Afghan Whigs – Congregation (1992)

Voltamos ao “grunge”.

Se o tédio é um tremendo combustível para a criatividade, o Afghan se abasteceu um bocado, afinal Cincinnati em Ohio deve ser um lugar tão desinteressante quanto uma São José do Rio Preto ou Uberaba e ouvir música, usar drogas e ter uma banda eram necessários para alguém minimamente sensível sobreviver a um buraco desses.

O ambiente foi fundamental para a confecção do som dos Whigs, pois eles sempre quiseram ser uma banda de soul e até conseguiram chegar lá nos seus dois últimos discos “Black Love” de 1996 e especialmente “1965” de 1998, mas branquelos que são, tiveram que compensar a falta de melanina por muita força de vontade, barulho, estudo e originalidade e acabaram virando a primeira e única banda de “Soul-Grunge” da história…

Dificil encontrar um grupo com uma discografia tão contundente quanto a deles.

Não tem papelão e nenhum disco que seja meia boca.

Tudo é intenso, pensado, executado com esmero e poderoso.

O universo do vocalista e líder Greg Dulli sempre foi muito adulto, por isso a molecada na época deixou o grupo meio de canto, porque afinal de contas, moleque é tudo retardado e incapaz de enxergar um mês pra frente.

Esse álbum possui um chaveamento de guitarras impecáveis com profusões generosas de baterias compassadas em volume insano, regado a vocais marcantes, com Dulli dando tudo, variando entre o sussurro libidinoso aos berros desesperados, letras barra-pesada , honestas e diretas demais para a média do que se fazia na época.

Congregation é repleto de baladas pesadas como Congregation e Dedicate It, dois dos melhores exemplos da estrutura dos Whigs e o que dizer de Conjure Me e a faixa escondida Milez is Ded? Dois clássicos do novecento grunge, ainda hoje causam arrepios.

Um dos grandes álbuns dos anos 90. Rock com alma para uma vida inteira.


Leo Jaime – Sessão da Tarde (1985)

O maior gênio do pop brasileiro dos anos 80 não foi Renato Russo, muito menos Cazuza e tão pouco Herbert Vianna.

Julio Barroso infelizmente não viveu tempo suficiente pra concorrer.

O cara foi Léo Jaime e ponto.

A prova é esse disco.

Droga, por que demoramos tanto pra perceber isso?

A ironia esteve lá o tempo inteiro, cercado de cultura, inteligência, bom humor, cara de pau…

Vai ver era porque ele é carioca né? E nós paulistas não pegamos muito bem com os caras de lá, certo?

Maybe thats why…

Mas, caraca… Sessão Da Tarde é perfeito…

Abre com O Pobre — só alguém muito sagaz pra escrever uma letra dessa… e na sequencia vem A Fórmula do Amor (sagacidade elevado ao cubo), A Vida Não Presta (precisa comentar?), As Sete Vampiras… que sequencia!

No mínimo matadora, no mesmo nível talvez só Ultraje e olha lá!

E ainda tem a versão em português mais sensacional dentre todas as versões que nós cafajestemente cometemos em em mais de 50 anos de pop brasileiro: Solange (So Lonely), aquela música do Police.

Infelizmente caiu na vala comum que todo artista da New Wave brazuca cai e só lhe restou as Festas Ploc para desfilar seu repertório fino, ensolarado e sagaz.

Muito pouco para esse gênio…


Moody Blues – Every Good Boy Deserves Favour (1971)

Ai ai… mais um disco de progressivo nesse blog… to começando a ficar preocupado com a minha sanidade…

Já tem mais prog do que eu previa, but… what a fuck… esse disco é foda, adoro o Moody Blues e especialmente esse disco… sem jeito.

Enfim: progressivo britânico com ares madrigais do interior, fantasioso, bonito e espacial.

O Moody Blues foi uma das bandas mais fodas que a Inglaterra gerou em seu berço musical e honrou o progressivo que surgiu de bandas expetaculaures como Soft Machine, Pink Floyd, Jethro Tull, Hawkwind, King Crimson, Atomic Rooster, The Move, e outras zilhões de bandas que nasceram na psicodelia, ingeriram drogas, jazz, dadaísmo, idealismo e invadiu os anos 70 cheios de ideias…pelo menos umas Douze…

Cada uma a seu jeito fez a alegria dos fãs de rock.

Cheio de nuances, o Moody nos faz lembrar que a Inglaterra é Vitoriana, Elizabeteana e Eltonjohniana.

Mas os fãs de classic rock que se prezem tem um lugarzinho reservado para bandas como o Moody Blues, procure ai dentro que você pode achar coisas do mesmo naipe.


Metro – Olhar (1985)

Yes, nós tivemos New Wave.

Na verdade, o que se chama de boom do rock brasileiro dos anos 80 nada mais foi do que o boom da New Wave (que não necessariamente é rock) que se alastrou em todos os cantos do mundo, e aportou por aqui aproveitando o inicio de abertura política, a moçada se apropriou do termo, vestiu terninhos coloridos com ombreiras, modernizou a MPB com teclados vagabundos, guitarras Tonantes, pedais com flangers, música em francês, e por ai vai.

Foi tratar de se divertir:

Transar, beber, usar drogas, viajar e fazer um som.

A festa foi boa e ainda hoje contabilizamos as doses ingeridas nesse período.

Tudo aflorou, perdemos a vergonha de cantar em inglês e copiar na caruda o que se fazia no pop gringo.

Nesse cenário e nessa onda, muito lixo saiu, mas algumas pérolas também.

O Metro tinha o timing exato e cometeu o disco mais importante dessa New Wave brasileira e que eu mais gosto até hoje.

Impossível colocar esse álbum em outro período, ele está intimamente ligado a Bananarama, Go-go’s, Yaz, Toni Brasil, Kim Wilde e por ai vai.

Em alguns momentos, chega perto dos franceses Telephóne ou Les Rita Mitsouko.

Zero brasilidade, o álbum é São Paulo da Av. Paulista ou da Pompeia dos anos 80, da elite pensante que viajava uma vez por ano pra Europa ou pros EUA, descobria o que estava rolando e atualizava a rapaziada por aqui.

Não consigo enjoar de ouvir a Virginie cantando docemente com um fino de voz, que passa pertinho do desafinado, mas na verdade é um truque, uma sutileza para seduzir ouvintes e nos fazer apaixonar pelo som mais moderno feito nos trópicos em 1985.

Lindezas como: Johnny Love, Beat Acelerado, Sandalo de Dandi e principalmente Tudo Pode Mudar, um clássico que não faria feio em festa 80’s em nenhuma festa ao redor do mundo, mesmo hoje quase 30 anos passados, fazem desse Lp uma peça obrigatória em boas discotecas descoladas do planeta.

Será que o finado John Peel tinha um desses em sua rica discoteca?

Agora fino mesmo é: Stabilo, só ouvindo…

O álbum tem um sabor de festa boa que eu não tinha idade pra ir e hoje seus personagens devem estar carecas, cansados e sem paciência pra contar como foi….Mas deve ter sido duca…


Sex Pistols – Never Mind The Bollocks (1977)

Há 35 anos, os ingleses comemoravam o jubileu de prata da atual rainha Elizabeth II, que, nas palavras de um sábio taxista carioca é “mai ruim que merda”.

Eram hard times.

Desemprego, recessão, falta de oportunidades, juventude revoltada, governo conservador e marasmo.

Ai apareceu o punk e os Pistols e sua vontade de botar pra fuder.

Nesse ano de 1977, quase tudo aconteceu.

E no meio do tal jubileu, os Pistols lançavam o single de God Save The Queen, no mínimo, uma bofetada na cara da realeza que rendeu ao grupo, censura oficial por parte do governo e polêmica a beça, pois pela primeira vez um artista explicitamente confrontava a monarquia inglesa de peito aberto.

Never Mind…é um soco, um murro e ainda hoje seu som é cru, urgente, poderoso e lembra que em tempos difíceis é dando porrada que as coisas saem e acontecem.

Ok, pode tudo ter sido armação do senhor Malcolm Mclaren, mas o que não é armação no show business? Tudo é armação: dos Beatles ao Para Nossa Alegria… tudo é armado.

Hoje a rainha comemorou novamente mais um jubileu (60 anos no tronado), os tempos voltaram a ser iguais aos de 77, mas a música se acovardou, se acomodou e bajula a realeza.

Talvez os Pistols precisem voltar para chingar seu velho inimigo novamente.


The Fatback Band – NYCNYUSA (1977)

Banda de funk-disco nova-iorquina do anos 70.

Isso é introdução de: Não tem como ser ruim!

E não tem mesmo.

O Fatback é mais uma das milhares de bandas que aparecerem nessa época, mandaram seu som, se misturaram com a multidão e sumiram, tanto que esse álbum ficou um tempão fora de circulação.

No allmusic o disco é avaliado com miseras duas estrelas, mas isso não quer dizer nada.

Como álbum de carreira e pegando uma banda em evolução dentro do funk setentista, eles saíram dos funk soul fortemente instrumental do inicio dos anos 70 para cair com tudo na tendência da época, em que a Disco ditava as ordens do dia e, para sobreviver e se tornar ouvido pela rapaziada, eles viraram os ouvidos para as pistas e soltaram esse belo espécime que é pura alegria.

Dá pra tocar o disco inteiro em qualquer festa civilizada ou não, que ele fará sentido. Começa pra cima quebrando tudo em Double Dutch e Spank The Baby (afinal, como é de conhecimento geral, só um tapinha não dói), lá pro final tem as lentinhas que é pra encorajar o acasalamento A Changed Man e no meio um primor Love Street, ainda hoje uma das minhas favoritas do gênero.

O Fatback é de um tempo em que o beat vinha junto com um ser humano e suava junto com a máquina.

Dance music for real.


The Gun Club – Fire Of Love (1981)

Sabe aquelas bandas que você demora para acessar ou conhecer e quando conhece não consegue desgrudar?

Pois é, to assim com esse vinil.

O Gun Club tem um som inacreditável e inimitável.

A combinação única e explosiva de rockabilly, punk, pos-punk, blues e guitarras slide.

Tudo isso saiu da cabeça do gênio enlouquecido Jeffrey Lee Pierce.

Dono da banda e cérebro por tras de todas as músicas ou todas as escolhas musicais do grupo, Jeffrey é daqueles seres iluminados que surgem e subvertem a ordem das coisas de maneira sorrateira e pelas bordas.

Foi assim que o Gun Club construiu sua reputação no começo da década de 1980 e nos deixou um legado de sons inacreditáveis e sensacionais.

Tudo de caso pensado, eles foram selvagens, suaves e pregavam quase religiosamente uma ortodoxia musical completamente deslocada de seu tempo e espaço.

Dentro do cenário alternativo do inicio dos anos 80, eles não pertenciam a nenhuma categoria e nenhuma panela musical. Eles eram independentes demais para isso.

Tenta explicar outras bandas dessa mesma época como Violent Femmes ou Wall of Voodoo.

Não dá e nem tentem.

Depois de escutar esse disco, tudo fica meio sem graça…

Então vai lá, recomendo.


Paulo Moura – Fibra (1971)

Paulo Moura foi um monstro.

Dono de um estilo próprio e rigorosamente aberto, Paulo desfilou tal qual Raul de Souza, tal qual Pixinguinha, tal qual qualquer outro grande músico craque no sopro brazuca.

Para nossa não alegria, quase nada dele existe em catalogo, em especial os primeiros trabalhos solo e mais em especial ainda este discasso lançado quase 10 apos Paulo subir ao palco do Carnegie Hall em 1962 para a noite da Bossa Nova arranjada por Ronaldo Boscoli e que escalou Tom Jobim e Sérgio Mendes com o chegado.

Se isso não é estar bem acompanhado…. porra!

Em Fibra, devidamente fixado na gringa, Paulo desfila suas preferencias estilísticas habituais e chega a acrescentar a sua hard bossa swingada, mais jazz, lounge e até um surpreendente numero de “folk-rock setentista”? é, escute “Tema dos Deuses” e comprove se não estou doido.

Enfim, tudo isso pra dizer que Paulo Moura foi um dos maiores monstros da Musica Instrumental brasileira, reconhecido nos círculos, respeitado por todos e se americano fosse, estaria entre os maiores do jazz.

Alias, ele já está nesse panteão.

Sempre esteve.


Gene Vincent’s Legendary Blue Caps (1993)

Já escrevi em algum momento neste blog e reforço agora: Odeio coletâneas!

E somente em casos extremos eu apelo para algumas delas na falta de álbuns originais, ou álbuns difíceis de se achar (achado ou baixado na internet não vale).

Mas de que outro jeito e quem em sã consciência ainda deixaria editadas as gravações feitas pelos Blue Caps, a fantástica banda que acompanhou o gênio Gene Vincent sem o Gene Vincent?

Em tempos de capitalismo extremo e necessidade constante de resultados, giro de estoque ou demandas emergenciais e com a derrocada da indústria do Disco?

Pior, quem ainda se importaria?

Ainda tem muito maluco por ai… e faz favor de me incluir…

Essa compilação lançada em 1993, de maneira absolutamente empreendedora, corajosa e artesanal pelo selo britânico Magnum Force prestou um gigantesco serviço aos bons sons ao capturar essa espetacular banda de apoio em diversos momentos de sua carreira pós-falecimento precoce do monstro Vincent.

Principalmente por resgatar os momentos guitarristicos precisos e geniais de dois pilares das seis cordinhas dos anos 50, que ajudaram a moldar todo o rock na sua gestação: Cliff Gallup e Johnny Meek.

Cliff é tão fundamental e ao mesmo tempo tão menosprezado, que precisou o Jeff Beck fazer um belíssimo disco há alguns anos atrás chamado “Crazy Legs”, onde ele só tocou repertório dos Blue Caps e pagou um pau geral a Cliff, para que ele voltasse a ser lembrado pelas gerações futuras.

Essa compilação captura o retorno dos Blue Caps no inicio dos anos 80 com Johnny Meeks, algumas faixas instrumentais do conjunto de Cliff Gallup e seu 4Cs nos anos 60 e pro final Jerry Lee Merritt, guitarrista e cantor que por um breve período se juntou a Gene no final dos anos 50, também comparece com algumas gravações também datadas dos anos 80.

E ainda tem uma faixa do The Champs, banda de surf rock instrumental foderosa que Johnny Meeks montou nos anos 50 e que alimentava profunda admiração por parte de Gene.

Enfim crianças, isso é rock puro, isso é a genesis criadora de toda a cultura popular jovem do século XX.

Só isso.