E Janelle Monáe lacrou 2018.

Ao elencar todas as qualidades de Janelle Monáe corro o risco de esquecer de alguma, mas lá vão elas:

Ótima cantora: com um timbre que vai do agudo ao médio com muita firmeza e personalidade.

Eximia dançarina: corpo escorregadio, ágil que se move com a perfeição e a naturalidade de outros craques do movimento e da canção.

Linda: dio mio, que moça linda. Além de linda, é estilosa e elegante;

Criativa e ousada: não basta só lançar um album, de quebra veio com um mini filme de 48 minutos, misturando música como uma trilha de fundo para um Sci-fi sobre pessoas diferentes expurgadas de uma sociedade num futuro distópico.

Há muito tempo não surge no universo pop, alguém tão determinada e com tantos talentos naturais como ela.

Janelle já tem carreira de gente grande, álbuns e canções de gente grande e até aqui nenhum vacilo musical nas costas.

Com sua tenra idade, essa moça do Kansas de 32 anos chega ao seu ápice criativo. Com seu terceiro álbum Dirty Computer, ela vem com os dois pés no peito e mostrando que o que era bom, ficou melhor, mais séria e mais dona do seu trabalho.

Participando ativamente das composições e da produção, Dirty Computer é um luxuoso e potente exemplar de soul-pop moderno, urbano e feito dentro de seu tempo e espaço.

Ouso comparar esse trampo dela a Prince no auge (ali pelo Sign o’the Time), Madonna com seu Erotica ou com o Outkast em Speakerboxx/Love Below justamente por conter elementos comuns a essas três obras primas que é a incrível capacidade de fazer pop, soul, e electro encapsular o presente e o momento e transforma-lo em som e em arte.

Juntamente a essas obras, Dirty é um disco que pertence ao seu tempo atual, que é o final dos anos 10 do século XXI, assim como foram igualmente impregnados em seus períodos, os álbuns de Prince (80s), Madonna (começo dos 90) e Outkast (começo do anos 2000).

Graças as tecnologias disponíveis para se produzir um álbum em grande nível e a sua bagagem, Monáe entrega um petardo quente e maravilhoso, que supera o seu já brilhante mas pouco ouvido The Archandroid (2010).

Só pra esbanjar, a moça conta com participações especiais de Brian Wilson (fazendo seus vocais agudos lindos na faixa de abertura, Dirty Computer), Pharrell Williams em I Got The Juice, Grimes em Pynk e ainda uma palhinha de Stevie Wonder numa vinheta não creditada.

Como tudo na música pop atual, ninguém faz mais nada sozinho, o álbum tem 9 produtores espalhados pelas 14 faixas, ficam 10 se contar a própria Monáe.

O risco de tanta gente pra produzir, é de que o disco poderia ficar com muitas sonoridades diferentes e perder a identidade, mas isso está longe de acontecer aqui.

Transitando sob influências de funk dos anos 80 em Make Me Feel, pop eletrônico dos anos 2000 em Screwed e Take a Byte, guitarras e ambiências a la Mike Oldfield na faixa So Afraid, rap em I Got The Juice e Django Jane, o álbum traz aquela sensação de se ouvir algo muito especial e que todo o mundo que é fã de musica pop espera ouvir num álbum desses.

A faixa de abertura com Brian Wilson é no mínimo ousada, se for pensada como opção comercial, mas é um acerto na mosca. Aproxima a tradição vocal norte americana com um mundo moderno que permite “apropriações” de diversas culturas para criar algo novo, além de render um casamento vocal inusitado e bonito.

Agora o creme mesmo está na deliciosa Make Me Feel, canção que faria o Prince levantar do tumulo para aplaudir. Batidas secas, vocal que começa abafado e vai crescendo, quebras de ritmo combinadas com uma dinâmica esperta que faz dançar, ouvir, prestar atenção, estalar os dedos, quase tudo ao mesmo tempo.

Janelle lacrou no melhor sentido. Espirito certo, discurso certo, visual certo. Realmente é difícil imaginar que possa aparecer outro álbum pop tão bom quanto esse nesse ano.

 

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LollapaMIM – Um LINE UP Pra Chamar de meu! Ou o Festival que Nunca Vai Rolar por Aqui.

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E cada ano que sai o line up oficial do Lollapalooza, todo ano eu penso “Que merda de Line Up” e esse ano a organização do festival não nos decepcionou e botou uma bela escalação pra tirar sarro até 2018…

Pelo menos não teve Radiohead…

Se juntar todas as edições do Lolla por aqui e todos as atrações que vieram, dá pra contar nos dedos da mão esquerda o que prestou (Jack White, Savages, Robert Plant e pra lembrar de mais um agora…

Visando nada mais do que fazer um favor ao João Paulo do futuro, listo abaixo o que seria o line up dos meus sonhos de gente que tá viva, tocando por ai fora e que custaria mais barato que o Metallica e Strokes juntos.

Sem ordem de artista principal ou palco:

 

PJ HARVEY – Talvez a artista que mais tem a dizer nesse momento.

 

LEONARD COHEN – Que tenhamos a chance de ver um dos últimos do moicanos por aqui antes que ele se vá.

 

THE STONE ROSES – Sonhar faz bem… a ultima grande banda britânica da história. E tem público? Bom, eles tocaram 5 noites no Ethea Stadium em Manchester… algum deve ter…

SLEATER KINNEY – voltaram tão bem… e nunca estiveram por aqui…

BRIAN WILSON PLAYS PET SOUNDS – Se a felicidade tem nome, esse nome é Pet Sounds e Brian está por ai para nos mostrar.

MADNESS – A volta de uma das melhores bandas do ska inglês que migrou lindamente para o pop sem perder a potencia.

 

DEATH GRIPS – Pra não esquecer que tem gente mais ou menos jovem fazendo coisas incríveis.

SAVAGES – o que escrevi pro Death Grips, vale para essas minas iradas.

DANDY WARHOLS – seria a realização de outro sonho…

UNDERWORLD – Agora como dupla, lançando disco novo bom e tocando hinos da geração clubber dos anos 90.

THE WEDDING PRESENT – velha guarda guitar band, tocam por qualquer 500 reais…

KVELERTAK – Outra nova só pra dar uma colher de chá… melhor banda de metal em atividade.

THE FALL – tá mais que na hora de vermos eles por aqui.

REPLACEMENTS – Tá quicando por ai, só mostrar o dinheiro que eles vem!

SUN RA ARCHESTRA – Vi eles há uns 3 anos, tão incrível que podiam voltar né?

BABYMETAL – Inclassificável crossover de Jap Pop, Pokemon, minas japas e metal.

WIRE – Tá por ai, lançando disco bom atrás de disco bom… ia ser uma boa eles por aqui não?

KAMASI WASHINGTON – É jazz, é nova cara e manda muito bem!

O.M.D. – minha banda de tecnopop favorita em atividade.

USTALOST – minha segunda banda de metal favorita hoje.

 

E representando a nação:

METRO – Show animado, já devidamente resenhado por aqui.

DEFALLA – Lançaram um disco excelente, isso significa…

ELZA SOARES – Monstra, pra ser reverenciada.

BIXIGA70 – Melhor show brazuca em atividade.

META META – Segundo melhor show brazuca em atividade.

DVCO – É tudo aquilo que o Nine Inch Nails não é mais, só que mais pra cima (ah, e é banda de chapa)

THE JP’S – Eu não ia montar um line up e não incluir meu trampo né? Aproveito o fim do texto pra dar aquela divulgada no meu trampo..


Brian Wilson – Pet Sound Tour 20-05-16 (London Palladium – Londres UK)

Letreiro Brian Wilson

Há 50 anos o mundo ouvia pela primeira vez o disco mais bonito da música pop mundial.

Há 50 anos, uma doce fúria na forma de compositor, cantor e produtor colocava em notas musicais o disco mais bonito da música pop mundial.

Há 50 anos, muitos artistas vem tentado (em alguns momentos chegam perto), mas Pet Sounds continua sendo o disco mais bonito da música pop mundial.

Comemorando os 50 anos de lançamento da obra-prima Pet Sounds, Brian Wilson juntou um timaço e caiu na estrada para mostrar ao mundo de hoje, o que muitos já sabem faz tempo. Que Pet Sounds é o disco mais bonito da música pop mundial.

Brian Wilson chegou e sentou em seu piano desligado e ao seu lado, o companheiro de primeira formação dos Beach Boys, Al Jardine tocando sua guitarra aparentemente desligada também.

Não deixa de ser emocionante ver os dois monstros lado a lado, Brian já quase não consegue cantar, e tenho duvidas se ele tem completa noção do que faz no palco, mas o que mais impressiona é que Al manteve a mesma voz.

Na primeira parte do show, algumas clássicas como Heroes And Villians, California Girls, In My Room que já foram capazes de arrepiar e dissipar as duvidas sobre a seriedade do show.

Outro ponto inusitado é a presença do filho de Al Jardine, Matt Jardine que canta tal qual um Brian Wilson nos anos 60 e em Don’t Worry Baby, assume o vocal principal. Fechando os olhos, voltamos para 64 e ouvimos um fantasma cantar. Arrepiante.

Aliás, foi um bom truque, ele reveza com Brian os vocais e onde o velho Beach boy não alcança mais, Matt vai lá e complementa.

Lá pelo meio desse set sobe outro convidado, Blondie Chaplin que gravou 3 álbuns horrorosos com a banda nos anos 70 e acrescentou nada ao show. Maleta, Blondie achou que a festa era pra ele, exagerou nos solos e na pose e tinha fãs tão fanáticos por Beach Boys na platéia que até em Sail On, Sailor seguramente, uma das piores músicas do mundo, tinha gente cantando.

Antes da ultima música, Brian já sai do palco e tal qual numa peça de teatro, vamos para um intervalo de 10 minutos.

Tempo pra sair, tomar uma cerveja junto com a turma “pra frentex”, cuja média de idade está em 65 anos e voltar para nossa cadeira. A segunda parte vai começar e é onde a coisa realmente pega: Pet Sounds vai ser tocado de cabo a rabo.

Haja coração!

A viagem começa e se o show já estava legal (tirando o maleta Chaplin), ele ganha doses extras de magia e status de sobrenatural, Pet Sounds vai sendo executado com perfeição e em todos os seus detalhes e sutilezas. Pontos altos ficam para I Know There´s An Answer, I Just Wasn’t Made For These Times (aqui o Brian canta com sentimento a flor da pele) e God Only Knows (com toda a dificuldade, Brian leva inteira). Difícil é voltar ao mundo dos vivos depois disso!

Envolto de beleza sonora por todos os lados, fico impressionado como Brian está ausente e desconectado do que acontece em volta. Um exemplo é que no final de cada música, com o publico ainda aplaudindo calorosamente, ele já começa a anunciar a próxima sem esperar o silêncio da plateia.

Atravessou os aplausos!

Em algum canto de sua mente, ele sabe do poder que essas musicas exercem, então ainda deve ter alguma parte consciente nessas ações, mas a beleza da execução supera tudo, até a “quase” ausência do criador no palco.

Mais um pequeno intervalo e o bis vem com aquela que tava faltando: Good Vibrations e alguns sucessos mais “rockandroll”.

E o show termina com Brian inteiro no palco cantando Love & Mercy. Bonito, autobiográfico e com tintas de arrependimento, finalmente se vai e nós como expectadores/fãs só podemos agradecer.

 


The Beach Boys – M.I.U. Album (1978)

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Mais um disco estranho dos Beach Boys.

Esse eu achei há alguns dias, numa pilha de discos improváveis e nem passava pela minha cabeça que esse disco tinha saído por aqui, mas foi lançado na época!

O clima não podia estar mais desfavorável.

Brian queria voltar a assumir as direções do grupo, mas ainda voltava de sua rehab e não tinha condições de contribuir diretivamente para o projeto, assim virou o “Produtor Executivo” por falta de outro nome melhor.

Os irmãos também nao estavam nem um pouco interessados no disco, Carl não contribuiu com nenhuma música e Dennis estava mais ocupado e interessado no lançamento que ele faria de seu algum solo, o magnifico Pacific Ocean Blue, assim, o comando do disco ficou nas mãos de Mke Love e Al Jardine que cuidaram para que o disco não fosse um completo papelão.

Mas no fim, M.I.U. é um disco que só quem é muito fã do grupo gosta, o que é o meu caso.

É duro de ouvir coisas como Come Go With Me ou Match Points Of Our Love!

Tudo muito quadrado, meio infantil e meio bobo, o lado A não tem nada que seja digno de nota, a melhorzinha é Hey Little Tomboy, o resto é ruim, com direito a uma versão horrorosa de Peggy Sue.

O lado B continua na mesma temperatura até chegar a única musica realmente digna de nota, que é My Diane, que mostra que mesmo um combalido e baleado Brian Wilson ainda conseguia extrair do volume morto, uma canção linda como essa, que lembra o cheiro do genial compositor que ele tinha sido e ainda poderia, com um vocal intenso e machucado de Dennis.

E só, o resto é indicado só pra fãs xiitas.


The Beach Boys – Surf’s Up (1971)

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Seguindo na categoria “Os Garotos da Praia”, álbuns menores mas maravilhosos dos Beach Boys, esse Surf’s Up tenho um carinho muito grande, do tipo “demorei muito pra te encontrar, agora quero só voce”.

Por que?

Já conhecia esse disco desde os anos 90, mas nunca tinha saído edições decentes em CD e o LP então era impossível de se achar, até que há alguns anos, saiu a reedição e quando eu vi, não pensei meia vez e trouxe essa boniteza pra casa.

Obras-primas tortas me interessam muito e os Beach Boys tem algumas dessas matrizes tortas cheias de maravilhas absolutamente não obvias em diversos álbuns, em especial nos álbuns que vieram depois de Pet Sounds, mas esse Surf’s Up é um festival de pequenas obras lindas, executadas no fio da navalha entre o celestial e o péssimo.

Algumas canções parecem ter nascido prematuramente e gravadas depois de poucas modificações, como Don’t Go Near The Water, mas que mesmo assim é uma maravilha indescritível, um sopro de alegria em forma de notas musicais perfeitamente colocadas em uma sequencia com o intuito de trazer de dentro de suas entranhas as emoções mais puras e bonitas que você tiver dentro do seu eu mais profundo.

Viagem né? Mas esse é só um dos exemplos metafóricos que eu vou usar para descrever a maneira como esse disco mexe comigo.

Outra coisa interessante é que se trata de um disco em que o gênio Brian Wilson praticamente não dá as caras e é uma chance de ver os demais garotos botando suas asinhas de fora e criando.

É um disco com muito tempero de Carl Wilson, que traz duas faixas estranhas e bonitas que são Long Promised Road e a ultra-esquisita Feel Flows (hoje é a minha favorita desse disco), uma balada muito lenta, com andamentos descontinuados e momentos em que a melodia parece que vai sumir, virar vapor e reaparecer picadinha de maneira gloriosa, que baita exercício de composição e arranjo.

Brian fica relegado para o final Surf’s Up (que originalmente foi gravada em Smile, e com muita relutância foi regravada para esse play) e na estranha e curta A Day In The Life of A Tree.

Há alguns momentos esquecíveis como a maluca e desnecessária versão de Riot In Cell Block #9, que ficou famosa com os Coasters e aqui ganha nova letra (?) de Mike Love e vira Student Demonstration Time (a pergunta é: por que?) e Disney Girls, um roquinho só pra encher linguiça.

No resumo é: onde Surf’s Up é irregular, mas quando é bom, não é pouco bom, é magnânimo, sublime, solene, divino: Feel Flows é obra-prima absoluta, ‘Till I Die tem uma das letras mais doidas e tristes de Brian Wilson, mostrando sua alma dilacerada como poucas vezes o ouvimos cantar, Surf’s Up tem letra brilhante e arranjo de gênio e Don’t Go Near The Water é de derramar lágrimas as escondidas.

Afirmar de bate-pronto que prefiro Surf’s Up a Pet Sounds pode soar exagerado, mas contando o tempo que esperei para ter esse play completo em casa, se tivesse que escolher 1, hoje seria Surf’s Up na cabeça.


The Beach Boys – Sunflower (1970)

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Como assim, vai começar a sessão Beach Boys e não tem Pet Sounds ou Smile?

Really?

Sim.

Se é pra ter um Pet Sounds em edição vinil precisa ser edição original de época.

Esse é um dos poucos, pra não dizer o único, que tenho frescura para reedições em Stereo ou Mono, pois acho que a tecnologia de hoje e as constantes reedições feitas ao longo das últimas decadas, ajudaram a estragar um pouco o som que o Brian Wilson tinha na cabeça e executou na época, assim prefiro cruzar um dia com uma boa edição de época. Conheço o disco de trás pra frente, então ter alguma edição só pra postar aqui não vai rolar.

Começo minha pequeníssima coleção de Beach Boys em 1970, com o álbum menor mas delicioso Sunflower, afinal, sempre haverá Califórnia para os irmãos Wilson. Trata-se de um estado permanente de espirito que não sairá deles nunca.

Sunflower está no meio do caminho entre um grande disco e um disco esquecível, mas como estamos falando de Beach Boys, então a tendência aqui em casa é sempre coloca-los nos patamares dos grandes.

Principal característica é a descentralização das forças, e aqui Dennis Wilson contribui com algumas das melhores músicas do álbum começando com Slip On Through, uma balada com muito soul e de velocidade controlada no bico da bota e um refrão delicioso e o roquinho Got To Know The Woman.

O resto do lado A parece vir num piloto automático, com This Whole World e Add Some Music To Your Day sendo as contribuições melhores de Brian, que parecia cada vez mais distante e desencanado do processo todo, preferindo desbravar seus próprios infernos e demônios.

A família disfuncional vai mais ou menos bem, Dennis continua melhorando seu nível de composição e isso ficava claro na linda balada Forever, terceira faixa do lado B.

O disco ainda guarda muito da tentativa de criar melodias e harmonias grandiosas, mas no final Sunflower é um ótimo disco deslocado em tempo e espaço, muito anos 60 dentro de um inicio de década tão pesado e niilista, assim ninguém deu muita bola para o disco na época e hoje é objeto para completar coleção.

Há uma lindeza que só os Beach Boys eram capazes de proporcionar ao mundo e está lá na faixa 5 do lado B com a incrível At My Window, uma mágica peça musical que parece capturar uma manhã bonita de sol, com as folhas ainda molhadas de orvalho noturno e ventos que lentamente brincam com a flora. De longe, a peça musical mais inesquecível desse ótimo mas incompreendido Play.