeiros diretos do power pop perfeito praticado pelo Big Star nos anos 70, The Posies atingiu a perfeição nesse algum maravilhoso e cantarolável em quase todas as faixas. De tão bom que eles são/eram, dois deles acompanharam Alex Chilton num breve retorno do Big Star nos anos 90. Barulhento e melodioso, chegou a ter música nos hit parade de rádios rock com a linda Please Return It. E olha que nem é a melhor do disco: Grant Hart, Everybody Is A Fucking Liar e Daily Mutilation só não tocaram no radio por causa de seus conteúdos líricos impróprios.

 

  1. Girls Against Boys – House of GVSB (1996)

Esse é daqueles álbuns impossíveis de se imaginar gravado em outra década que não fossem os anos 90. Dois baixistas apaixonados por black music, um baterista monstro e um cantor bastante emotivo. A combinação estranha chegou ao perfeito desequilíbrio nesse álbum. A banda tinha tanto potencial que em seguida foram contratados por um grande selo, tinham tudo para explodir mas não deu certo, o mundo já era outro. House of GVSB tem 3 clássicos de 1996: Super-fire, Disco Six Six Six e a já nascida antológica Crash 17 (X-Rated Car).

 

  1. Bailter Space – B.E.I.P (1993)

A misteriosa e estranha banda da Nova Zelândia Bailter Space provou que qualquer um podia fazer música. Olhando para os fulanos, eles tem cara de tudo menos de roqueiros, mesmo assim conseguiram fazer um bom nome no underground global, quando esse negocio ainda existia. Ep de 4 faixas que mostram bem o som noise, mantrico e torturado da banda. 4 faixas impecáveis do bom indie rock noventista, com destaque para X (minha favorita) e Projects (estranhíssima). As vezes, menos é mais e esse é o melhor exemplo que conheço.

 

  1. Underworld – Second Toughest In The Infants (1996)

1996 foi o ano em que o “Tecno” tomou conta do mundo. A música eletrônica chegava de assalto ao mainstream e o Underworld lançou, na minha opinião, o disco mais importante do gênero nos anos 90. Há quem goste de outros, mas não dá pra negar a importância desse petardo. Definiu um gênero, nasceu grandioso, relevante e ainda hoje é um álbum absolutamente atual e poderoso. Me acompanhou em muitas viagens de carro e em muitas noites de discman… Juanita e Rowla são as duas pepitas desse clássico.

 

  1. Magoo – The Soateramic Sounds Of… (1997)

Banda de guitar rock inglesa que não deu muito certo, mas que caiu nas graças de John Peel e lançou um dos discos mais obscuros de 1997, o ano em que tudo aconteceu no mundo da música. Esse pequeno e agraciado álbum contem algumas das minhas músicas favoritas dos anos 90 como The Starter’s Gun, Red Lines e a absoluta Your Only Friend, cujo refrão poderia ser um hino de uma geração “sometimes music is your only friend”. De cair uma lagrimazinha…

 

  1. Guided By Voices – Under The Bushes Under The Stars (1996)

Robert Pollard e sua turma produziram dezenas de álbuns nos anos 90, alguns clássicos como Bee Thousand ou Allen Lanes, alguns bons como Mag Earwhig!, mas nesse álbum de 1996, eles cometeram algumas faixas que nasceram históricas e clássicas como The Official Ironmen Rally Song, Your Name Is Wild e Drag Days. Hinos obrigatórios pra todo o mundo que um dia se fez de franjinha nessa década.

 

  1. Reverend Horton Heat – The Full-Custom Gospel Sounds Of (1993)

Não consegui me decidir sobre qual álbum do Reverendo escolher, fiquei entre esse e o álbum de estreia Smoke’em if You Got’em, ambos escutados até furar. O voto de minerva foi 400 Bucks, possivelmente o melhor rock vintage feito nos anos 90. Muitas vezes o disco não precisa mudar o mundo, ele só precisa ser muito legal, mas legal nível “muito do caralho” e esse é o caso desse disco.

 

  1. The Nomads – Powerstrip (1994)

Outra banda do coração. Diretos da Suécia, essa banda de rock garagista me deu algumas das maiores alegrias que se pode ter ao escutar discos e especialmente nesse álbum, tem a melhor balada de rock dos anos 90 ou pelo menos a minha balada rock favorita: Sacred. O resto do disco é sensacional, mas Sacred já seria suficiente para dar esse ranking pra banda.

 

  1. The Mummies – Never Been Caught (1992)

Quando a lenda a respeito dos Mummies chegou por aqui, e ao mesmo tempo consegui achar seus álbuns tive pela primeira vez a certeza de achar uma banda pra chamar de minha. Mais tarde, descobri alguns outros fãs ilustres como o pessoal do saudoso Garagem, extinto programa de rádio que tocava só coisa boa e era apresentado pelos jornalistas André Barcinski, Paulo Cesar Martim e Alvaro Pereira Jr. A banda já nasceu “mitada”, 4 caras que tocavam trajados como múmias, saiam em turnê num carro funerário, tocavam rock garageiro poderoso e tinham um pacto de que se um dia fossem convidados para gravar por uma grande gravadora eles acabariam com a banda, um dia o convite veio e eles realmente encerraram as atividades por um tempo (hoje eles costumam tocar por ai). Ps.: é o único dos discos que nunca foi lançado em CD, eles se recusavam a lançar no formato.

… Stay tuned for more rock and roll… em breve o meu top 10.