Cream – Wheels of Fire (1968)

O Cream em dado momento só tinha uma coisa a fazer. Terminar!

Por que?

Simples, não dava pra fazer nada melhor depois de Wheels Of Fire.

O Cream atingia seu auge.

Auge artístico, criativo e formador de novos rumos para o rock.

Era muita covardia e muito cacique prum trio que não tinha ponto fraco algum.

Vai dizer o que?

Que Eric Clapton não tocava tão bem assim? Não dava, o homem tava com o diabo no corpo e o que ele fez de mais foda foi no Cream.

E o monstro Ginger Baker? Não destruia tudo na batera? E Jack Bruce ainda era o líder no baixo, compondo e cantando as principais músicas do grupo.

Enfim, tudo isso era a mais pura verdade, só comprovada pelo canto do cisnes Goodbye, que já não era do mesmo nível dos anteriores, mesmo sendo bom.

Sem ter sido tão bombástico quanto Disraeli Gears (1967), Wheels… eleva a perfeição as revolucionárias sugestões musicais do grupo, que de tão avançadas, se tornariam os projetos sensacionais que os três embarcariam logo após o fim do trio.

O Rock proposto nesse álbum, mantém a pulsação pesada, somada aos pontos de tensão gerados pela combinação explosiva das seis cordas de Clapton com a cozinha que sempre dispensou apresentações, mas que aqui vivia um momento muito especial… talvez seja a melhor participação de Jack Bruce num álbum do Cream (e isso fez enorme diferença, pois seu baixo carregado e pesado preenchia os espaços deixados pelos solos de Clapton ou pelo frenesi endoidecido de Baker).

O Cream pendurou as chuteiras no final dos anos 60 e deixaria um rastro de seguidores que não para de aparecer desde a década de 70 até hoje.

Seja Led Zeppelin ou Tame Impala, passando por Wolfmother a Queens of The Stone Age, todo mundo que usou riffs com melodia deve vossos cachês e almas ao poderoso trio britânico.


Grandmaster Flash & The Furious Five – The Message (1982)

Tudo que já podia ser dito sobre a importância desse disco, da música “The Message” e do Grandmaster Flash para o crescimento do Rap como gênero predominante nas décadas seguintes já tá mais do que batido e sacramentado.

Mas ouvindo o álbum, o que passa despercebido pela força e urgência de “The Message” é o lado “romântico” que compreende praticamente todo o lado B desse disco, começando em “Dreaming” e “You Are”.

Grandmaster deu a tacada de gênio que precisava para conseguir se estabelecer, afinal não dá pra ficar só atirando contra tudo, chamando para o lado social o tempo inteiro e contando as agruras da segregação social pesada que a rapaziada passava lá nos States.

Todo mundo precisa se distrair nesse meio tempo e “The Message” tem esse timing importante para atrair não só o público do movimento, mas para agregar novos ouvidos e levar a mensagem adiante.

O disco começa dando o truco: She’s Fresh, It’s Nasty e Scorpio são três porradas nunca ouvidas antes, com uso inteligente de samplers, vocoders e moduladores de ritmo que dão a urgência e a modernidade que garantiria ao álbum o póstulo de revolucionário e influente. Talvez o mais influente disco de Rap e Hip-hop da história.

Como não sou especialista, me quedo no campo da suposição.

De todo o modo, “The Message” está londe de ser datado e mantem sua relevância passados 30 anos de seu lançamento.


Roberto Silva – Descendo o Morro N.2 (1959)

Roberto é o príncipe do Samba.

Talvez o melhor representante da velha guarda.

Interprete a moda antiga, mas que sem ele, alguns dos maiores compositores desse período ficariam restritos a seus respectivos guetos.

E to falando de Wilson Baptista e Geraldo Pereira, entre outros.

Graças aos céus, os dois álbuns do cantor estão em catalogo e podemos nos desfrutar das belezas dos arranjos e da inconfundível e doce voz do mestre.

Verdadeiro dinossauro do samba, Roberto ainda está vivo e como um guardião do samba-canção, serve de inspiração a todos que o sucederam e ainda moldam o bom som brazuca.

Algumas das mais lindas canções de todos os tempos estão nesse álbum:

“Aos Pés da Cruz” e “Chora Cavaquinho” são dois exemplos claro do estilo claro, seu cantar cristalino e devocional.

Roberto foi talvez o interprete de samba mais classudo que nasceu por aqui.

Você já escutou?

Então caia sem preconceitos! No Youtube não tem nada desse album, então corre atras garotinho!

 


The Shangri-las – Myrmidons of Melodrama (1964-66)

4 garotas nova-iorquinas com atitude + um produtor inventivo e genial.

Depois restaram 3 garotas nova-iorquinas com atitude + o produtor inventivo e genial.

Essa é a fórmula do Shangri-las.

Fórmula que foi tentada a exaustão nos últimos 40 anos, mas que não bateram a química e a simbiose dessa girl group sessentista.

Pop até o osso, as garotas que nessa época não passavam dos 21 anos causaram alvoroço por conta do conteúdo pra frentex de suas musicas e muito pela abordagem musical avançada que o produtor George “Shadow” Morton impôs as meninas.

O que poderia ser uma tolice em mãos erradas, virou ouro puro. Ouro esse que faz das Shangri-las o meu grupo pop favorito “all time”.

Não dá pra resistir a canções descaradas e deliciosas como “Its Easier To Cry” ou “Give Him a Great Big Kiss” ou a polemica, mas que hoje passa como inocente “Leader of The Pack”.

Vai lá e saca as letras que as garotas entoavam pra você entender o que estou dizendo.

E nesse meio tempo ainda saíram obras avançadas e gravações repletas de efeitos inéditos na época como “Past, Present and Future” ou “Remember (Walkin In the Sand)”.

A produção de Morton foi crucial para aumentar a dramaticidade onde precisava e reforçar a comunicação direta entre meio, mensagem e alvo.

Canções inesquecíveis e senso pop que dificilmente seriam igualados no futuro.

 


The B-52’s – Party Mix / Mesopotamia (1981/1982)

A New Wave e o Punk foram os melhores momentos do pop rock mundial.

A quantidade de discos bons desse período dariam um blog de 1 ano só sobre eles.

Cada nova descoberta, mais essa certeza vem a tona.

E muito dessa certeza passa pelo The B-52’s.

Não consigo pensar em outra banda tão legal, divertida, articulada e que tenha feito tanta coisa boa.

Os primeiros trabalhos da banda são espetaculares e influenciaram desde Nirvana a CSS, ninguém passou incólume de sua inventividade.

Os dois mini-albuns foram feitos para se ouvirem juntos, o primeiro é mais pop, mais pra cima e tem algumas de suas músicas mais legais e verdadeiros símbolos da New Wave: “Private Idaho”, “Give Me Back My Man” e “Dance This Mess Around” são infalíveis.

Em “Mesopotamia” eles foram mais “cabeça”, no sentido em que o The B-52’s podem ser.

Contou com a produção de David Byrne, o que deu uma envernizada e sofisticada que seria até desnecessária, tirando um pouco do senso de humor da banda, mas colocando em outro nível, experimentando com sons mais eletrônicos e estruturas mais ricas.

Enfim, duas pedradas para se ouvir de pé, pulando e mexendo os braços como um helicóptero.

The B-52’s é a banda mais divertida do planeta.


Assisão – Raizes Nordestinas (1999)

O “cangaceiro Romantico” é assim que Luiz Gonzaga se referia a Assisão.

O motivo?

Ele nasceu em Serra Talhada (Pernambuco), mesma terra gerou o ilustríssimo e temido Lampião.

Sacanagem pura.

50 anos se passaram dedicados ao forró.

As gravações dessa coleção capturam o artista entre 1976 a 1983, e mostram a evolução do ritmo que deixou de ser o forró de raiz que o Rei do Baião fez, para incorporar algumas modernices como teclado, guitarra com wah-wah (é!) e cadencias que nao se acha em discos de forró com tanta frequência.

Ótimo forró pra tocar em estabelecimentos “risca-faca” espalhados pelo Brasil afora.

Tentando achar alguma coisa sobre o artista hoje, o que encontro é um figura bizarro, loiro, de cavanhaque e que ainda se apresenta em festas juninas Nordeste afora com certa atividade e frequência.

A coletânea é divertida e traz ótimos exemplos do forró sacana que se fez lá pra riba e que não chegou por aqui, nos nossos ouvidinhos limpinhos pelos cotonetes esterilizados dos pseudo forrós de Sescs da vida.

Como no iutube não tem nada do Assisão, clica no link abaixo para voce pelo menos ouvir um tiquinho do home.

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The Fall – Hex Enduction Hour (1982)

A banda mais sui generis do rock inglês.

A mais prolixa também.

De admirada a odiada de acordo com os ventos de cada momento.

O The Fall é um dos melhores antídotos contra a bundamolice da cena atual. Sempre que um Keane ou um Foster The People cruzar seu caminho, prenda a respiração, conte até 10 e coloque um disco do The Fall pra tocar… causa alivio imediato.

Não dá pra negar que o The Fall produziu um dos mais vastos e inacreditáveis repertórios do rock independente da história do universo, e não respeitar essa história é no mínimo ignorância.

É tão difícil escolher um disco dos caras, principalmente quando se tem pelo menos meia dúzia de álbuns espetaculares.

Hoje o meu favorito é o Hex…

Há alguns meses o Dragnet circulou em altíssima rotação no tocador de CDS aqui de casa assim como Grotesque voltou a circular mais intensamente, mas os dois são mais manjados então vou pular.

Hex carrega em si o DNA da banda ou mais precisamente de seu líder e mentor, o esquentadinho e pouco amigável Mark E. Smith. Vocais grunhidos, resmungados e indecifráveis na maior parte do tempo vem acompanhados de guitarras cruas e rasgadas que vão costurando riffs desordenados, logo estes que virariam uma marca e influenciaria um monte de gente do rock independente dali em diante.

Mas a melhor coisa do The Fall e não só desse disco em especial, foi a escolha dos timbres para gravar os instrumentos, principalmente as baterias. Graças a Deus eles não optaram pela estética vigente na época, que foi responsável por demolir da eternidade quase 80% das músicas gravadas entre 1982 e 1987.

To falando daquelas baterias com timbre de folha de papel almaço, sabe?

Em Hex, essa obscesão por sons poderosos levou Mark a gravar o som de duas baterias simultâneas, cujo resultado é um peso mais salutar a sonoridade cínica do The Fall.

Rock sujo, barulhento e esquisito. Como todo rock independente deveria ser, pena que esse não seja mais o objetivo dos atuais músicos independentes ingleses.


Booker T. & The M.Gs – Mclemore Avenue (1970)

Sempre achei o Abbey Road o disco de “menininha” dos Beatles.

Curioso que a maioria das mulheres fãs dos Beatles, acham o Abbey Road o melhor do Fab Four.

Nada de mais, é só uma constatação.

Mas que honra para os Beatles verem em menos de um ano após o Abbey Road, uma homenagem dessas?

Foi exatamente isso que o Booker T fez.

Junto aos seus imbatíveis MGs, eles recriaram o famoso disco da faixa de pedestres nos moldes soul music de ser, integralmente.

O resultado?

Nada tem a ver com Beatles e pouco tem a ver com Booker T.

Ficou um hibrido de rock inglês com som de Memphis, meio oportunista talvez, mas a coragem dos caras em se propor a fazer esse álbum vale qualquer coisa.

E que banda.

Steve Cropper, braço direito na guitarra, Donald Duck Dunn no baixo (homenageado do dia, mais um RIP triste da música este ano) e Al Jackson Jr. Nas baquetas.

Invertendo a ordem original das faixas, Mclemore é uma tremenda homenagem ao Fab Four e uma das mais originais também.

Ninguém nunca soube ao certo se os Beatles gostaram desse disco, ele passou de maneira estranha por critica e publico. Todo mundo ficou com um pé atrás e ressabiado, afinal porque o Booker T. Regravou esse álbum?

No fundo, por pura admiração pessoal do músico em relação aos garotos de Liverpool.

Ouça aqui e tire suas conclusões.

Eu gosto e muito.

Ficou mais macho.

See ya.


Crosby, Stills, Nash & Young – Déja Vu (1970)

Em homenagem tardia ao grupo que passou por aqui na semana passada (ou o que sobrou dele), puxo da cartola esse álbum espetacular.

Deja Vu, talvez seja o melhor exemplo da sonoridade multifacetada e repleta de possibilidades que o CSNY tentou exprimir em seu tempo de existência (entre idas, vindas, idas e vindas), foram mais de 40 anos de colaborações constantes entre os 4, que viraram trio e em alguns momentos virou dupla.

O melhor do folk, country rock e pop acústico reunidos em um álbum refinado, especial e repleto de vocais doces, afinados e inspirados por um enorme senso de cooperação e competição entre seus membros. Característica latente de alguns álbuns que tinham artistas de nível superior compondo junto, tocando junto e fazendo álbuns juntos.

Aconteceu no Buffalo Springfield, no Byrds, nos Beatles, no Flying Burrito Brothers, no 13th Floor Elevators e por ai vai.

O nível das músicas nunca esteve tão alto.

David Crosby trouxe a energética “Almost Cut My Hair”, enquanto Stills veio com a enigmática e suspensa “8.4+20” e Neil Young que recém entrara ao grupo trazia “Country Girl” grandiosa, ambiciosa e repleta de altos e baixos, talvez seja uma das melhores composições de Young fora de sua carreira solo.

O disco ainda tem música de Joni Mitchell e participações de Jerry Garcia (Grateful Dead) e John Sebastian (The Lovin Spoonful). Tá bom?

A beleza é necessária e é isso que Deja Vu nos traz. Ambição em prol de algo maior, melhor e mais bonito. Sem duvida, um dos melhores discos da história do rock norteamericano.


Ramsey Lewis – Sun Goddess (1974)

Jazz-funk. Delicia das delicias.

Por esse moedor, alguns caíram e se deram bem: Donald Byrd com “Street Lady” ou Eumir Deodato com “Bad Donato”, mas daqueles que caíram nessa, o melhor disparado foi Ramsey.

Pegando temas alheios como “Living for The City” de Stevie Wonder ou “Hot Dawgit” de Maurice White, alternando com composições próprias, o pianista e compositor Ramsey Lewis ganhou uma longevidade e sobrevida inesperadas e salutares.

Desde os anos 50, trilhou um jazz com pegada mais R&B mas nunca teve reconhecimento comercial, o que contrastava com seu reconhecimento perante a classe musical e entendidos que o tiveram sempre em altíssima conta.

Teve seu auge nessa obra prima do groove e da sutileza com a produção incansável e obstinada de Teo Macero, além da companhia pra lá de especial de Philip Bailey, Maurice e Vendin White na cozinha… só pra dar a pista esse trio foi a cozinha do Earth, Wind & Fire caso não tenha associado nomes a pessoas.

Caraca, tem como dar errado? Lógico que não!

Música lasciva, dançante, fina, sofisticada e de altíssima octanagem grooveada impossível de ser reproduzida por músicos brancos. A superioridade da cor se demonstra nesse tipo de expressão artística, em que você, assim como eu, branquelos sem swingue somos humilhados pela destreza desses senhores instrumentistas.

Sem competição.

Contra Kool & The Gang, Earth Wind And Fire, The JBS ou as bandas que acompanhavam o Fela Kuti não tem pra ninguém. É goleada!

Sun Goddess tem cozinha e sessão de metais generosas, mas não fominhas, o que dá espaço de sobra para que Ramsey desfile sua classe nas teclas brancas e pretas nos seus pianos elétricos e tradicionais e sintetizadores com a maestria de quem sabe tudo e se deixa acompanhar por esses monstros do ritmo.

E todo mundo ganha.

Discasso imortal, assim como o Sol dourado que ilustra a capa.