Barry Mcguire – Eve of Destruction (1965)

Como disse Raul Seixas, “eu vou fazer sucesso, cantar música de protesto…” e no meio dos anos 60, aparecerem dezenas de centenas de cantores, compositores e pensadores que falavam, cantavam e protestavam contra tudo.

Enquanto isso, alguns desses artistas iam ganhando turras de dinheiro e ficando famosos.

Maldito e bendito seja o senhor Zimmerman e vossa gigantesca influencia!

E lá no meio de Oklahoma surgiu Barry Mcguire, um dos tantos cantores mais interessantes que surgiram na esteira do movimento folk de protesto dos anos 60.

Para sua sorte, ele foi descoberto por Lou Adler (produtor) que também recrutou um moleque de 19 anos, chamado P.F. Sloan, talentoso compositor, produtor e cantor do folk americano dos anos 60, que produziu, tocou e ainda deu um punhado de músicas para o chapa cantar.

O casamento musical da voz quente, potente, rasgada e sem floreios de Barry, com ótimo repertório e produção acima da média fizeram de Eve Of Destruction, um tremendo disco de folk rock.

Só música boa: tem lá She Belongs to Me e Baby Blue (ambas de Dylan), Sloop John B. (canção tradicional que seria gravada também pelos Beach Boys) e a maior parte do álbum é recheada de canções originais de Sloan, contando o unico sucesso da carreira de ambos, a emblematica e poderosa Eve Of Destruction.

Descoberta recentissima, ainda esquentando a vitrolinha em alta rotação.


The Temptations – Live! (1967)

Disco ao vivo com ponto de exclamação e tudo!

Com um punhado de hits acumulados em seis anos de carreira, o Temptations virou nos anos 60 uma das maiores referencias do soul norte-americano, graças a canções expetaculares e uma afinação difíceis de serem equiparadas.

E olha que a época era aurea!

Com uma energia arrasadora, os Temptations reproduzem o calor e o poderio de um repertorio inacreditável, tocados com uma garra e competência que não existe paralelo.

Dá pra imaginar quão bom deve ter sido esse show por causa do registro, que infelizmente não é dos melhores, mas do fundo dos ruídos e da mixagem esforçada, dá pra extrair sons e momentos arrasadores como My Girl, Yesterday e principalmente nas cacetadas: Get Ready e Ain’t Too Proud to Beg.

Sem duvidas, um dos melhores discos ao vivo da história, ou no mínimo um daqueles show em que a invejinha bate forte…

 


Comets on Fire – Comets On Fire (2001)

Tá ai uma ótima banda desse século XXI, aleluia!

Californianos fixados em barulho, trilharam os caminhos deixados por MC5 e Mudhoney, mais um monte de sons garageiros dos anos 80 e 90 além das viagens do Hawkwind e das dedadas de Blue Cheer e até um tiquinho do Atomic Rooster.

As influências são boas, por isso o som é bom também.

O Comets tem feito carreira completamente paralela ao mainstream, por isso que talvez você, sujeito homem antenadinho talvez não tenha ainda ouvido falar deles.

Absurda as possibilidades que esse baterista consegue tirar no som do grupo, que faz dele uma atração a parte.

O nome do figura, guarde ai: Utrillo Kushner, um polvo que não se ouve há muito tempo e que vem destruindo tudo nas baquetas do CoF há quase 10 anos.

Tudo é extremamente alto nesse disco, guitarras, vocais, bateria, os caras não economizaram na octanagem para produzir um dos mais ruidosos álbuns dos anos 2000 e fazer uma das mais barulhentas discografias da história recente do rock.

Em tempos de bundamolice indie, entregue as delicias do capitalismo indie fácil e idiota, é bom ainda saber que bandas como essa circulam por ai distribuindo barulho aos borbotões e cagando para essas atuais regrinhas indie.


Faust – Faust IV (1973)

O “Krautrock” ganhou verbete especial dentro dos corações e mentes de todos os fãs de rock há alguns anos, e tem sido reforçado em cada nova geração de músicos que ousem inventar moda, fazer vanguarda e experimentações.

Uma hora ou outra, todos voltam seus ouvidos para essas maravilhas alemãs.

Neu!, Kraftwerk, Can e Faust são as portas de entrada para esse mundo incrível de possibilidades, que a cada nova audição, sempre se encontra algo muito bom.

O Faust nunca teve ai para a hora do Brasil, da Alemanha e de lugar algum. Faziam música e discos para eles mesmos e quem acompanhasse ótimo, senão também tudo bem.

Menos experimental que seus primeiros discos, Faust IV chega quase a ser convencional em alguns momentos, o que não é nada mal, além de ser muito, muito bom. Foram extremamente influentes para a No-Wave do final da década, para o alternativo que floraria nos anos 80 e para o pós-punk inglês.

As viagens experimentais estão todas lá também e já na abertura do álbum: Krautrock com seus quase 12 minutos e Picnic On a Frozen River são bons exemplos do bom krautrock alemão em seu explendor, mas são nas faixas mais “pop”, quer dizer mais curtas que o Faust surpreendeu e cometeu verdadeiras gemas: The Sad Skinhead é quase um pré-Talking Heads, pré-Devo, sei lá. Clássico.

Clássico também é Jennifer e seu clima sombrio e sinistro.

Resumo, Faust não é para qualquer ouvido, demanda um tempo de apreensão maior, mas vale a pena.


Jam da Silva – Dia Santo (2009)

Projetos de músicos recifenses aparecem a cada 5 minutos e se deixar, eles fazem projetos de 2 em 2 minutos.

Com tanta gente produzindo, a qualidade acompanha todos eles?

Nem sempre, tenho lá minhas restrições estéticas e não sou um grande fã de boa parte dessa produção, que sempre me soa aos ouvidos como um enorme simulacro de fantasias pseudo-modernistas cujos únicos endereços de aceitação sãs as Vilas Madalenas da Vida, as festinhas “Usp-Studio SP” e o circuito culturete paneleiro de sempre.

Parentesis feito, vamos tratar de um caso de exceção desse cenário.

O percussionista pernambucano Jam Da Silva é profundo conhecedor dos molhos essenciais de um bom groove brasileiro moderno, sem ser “muderno” e seu álbum Dia Santo é prova disso.

Experiente mas sem tantos vícios, fez um álbum de vida longa. Ritmos brasileiros, dub, samba e eletrônico casam bonito nas 11 faixas.

Extremo bom gosto na escolha dos timbres, o disco é ótimo e te pega na primeira ouvida sem dar o popular “papelão” que de vez em sempre passamos quando alguém apresenta um novo artista brasileiro muito “talentoso”, “versátil” e “muderno” e aí você escuta e percebe que a mesma merda de sempre.

Jam é diferente, ainda bem!

O link pro site dele ta ai embaixo e recomendo muito a faixa 08: Dub Das Cavernas.

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Donna Summer – Bad Girls (1979)

Coragem!

Esse é o principal adjetivo para se referir a Donna Summer.

Coragem de se jogar num gênero novo, moderno e altamente arriscado para os padrões em que se operavam a indústria musical na época.

Como assim? Ir pra Europa e se juntar com um produtor italiano de musica eletrônica?

Hoje é óbvio, mas nos anos 70 não.

E Donna caiu de cabeça no gênero que se provaria muito mais forte, duradouro e influente que parecia na época.

Calando críticos e detratores, a parceria Donna Summer e Giorgio Moroder é um dos mais felizes encontros da história da música pop de todos os tempos no quesito “cantora certa com o produtor certo”, ao lado de outras duplas como: Quincy Jones e Michael Jackson (eu disse cantoras?, abre exceção pro Michael); George Morton e Shangri-las, Phil Spector e Ronettes, dentre outras.

O que eles fizeram juntos foi pura dinamite, talvez algumas das melhores músicas para pistas de dança já feitos em todos os tempos e Bad Girls é o melhor trabalho da dupla.

Sólido, pesado, conta com um groove foderoso que interliga todas as músicas, criando uma suite dançante que não dá refresco. E ainda tem metais pra caramba e guitarras ótimas preenchendo todos os sulcos do álbum… perfeito!

O lado A é arrasador: Hot Stuff, Bad Girls, Love Will Always Find You e Walk Away… ufa… que sequencia foderosa e no LP faz todo o sentido do mundo, até porque em 79 não existia Cd, então o conceito foi o de quebrar tudo sem tirar de dentro, virou o lado, mais pancadaria. Acabou o disco 1, vai pro disco 2 e começamos tudo de novo!

Bad Girls é um dos melhores casamentos de funk, disco, emergente new age, R&B e eletrônico que conheço. Conceitual sem ser cabeça, pop sem cretinices, cabe em qualquer discoteca de respeito sem preconceitos.

Donna se foi esse ano, mas sua música vai ficar pra sempre em todas as cantoras negras ou brancas que fizerem pop dançante até o fim dos dias.


Neil Young – On The Beach (1974)

Sai exu! Deixa a ziquezira pra tras…

Deixando pra tras as loucuras de uma vida rock and roll, parece que ele quis se despedir da angustia, da miséria e da loucura justamente com as roupas e armas do próprio Jorge e encarou tudo de frente.

O disco é propositalmente desleixado, mas rico em ataques seja a colegas músicos (o alvo foi o Lynyrd Skynyrd), a imprensa, o governo, a guerra, as drogas e o que mais viesse pela frente e tivesse no calo do homem.

Tão raivoso e tão esparso, o álbum ficou na geladeira por um tempão e temperamental como ele só, Neil só viria a autorizar reedições em CD muito tempo depois.

Coisa de gênio.

Louco, mas gênio.

O disco é maravilhoso e está cravado na discografia do homem entre o ainda predominantemente folk Times Fade Away (73) e Tonights The Night (75), disco que ainda refletiria esse Neil soturno, mas lutando para se manter são, vivo e poderoso perante a morte, a loucura e o fim que se avizinhava no seu encalço.

Disco de guitarras e de blues branco, On The Beach como em todo grande álbum de Young, começa com um pé na porta daqueles: Walk On é perfeita em tempo, peso, guitarras e certamente entra na lista das melhores musicas do homem.

O resto do disco é pra se ouvir no silencio absoluto, curtindo cada detalhe, cada nuance, pois o que o álbum tem de mais bonito é justamente o timing de cada track, impossíveis de serem repetidos, espontâneos em suas falhas e em seus acertos.

Lindeza de Deus!


Sly & The Family Stone – Life (1968)

Pra muita gente, hoje é o dia mais importante do ano, afinal o Corinthians pode ser campeão da Libertadores pela primeira em seus 102 anos de existência e 52 de torneio e finalmente botar fim na sina alvinegra na competição.

O sentimento de ansiedade, medo, vontade de se sentir parte de algum plano muito maior, que só eventos dessa magnitude podem causar num grupo de individios que nada tem em comum, a não ser uma paixão em comum que obriga todo mundo a se posicionar permeou todo o dia.

Seja contra ou a favor, não tem como negar, o clima é outro em São Paulo.

Se conseguíssemos usar metada dessa força mobilizadora e essa energia para fazer as mudanças serias e profundas que precisaríamos, seriamos uma nação mais rica, mais igualitária, mais justa, mais cidadã e mais responsável.

Só tem um problema…

Aí não seriamos o Brasil… íamos virar outra coisa, que sinceramente não acredito termos capacidade para tal…

Papo pra outra vez.

Responsabilidade em dobro em sonorizar essa temperatura e esse dia.

Por isso, vou de Sly porque certamente é o disco com o som que eu gostaria de ouvir antes do fim do mundo.

Se for o fim, que levemos dela um sorriso, uma alegria plena que se esbalda em Life.

Funk, rock, ruído, melodia, swingue, sonoridade explosiva e pra cima, som pra quem gosta de som, com graves, médios e agudos, que vai pra cima do ouvinte e provoca alegria, vontades, desejos de atiçar, de ser melhor, de ser mais amado, de amar mais, de viver até o fim e não esperar a morte sentado.

A trinca que o senhor Sly fez foi da pesada: começou com Life, passou por Stand (69) e findou com There’s a Riot Goin On (71) e é impossível apontar um muito melhor que o outro, pois são 3 grandes pilares dos bons sons e dos tempos conturbados que os EUA viveram.

Life é meu favorito porque ele escancarou como nenhum outro a junção de rock com soul, com uma banda inter-racial que se entendia por todos os meandros do ritmo e criou uma vida musical imponente e inesgotável para as gerações seguintes.

Sorte nossa ter existido uma banda como essae ter feito um disco como esse.

E amanhã tem mais…

Se não, bom fim de mundo pra vocês.


Dickies – The Incredible Shrinking Dickies (1979)

Mais um capitulo do punk rock nosso de cada dia.

Los Angeles é um lugar estranho.

Por isso que sua cena musical é tão doida desde sempre, e lá seja berço de movimentos tão distintos como a cena punk hardcore dos anos 70 e começo do 80 ao glam metal farofa do meio dos anos 80 passando pelo Nu-metal no meio dos anos 90 e 2000 (ainda bem que já acabou) e chegando finalmente ao pra frentex dubstep de hoje.

Se for pensar em todo mundo que nasceu ou cresceu em LA, a lista não cabe no blog.

Mas vamos focar só no final dos anos 70, que já dá banda pra cacete…

X, Germs, Zeros, Wall of Voodoo, Plasticland, Los Lobos pra ficar nas mais conhecidas.

E no meio delas tem o Dickies.

Que banda legal! Que disco massa! Que show ano passado eles fizeram no Brasil!

Pois é, mesmo no meio desse monte de festival meia bomba, teve coisas legais no subterrâneo.

Rápido, urgente e divertido como toda a banda deveria ser na sua juventude e não esse bando de artista cansado que já não tem gas nem na estréia, os Dickies tiveram vida longa (tocam até hoje), e carreira de reputação dentro do universo sonoro de LA, infelizmente não tiveram quase nenhum reconhecimento comercial, mas esse álbum é sensacional e não deixa a peteca cair em nenhum momento.

Punk rock ensoralado bobo, mas não idiota.

Parece que todo mundo que veio depois não entendeu nada, e falo dessas banda meia boca tipo Pennywise, Nofx e principalmente Bad Religion, que todo mundo ama, mas que é uma bosta.

Resultado? Offspring, Green Day, Sum 41, Simple Plan, precisa continuar?

Ahh sim e tem o Blink…


Anita O’Day – Swings Cole Porter (1959)

Ta aí um título de álbum que diz muito sobre o que se espera dele.

Se a Ella Fitzgerald deu a eternidade ao gênio com seus Songbooks, Anita deu a graça e uma genuína peraltice intransferível para as composições do mestre.

Anita foi chave de cadeia, controversa e artista de primeira.

Usou de tudo, foi ao fundo do poço e sobreviveu com a classe que faltou a todos que quiseram brincar de ser barra-pesada e foram frouxos.

Sim, me refiro a Amy Winehouse, Syd Vicious e todos esses tontos que não deram conta do recado.

Anita era foda.

Nesse disco ela canta sujo, rasgando, facil, sem trejeitos, sem exageros e sem vicios de cantoras que se esforçam para cantar.

Parece que ela está rindo e debochando com uma vivencia tão natural quanto uma Elis Regina, parecem ter sido feitas no mesmo molde.

Cada frase que ela canta tem um significado único e impossível de ser repetido: o que dizer de I Get A Kick Out Of You, It’s Delovely ou You’re The Top, é impossível escolher uma delas, o disco todo é sensacional.

Na condução da banda, o grande Billy May, maestro de primeira e nas faixas bônus, algumas outras gravações com monstros como Barney Kessel, Roy Eldridge, Buddy Clark e Jimmy Giuffre.

Artista que não faz mas hoje em dia, polêmica e genial, Anita esteve a frente do seu tempo e construiu uma carreira poderosa em um mundo absolutamente masculino como é o do jazz.