Os melhores acidentes musicais de 2019.

imgres

Depois de um longo mas não tenebroso inverno, resolvi voltar a batucar um monte de achismos aqui nessa página.

A desilusão em produzir conteúdo depois de tanto tempo fazendo veio de uma preguiça cavalar, somado a novas atividades profissionais que deixaram o tempo disponível para isso cada vez mais escasso e raro.

Mas, sem prometer muito, vou vez ou outra voltar a escrever por aqui. Vai que alguém ainda se interessa né?

E pra voltar, nada melhor que uma listinha de melhores do ano.

2019 teve mais coisas a celebrar do que eu pensava, mas tá mais que na hora de olharmos para esse momento com olhos e ouvidos arejados pra entender que, se o jeito de lançar musica mudou, o jeito de qualificar também mudou.

Acho que não faz mais sentido classificarmos como “melhores álbuns”, ou “melhores canções”. Tá tudo meio híbrido, quase nenhum artista tem essa vontade toda de produzir álbuns e na real a grande maioria não tem mais essa competência. Se voce pegar todas as listas que já andaram pipocando e pinçar o primeiro lugar dessa lista, duvido que seja um disco ótimo de cabo a rabo.

A gente quer que seja, mas na real, forçamos um pouco a amizade pra agradar nossos critérios velhos e desatualizados.

Ex máximo: Ghosteen, novo album do Nick Cave and the Bad Seeds. Album que levou o primeiro lugar em diversas publicações e sites especializados. Sendo muito fã de Nick como eu sou, e com muito boa vontade, esse disco não consegue ficar nem entre os discos médios que andou lançando no meio da década de 2000. Além de ter pouquíssima relevância com o hoje, parece deslocado e escolhido por absoluta preguiça ou falta de alternativas.

Na verdade, o que pecamos é continuar a pensar em rankear as coisas através de critérios que são irrelevantes, ou quase.

Assim, resolvi arriscar no que me pareceu mais óbvio e seguir as tracks mais relevantes e que mais falam com esse 2019 louco que encerra a segunda década dos anos 2000.

Então sem mais delongas, lá vai:

15. The Specials – Black Skin Blue Eyed Boys: Só o fato do Specials ter voltado depois de anos sem lançar nada já seria uma boa noticia, mas ficou melhor ao sabermos que essa banda ícone do movimento Ska Ingles, voltou com um decente disco que mescla covers e inéditas e que ainda chegou a um primeiro lugar nas paradas inglesas. Destaque pra essa cover da banda de soul/rock The Equals. Mais do que adequada aos dias de hoje.

 

14. The Comet Is Coming – Summon The Fire: Dentro do que se entende por jazz, esse trio londrino se encaixa perfeitamente por captar elementos do gênero, joga-lo na rua e fazer algo novo e bom! Baita banda, ao vivo deve ser eletrizante. Funk, espacial, eletrônico, experimental. Assinaram com a Impulse! um dos mais importantes selos de jazz, alguma coisa deve ter por ai.

 

13. Coldplay – Arabesque: Nunca imaginei na minha vida que eu ia associar Coldplay com algo bom, mas não é que nesse disco atrapalhado, meia boca e cheio de exageros, eles fizeram um track incrível? Longa, despojada, meio jazzy e nem parece com a banda. Por isso que é bom? Talvez. Fato é que essa música é melhor do eu poderia supor que a banda conseguiria entregar nessa altura do campeonato.

 

12. The Chemical Brothers – Free Yourself: Mais um que fazia tempo não apresentava nada de muito bom e que esse ano resolveu fazer música pra lá de boa. O album é médio, mas essa faixa e esse clipe são incríveis e por isso já vale a presença aqui nessa lista de acidentes. Trazem aquele frescor que os lançaram nos anos 90 e os transformaram num dos mais artistas mais importantes daquela década.

 

11. Black Alien – Take Ten: A música brasileira vai melhor do que se imagina, muita gente interessante fazendo música pelo subterrâneo. O veterano rapper carioca volta com um disco rotundo e contundente que já virou peça rara de colecionador. Essa é a que mais gostei do play, mas tem mais umas 3 que poderiam seguramente estar aqui. Folego, discurso e som. Black Alien arrebentou!

 

10. Hot Chip – Why Does My Mind: Outro “veterano”da geração anos 2000 que tirou um belo punhado de sons da cartola. A Bathful of Ecstasy é uma bela coleção de synth pop escapista e melancólico que há muito eu não ouço por ai.

 

09. Michael Kiwanuka – Rolling: O disco é bom, não é incrível, mas o guitarrista e “soulman” já tem grande bagagem tocando seus projetos como em parceria a outros artistas. Essa faixa é deliciosa e lembra muito o Beck dos anos 90, boa levada, som gostoso da cozinha e timbres precisamente escolhidos. Nostalgia 90’s.

 

08. Danny Brown – Best Life: Já acompanho esse moço há alguns anos e ele não decepciona. Dentro do Rap, dá pra cravar que é o que conseguiu produzir mais música boa de todos os seus pares. Menos badalado que Kendrick Lamar, menos popular que Kanye West, Danny segue beirando o mainstream sem perder a qualidade.

 

07. Wayes Blood – Andromeda: Tenho andada há um tempo viciado nessa canção, principalmente na volta do trabalho pra casa. Balada linda que lembra um pouco o This Mortal Coil, Cocteau Twins, meio eletrônico e dream pop com uma Karen Carpenter moderna cantando com muita alma. Banda promissora. Aguardemos mais.

 

06. Spielbergs – Distant Star: Talvez a canção mais rock de 2019, indicação do meu chapa André, que costuma caçar bandas novas na esperança eterna de encontrar um bom show de gente jovem que ainda não abandonou as guitarras. Spielbergs tem energia, toca alto e fez um quase clássico do indie rock anos 2000. Lembra muito o Superchunk, mas isso não tira o mérito deles, pelo contrário. Respeito máximo!

 

05. Fontaines D.C – Liberty Belle: Sem medo de errar, dá pra cravar fácil que esse álbum de estreia do Fontaines D.C. chamado Dogrel é o melhor disco de rock que ouço em um bom tempo. Achei até melhor que o do Shame (Songs Of Praise – 2018). Guitar rock com bateria alta, baixo corrido, vocal meio falado. Boas referencias do que veio ali atras, mas com jeito fresco e novo. Tem tudo pra ser grande, se for, sorte nossa!

 

04. Purple Mountains – All My Happiness is Gone: Acho que a história por trás desse projeto é tão fantástica e trágica quanto a música. David Berman, cantor, poeta, escritor e guitarrista que há um bocado de tempo teve uma banda sensacional chamada Silver Jews e que depois de 10 anos sem lançar nada, botou no mundo esse belo e cuidadoso álbum/projeto Purple Mountains. Dois meses após o lançamento, David, que já vinha de histórico complicado, cometeu suicídio. Beleza precedida de fim trágico, difícil não escutar essa canção e ficar impassível. Uma das mais bonitas composições que escuto em anos.

 

03. Céu – Coreto: Gênia! A cantora e compositora Céu está construindo uma carreira discográfica absolutamente marcante e diferente de quase todos os artistas em atividade no Brasil e no mundo, inclusive muitos citados aqui. Ela ainda consegue ter fôlego e tarimba para lançar um disco bom de cabo a rabo! Alias, mais um disco incrível de cabo a rabo. A canção pinçada aqui é um belo crossover de soft rock e pop moderno. Uma ótima letra, mas acima de tudo, um andamento e um crescente pra chegar no refrão mais surpreendente do ano. Gruda mais que chiclete.

 

02. Idles – Mercedes Marxist: O Idles é a banda de rock mais importante do mundo já faz um tempo e eles continuam não decepcionando. Letras profundas com um instrumental pra lá de urgente. Esse ano de 2019 eles lançaram só um compacto com duas pauladas. Uma delas, gerou esse clipe maravilhoso. O único motivo que me tiraria de casa pra assistir ao Lollapalooza 2020 no Brasil é saber que eles vão estar por lá. Deve pintar show deles em alguma casa menor por aqui, estarei lá batendo cabeça.

 

01. Billie Eilish – Bad Guy: Toda essa ideia de “acidentes musicais” me veio com mais força graças a essa “pirralha”. Seu disco fez a cabeça de muita gente, a mídia se derramou de amores por ela, e Billie é a atual queridinha de grande parte de adolescentes sofredores mundo a fora. Sua carreira tem sido dirigida meticulosamente, nada disso é feito ao acaso, mas independente de ser “de verdade”ou não, i don’t care. Bad Guy é a música mais 2019 de 2019. Tem tudo que precisa pra representar esse fim de década. Minimalista, seca e que traz um fiapo de melodia com uma construção vocal cansada, preguiçosa e entediada que culmina com o refrão mais importante dessa geração.. “Dãã”. Uma expressão de desprezo que diz mais do que muito bla-bla-bla vazio. Irresistível.

Publicidade

Melhores de 2016 – The New hope

Quando eu revejo as listas que eu fiz de melhores discos do ano (e todo ano eu faço uma, como quase todos os meus amigos fazem), duas coisas saltam aos olhos:

  1. Sempre reclamo que a safra tá ruim, que tamo indo de mal a pior, mas que apesar dos pesares, algo levanta do lodo e faz o ano valer a pena.
  2. Quase não escuto mais os discos dessas listas que eu fiz, salvo uma meia dúzia e bem contada.

Assim, conclui com isso, que esse tipo de lista hoje não faz mais sentido, digo, no sentido como conhecemos esse tipo de listas (10 melhores, 20 melhores, etc), assim aproveito esse singular momento desse inesquecível (mais para o mal) 2016 para fazer uma lista diferente e aproveito para fazer meus votos para que os artistas do mundo todo se manquem e aproveitem a infinidade de idiotice, caretice e retrocesso galopando em nossas direções e realmente usem esses tempos bobos e sombrios como vitamina pra produzir coisas ótimas!

Ai vai a minha lista desconstruida e sem ordem fixa, mas com algo em comum (em 5 anos certamente estarei escutando esses discos ainda):

 

Melhor Revival/Ressurreição musical de 2016:

The Monkees – Good Times!

E não foi só de mortes que vivemos o 2016, O Monkees voltou com um disco ótimo (sua ultima ressurreição foi o fraco Justus em 1996). Pop/rock old fashion, meio 90’s, com produção competente de Adam Schlesinger (do Fountains Of Wayne), trouxe uma boa vibe e de quebra conta com duas pérolas do pop rock contemporâneo “She Makes Me Laugh”, melhor composição que o River Cuomos (Weezer) fez em décadas e “Birth Of An Accidental Hipster”, parceria de Paul Weller e Noel Gallagher.

 

Melhor Disco de Heróis Dos Anos 90 Que Ainda Tem Garrafa Vazia Pra Vender:

Underworld – Barbara, Barbara, We Face A Shining Future

Fazia tempo que eles não lançavam um disco tão bom quanto esse. Passado da 5a faixa e o disco continua excelente, pros dias de hoje isso é muito, believe me!. Essa surpresa pode ser, em parte, atribuída as andanças de Karl Hide (vocalista e letrista) com outros músicos (aproveito pra indicar também seu álbum em parceria com o Brian Eno). Ajudou a repaginar o Underworld dentro desse mundo dominado por DJs superstars pouquíssimo criativos. Tem um que de The Fall ou eu to muito louco?

 

Melhor Disco de Krautrock Fora Dos Anos 70:

Sunns – Hold / Still

Vi que não entrou em nenhum lista das modernidades e dos sites e blogs de musica descolados. Não entendi? O som dos caras é hipnótico, tive o prazer de vê-los ao vivo nas férias e o disco tem todos os bons elementos de um krautrock com strudel, mas os canadenses devem ter atrasado o boleto do jabá para os blogs e ficou de fora de todas as listas.

 

Disco Mais Importante de 2016:

David Bowie – Blackstar

Por razões óbvias, Blackstar já nasceu clássico. Confesso que só consegui ouvi-lo 1 vez, ainda não estou completamente pronto pra ele. Hoje como álbum, não consegui gostar de verdade, não como gostei do anterior The Next Day (esse figura entre os melhores de Bowie). Volto a falar de Blackstar daqui uns 10 anos. Em tempo, I still miss Bowie …

 

Melhor Disco do Melhor Artista Ainda Vivo:

Nick Cave & The Bad Seeds – Skeleton Tree

Já escrevi sobre ele há alguns meses atrás e não retiro uma virgula. Passou o ano e continua sendo tocante, importante e espero que a coragem e forca que os fizeram levar o disco ao mundo como o fizeram, os façam levar essa beleza aos palcos também. Esperamos todos ainda estar vivos para ver Mr. Cave e trupe destruindo tudo.

 

Segundo Melhor Disco Da Melhor Artista Mulher Ainda Viva:

PJ Harvey – The Hope Six Demolition Project

O disco é ótimo, inferior ao seu anterior Let England Shake, mas infinitamente superior a todas as demais artistas de saias que circulam pelo planeta.

 

Melhor Disco de Metal de 2016:

Kverletak – Nattesferd

Ótimo ano para ser metaleiro, daria pra listar aqui pelo menos mais uns 4 ou 5 discos ótimos de metal lançados em 2016 como os franceses Gojira, (álbum: Magma); os americanos Ustalost (álbum The Spoor Of Vipers), as japas cabulosas Babymetal (álbum Metal Resistance) e Megadeth (álbum: Dystopia), mas os noruegueses do Kverletak conseguiram fazer um quase hit unindo produção hard rock com vocais de doom metal. Vida longa ao metal!

 

E agora os CINCO melhores discos de Rock de 2016: Sim isso ainda existe e melhor, 3 bandas novíssimas!!!

The Dandy Warhols – Distortland

Esses também esqueceram de pagar os jabás pros blogs, disco moderníssimo e de altíssimo nível, muito melhor que quase todos os 20 albums de Rock que a Pitchfork teve a manha de publicar. A banda continua em plena forma, se reinventaram e seguem muito bem obrigado.

 

Dinosaur Jr. – Give a Glimpse Of What Yer Not

Depois que eles voltaram com a formação original, só tem lançado discos bons e esse Give a Glimpse supera o anterior Farm (que já é ótimo). Bela barulheira, J.Mascis continua solando como se não houvesse amanhã e as canções de Lou Barlow estão entre suas melhores contribuições para o grupo. De quebra são donos do show mais barulhento em atividade no mundo.

 

Savoy Motel – Savoy Motel

Meio Glitter, esse disco de estreia dessa turma de Nashville podia tocar tranquilamente em casas que tenham o novo rock como pilar sonoro. Bem tocado, ótimas ideias, a banda já abriu alguns shows pro Dandy Warhols e tem um disco que na média é mais bom que mais ou menos, o que já é uma esperança.

 

E agora rufem os tambores para os dois melhores discos de rock de 2016 com as duas melhores bandas de rock que ouvi esse ano:

Oh Boland – Split Milk

Pra voltar a ter esperança que jovens possam fazer discos incríveis e o trio irlandês Oh Boland pegou a receita mais velha do mundo: junte boas composições, grave com urgência mas não com velocidade, faça um disco que voce possa ouvir sem vergonha daqui a uns 20 anos. Meio Punk, meio garagem, produção meio tosca, propositalmente desleixada, tudo mixado e masterizado com boa sujeira e canções tão boas que não vou nem escrever mais, abaixo o link dos rapazes no bandcamp, compre o disco digital ou físico e ajude a uma grande banda a não parar.

https://volarrecords.bandcamp.com/album/oh-boland-spilt-milk-lp-limited-clear-vinyl

 

Personal And The Pizzas – Personal And The Pizzas

Outra gratíssima surpresa, do 0 ao infinito, banda de Sao Francisco faz a melhor mistura de punk 77 com punk 80’s branco e new wave de guitarras do inicio dos 80s. Só que melhor, feito hoje em dia. Letras idiotas excelentes como há muito não se ouve nos dias de hoje, onde todo o jovem quer trazer sua mensagem capsuladinha dentro do seu Twitter, tem um pezinho no retro, mas é tão fresco e jovem que to completamente apaixonado! Vale o mesmo para o Oh Boland, tá lá no bandcamp, pague alguma coisa pra eles! Eles merecem nosso dinheiro!

https://slovenly.bandcamp.com/album/personal-and-the-pizzas-personal-and-the-pizzas-lp


Nick Cave – Sobre mágica e perda

 

Nick Cave & The Bad Seeds está com disco novo na praça.

Isso já seria, em tempos atuais, com o tal “indie” caminhando a passos largos para a extinção completa de seus mananciais de criatividade em quase todos as esferas, uma excelente noticia.

Nunca se espera um disco médio ou morno deles, e de vez em quando alguns superaram o patamar do espetacular como The Boatman’s Call, de 1997, álbum que na época passou batido por muitos ouvidos e críticos, mas foi um jeito lindo de traduzir a fossa e a tristeza de seu rompimento amoroso com a cantora Pj Harvey em um pop barroco.

Como fã, acho que seu ponto alto no lirismo culpado-cristão com sons de cabaret beira do fim do mundo previsto no “Bom Livro”, onde demônios parecem tomar corpo e forma, se apossar de notas e acordes e desabar sob as cabeças dos homens e mulheres de todas as eras ainda são os álbuns Tender Prey e From Here To Eternity, feitos nos anos 80 e que retratavam um Cave face a face com a sombra de sua morte, caminhando sob uma navalha que por muito pouco não o levou dali mesmo para os braços do Senhor.

Passado esse inferno, Cave passou as décadas seguintes catalizando essas experiências em álbuns poderosos, socando o rosto da mesmice e brindado o público com uma incrível variação de potencia que variava de acordo com seus estados de espirito.

Tudo ia bem até que uma nova tragédia caisse no colo da família Cave. Seu filho Arthur, de 15 anos morre em um acidente em julho de 2015.

Passado mais de um ano e ainda com essa dor terrível em seus ombros e de seu família, Cave resolve exorciza-la em forma de disco e assim nasceu Skeleton Tree, talvez o réquiem sobre perda pessoal mais triste e soturno que já ouvi.

Até esse álbum ser lançado, acho que só Lou Reed havia produzido arte suprema usando dessa substancia inevitável, delicada e terrível chamada morte em seu álbum de 1992 chamado Magic And Loss.

Se a vida é uma jornada em busca de conhecimento, evolução e felicidade, é preciso lembrar que o fim dessa jornada é o mesmo para todos. A morte chega implacável e certeira e numa vida longa, perdemos tanto quanto ganhamos e Cave trata dessas perdas de um modo delicado como talvez nenhum outro artista dentro do gênero o fez até então.

Skeleton é lento, mas um falso lento. O arrebatamento se dá em picos, enquanto a cama conduzida ao piano, leva o disco todo.

Canções como I Need You e Distant Sky procuram confortar ao mesmo tempo que as lagrimas caem pelo rosto.

Skeleton Tree, a faixa titulo que encerra o álbum lembra o barroco Boatman’s Call, (seu disco de fossa).

Jesus Alone, faixa que abre o disco parece a sonorização de um arrastar por entre os corredores da saída do luto, quando a dor já está menor mas ainda aguda.

Nick Cave sempre transformou a dor em grandes canções e com esse acidentado e triste novo álbum, o luto ganhou outro significado.

Se da tristeza mais profunda nasceu um disco tão dolorido e ao mesmo tão bonito, ficamos nós, como meros ouvintes e admiradores numa situação paradoxal diante da beleza fúnebre de uma obra tão poderosa como Skeleton Tree, pois, mesmo sabendo da força motriz por trás do álbum não nos furtamos do prazer e da comovente experiência de ser arrebatado por uma obra-prima arrancada de entranhas machucadas com tamanha sinceridade e urgência que nos faz testemunhas de um raro evento em tempos tão sombrios e ao mesmo tempo tão fortuitos.

Cave entrega algo enorme para a posteridade, assim como David Bowie o fez no começo do ano com seu crepuscular Blackstar, 2016 será lembrado por esses dois álbuns-eventos isolados que falam do fim e da morte e nos trazem algo maior e quase não mundano.